Uma antiga
história que um dia me contaram diz que dentro de cada um de nós existe um lobo
bom e um lobo mau lutando para dominar o nosso ser. Porém, é preciso que
alimentemos um dos dois lobos, aquele que for mais alimentado vencerá o duelo e
tomará conta do nosso ser. Apesar de parecer algo desesperador por estarmos
sempre correndo o risco de alimentarmos o lobo errado, é isso que nos mantém
vivos e ativos; é esse constante conflito interno que nos faz questionar e
buscar coisas novas, porque esses lobos tem fome de novidade, de conhecimento,
de pensamento e de ideias.
Acontece que às
vezes um terceiro fator aparece nesse duelo, deixa de ser apenas o lobo bom e o
lobo mau, a solidão que nos cerca. Esse terceiro elemento, pouco falado, pouco
discutido, às vezes, costuma estarem ao redor do duelo entre os dois lobos e
não notamos isso. Ocorre que na vida estamos expostos a diversos ambientes e
alguns deles nos distraem tanto com outros sentimentos que nos esquecemos de
alimentar os lobos. É nesse momento que a escuridão da solidão se fortalece e
cobre como uma névoa o campo de batalha entre os dois lobos.
Imagine uma
guerra sendo travada em um campo de batalha totalmente escuro, difícil de
imaginar? Agora imagine que você tem que alimentar os dois exércitos na
escuridão, mais difícil ainda? É dessa forma que a solidão nos controla, cria
uma névoa entre os dois lobos e não sabemos qual estamos alimentado, acaba que
muitas vezes não estamos alimentando nenhum dos dois lobos e eles começam a
morrer sem poder lutar.
A ausência desse
combate intenso traz danos drásticos para a nossa vida, porque deixamos de
absorver aquela energia gerada pela luta entre as duas entidades que disputam o
nosso controle. Passamos a nos enfraquecer, porque quando um dos lobos tenta
lutar, acaba se ferindo ou nos ferindo, então começamos a morrer.
Não quero dizer
que estamos parando de respirar e que nosso coração está parando, estou
querendo dizer que deixamos de sonhar e isso vai nos matando internamente. A
névoa que impede a luta começa nos cegar e perdemos a noção de quem está ao
nosso lado e de quais são nossos sonhos, vamos atraindo tristeza, ódio e rancor
para dentro do nosso simples e frágil corpo humano.
Porém, dentro do
nosso frágil corpo ainda existe uma esperança. Uma flor que timidamente vai
brotando no meio do campo de batalha entre os lobos. Quem plantou essa flor?
Nós mesmos... os nossos sonhos, por mais danificados que estejam deixam essa
semente. E às vezes nem só nós mesmos que plantamos essa flor, não conseguimos enxergar,
mas ao nosso redor sempre tem aquelas pessoas, que por mais frágeis que sejam,
por mais imperfeitas que sejam, tentam plantar essa flor, e, por incrível que
pareça, lutam para manter essa simples flor. É claro que não conseguimos
enxergar isso, a solidão já nos cegou, porém aquelas pessoas que ajudaram a
plantar a plantinha continua regando-a. Pouco importa para elas a dor que vão
sofrer ao tentar fazer isso, pouco importa para elas as patadas que irão
receber da solidão alheia, pouco importa... o que importa é o que elas
acreditam, porque acreditam que são capazes de manter viva essa luz dentro do
outro.
Você não vai
enxergar essa flor agora, mas acredite em mim, ela está lá. Digo isso, me
expondo ao erro, porque sei que existem pessoas lutando para que essa ideia
seja verdadeira. Talvez não seja verdadeira, mas por que não deixar essa pessoa
tentar? Afinal, estamos cobertos pela tristeza, pela fraqueza, deixemos que o
outro tente nos reerguer. Sei que essa outra pessoa também tem suas lutas
internas, mas talvez ela tenha um motivo especial para também querer lutar por
outra pessoa, talvez tudo possa ser resumido em uma única palavra... AMOR!