No dia 04 de março, um sábado,
pela manhã a Polícia Militar ocupa um espaço na Barra do Ceará (morro de
Santiago) com a proposta de pacificar a região. “A medida faz parte da operação
Ocupação – Marco Zero, deflagrada pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa
Social (SSPDS), e está inserida nas ações do programa Pacto por um Ceará Pacífico.
” (Jornal O Povo).
Foi montado uma tenda, colocado
bandeira e definido um plano de ações ostensivas para a região. Tudo para
garantir a ocupação da PM. “Segundo [André] Costa [secretário de segurança
pública], a escolha da Barra do Ceará tem um simbolismo, já que uma das teorias
históricas diz ter sido lá onde Fortaleza nasceu, o chamado “marco zero”. ” (Jornal O Povo).
Dia 05 de março, um domingo, pela
tarde eu estou no ônibus 051 – Grande Circular voltando de um almoço bem
agradável e animado dentro do ônibus para chegar em casa e fazer um brownie
vegano. Tudo certo até uma ação policial parar o ônibus. Um policial já chega
gritando e mandando quem pulou a catraca descer (ninguém tinha pulado). Como
ninguém se pronunciou começaram a escolher algumas pessoas para descer, até
chega outro agente e diz para os homens descerem. Olha para algumas mulheres e
escolhe algumas para descer também.
Desço do ônibus e vou para o
canto tranquilamente até um policial chegar e gritar para eu colocar a mão na
cabeça. Fico lá esperando ser revistado. Policial chega gritando no ouvido de
todo mundo para olhar pra frente e eis que chega minha hora de ser revistado.
Com toda brutalidade
desnecessária sou revistado e o tempo todo tendo que escutar palavras que
incomodavam bastante. “Já disse pra abrir as pernas” e com dois chutes as
pernas ficam mais abertas e sem equilíbrio fico torto. Depois da revista solto
minhas mãos e antes de baixa-las já escuto “eu disse para baixar?! Todo mundo
com mão na cabeça!”.
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Imagem: Google Maps |
Enquanto toda aquela
agressividade se repetia com as outras pessoas e com quem passava de moto ou bicicleta
fiquei olhando o Rio Ceará. Em meu momento de contemplação lembro-me que
naquela mesma região começou a colonização do Ceará. O Capitão-mor Pero Coelho constrói
na região o Fortim de São Tiago. Depois outro militar, Martim Soares Moreno, constrói
outro forte no mesmo local que tinha sido o de São Tiago, o Fortim de São
Sebastião. Durante esse período de ocupações militares na colonização, fortes
foram bastante utilizados para garantir as ocupações.
Esses da região da Barra do Ceará
tiveram dificuldades, porque tiveram que enfrentar a “agressividade” de
indígenas. Eu prefiro dizer que foi a revolta do povo que realmente pertencia
aquele local. Essa parte da história sempre me chamou a atenção, porque os
grupos indígenas conseguiram derrubar os fortes e vencer esses militares. Esse
foi meu momento de contemplação.
A contemplação acaba quando a PM
manda o ônibus ir embora e a gente ficar, então um senhor praticamente implora
para voltar ao ônibus e nesse momento consigo retornar ao veículo. Em uma
última olhada para a região começo a notar que mais de 400 anos depois a
história parece se repetir. Mesmas estratégias, praticamente as mesmas
intenções, os mesmos discursos... quase irônico.
Logo em seguida alguém coloca
para tocar no celular algumas músicas do Racionais, parecia a trilha sonora
perfeita para o momento.
Lucas