“FORTALEZA — Era noite do último
domingo quando eu vi pela primeira vez o menino Neymar (chamemos ele assim
porque é esse o nome de seu jogador de futebol predileto). De férias na escola,
o garoto, de 8 anos, tem passado boa parte de seus dias durante a Copa do Mundo
vendendo balas com a mãe — ainda jovem, mas que parece ter mais do que os 24
anos que tem —, e com a irmã, de 11 anos. A calçada onde costumam estar fica em
frente a um hotel na Avenida Beira Mar, a mais famosa da orla de Fortaleza,
onde já se hospedaram seleções como o México e Costa do Marfim. É a realidade
da cidade passando bem perto de turistas, jogadores, mas que parece ser
invisível a olhos desatentos.
De frente para o hotel das
seleções, funciona uma lanchonete movimentada, de uma famosa rede. Neymar se
aproxima e entra com sua caixinha de balas. O segurança o levanta pelo pescoço,
quase como se o tivesse estrangulando. E diz:
— Já é a terceira vez que você
entra aqui e eu falei que não é mais para entrar!
A cena do brutamontes levantando
a criança pelo pescoço me chama a atenção. Neymar não chora, mas fica com os
olhos vermelhos, cheios de lágrimas, e, como um menino de 8 anos que é, corre
para a mãe. Revoltada, ela mostra a marca no pescoço do garoto, primeiro para o
próprio segurança, depois para três policiais militares parados, na escolta de
um ônibus de uma delegação. Um deles diz:
Terminada
a primeira fase da Copa do Mundo e com muitas surpresas dentre elas podemos mencionar a viagem de volta antecipada de algumas grandes seleções, a Costa
Rica passando para outra fase, a mordida do Suarez (acho que nem é tão
surpresa) e as poucas notícias, pelo menos que eu tenha visto, sobre os
possíveis elefantes brancos, afinal Cuiabá e Manaus já não receberão mais jogos
da Copa.
Vamos
tentar conversar um pouco sobre esse assunto que é certeza gerar um pouco de
confusão. Desde a decisão de construir dois grandes estádios nessas duas
cidades para receber os jogos do evento já se tinham diversas especulações
sobre a possibilidade dos mesmos virarem elefantes brancos, porém o principal
argumento utilizado é de que os locais estão sendo construído com espaços
multiusos para não depender apenas de futebol.
Como alguns leitores já estão acostumados, aqui no blog costumamos fazer algumas indicações que auxiliam no conhecimento sobre o tema em debate e permite que cada um possa se aprofundar melhor no assunto. Nesse mês que estamos falando sobre a Copa do Mundo não poderia ser diferente e não poderia ter indicação melhor do que um livro de grande qualidade sobre o assunto.
O livro Uma História das Copas do Mundo do prof. Aírton de Farias e com ilustração do Daniel Brandão, publicado pela editora Armazém da Cultura, traz uma leitura que vai além das quatro linhas de um gramado de futebol. Através do livro é possível compreendermos melhor o surgimento do futebol e da Copa do Mundo e todo o contexto socioeconômico, político e cultural que cerca o evento.
Não é um livro somente para os fascinados pelo esporte, porque ele consegue juntar em suas palavras futebol, política, sociedade e, principalmente, muita história, então, antes de julgarmos o livro pela capa (que por sinal tem uma bela capa), temos que entender que é um livro de história, porém com outra abordagem, com outra perspectiva, mas nem por isso tem sua qualidade reduzida.
Para que você possa compreender melhor o que estou falando, vou recomendar esse link logo abaixo onde você pode fazer um cadastro rápido para receber uma versão em PDF do primeiro capítulo do livro e ainda passa a concorrer ao sorteio do livro.
Depois de ter dado uma olhada no primeiro capítulo, creio que tenha feito isso ou que já já vai fazer, vou recomendar esse outro link, logo abaixo, com uma promoção imperdível. A editora está dando um desconto na aquisição dos dois volumes do livro, então é uma oportunidade que todos podem aproveitar.
Nesses últimos dias vi pela internet dois vídeos que me chamaram bastante atenção. Um é a propaganda da Nike que vem passando constantemente durante os intervalos dos jogos da Copa do Mundo e o outro é uma música que foi enviada para o blog pelo próprio compositor.
Nike: arrisque tudo
Nesse vídeo, além de toda a propaganda da Nike, a empresa levanta um questionamento interessante: até onde é interessante o uso da tecnologia no futebol?
É fato que graças aos grandes recursos tecnológicos de hoje os jogadores podem melhorar cada vez mais suas habilidades técnicas em campo e muitas vezes, principalmente os torcedores, questionam a "beleza" das jogadas, porque ele torna-se exageradamente técnico e aos poucos perde-se o que alguns chamam de "futebol arte". Partindo desse debate a Nike tenta mostrar e/ou defender a interação entre o uso da tecnologia e da arte futebolística, afinal apenas os jogadores humanos do vídeo é que possuem seus produtos e dando uma ênfase, meio que indireta, neles mostra as habilidades artísticas nas jogadas.
Vai Brasil, Vamos lá - Fernando Motolese
O segundo vídeo é uma composição que mostra em sua letra e vídeo um pouco do que tentei argumentar no primeiro texto sobre a Copa do Mundo, de que torcer para a seleção não me impede de manifestar e fazer questionamentos críticos sobre todo o contexto do mega evento.
Se pararmos para notar não falamos que estamos torcendo pela seleção, na maioria das vezes, falamos que estamos torcendo pelo Brasil e cantamos até o hino com grande emoção associando aquela letra a seleção brasileira, porém o "torcer pelo Brasil" já é um chamado para se debater o antes, o durante e o após o evento esportivo. Se estamos torcendo mesmo para o Brasil ganhar, vamos torcer para a nação ganhar: dentro e fora de campo.
"A bola não rola do outro lado da
avenida do Castelão, palco do segundo jogo do Brasil na Copa, nesta terça-feira,
diante do México. A gorduchinha quica entre pedras e estilhaços de tijolos, em
trecho desnivelado do terreno improvisado como quadra da Escola Estadual
Deputado Paulino Rocha.
– O racha aqui rachar o pé –
sintetiza Herlon Chagas, estudante de 17 anos, ao citar o termo correspondente
à pelada, disputada com os colegas entre as aulas em uma superfície com
materiais cortantes.
A "quadra" da escola (Foto: Caio Carrieri)
A inexistência de espaço próprio
para as aulas de educação física é só um dos problemas enfrentados pelos 812
alunos da instituição de ensino, cujo portão de entrada fica de frente para o
estádio reformado para o Mundial com R$ 518 milhões do Governo do Ceará.
– O ar condicionado pega fogo nas
salas, porque o sistema elétrico é muito antigo. A iluminação da sala é tão
ruim que dá vontade de dormir. As luzes queimam enquanto escrevemos –queixa-se
Francisca Carneiro, companheira de Herlon no último ano do ensino médio.
Insatisfeitos com a estrutura sucateada
do local de estudo, sem refeitório e com salas de aula degradadas, os alunos se
mobilizaram e pintaram os muros do colégio no último dia 7 com protestos contra
o governador Cid Gomes (Pros), no cargo desde 2006 e reeleito em 2010.
– Vieram quatro viaturas do Cotam
(Comando Tático Motorizado) com fuzis gigantes para falar com os alunos.
Impressionante! – relata Révia Nepomuceno, integrante do movimento e que sonha
ser jornalista.
A Secretaria de Educação do Ceará
(Seduc) agiu rápido e, para evitar exposição das mazelas para os turistas e
para a imprensa na Copa, apagou com tinta branca as mensagens de reivindicação,
na última sexta, véspera de Uruguai 1x3 Costa Rica.
– Já estou tentando mobilizar
meus amigos para pintarmos o muro de novo até o jogo do Brasil – responde
Herlon, que não se interessou pelos jogos do Mundial porque não tem condições
de comprar o ingresso e não quer “dar dinheiro para a Fifa”.
A grana também é curta para a
diretora Juraciara Soares, que não quis se pronunciar, providenciar merenda
para os estudantes. Com 812 cadastrados, a verba para o lanche é repassada pelo
Governo Federal – R$ 40 mil anuais, o que, em 200 dias letivos, representa R$
0,24 por aluno."
Medo... se eu pudesse resumir
tudo que passei hoje em uma palavra, essa seria a palavra escolhida. Creio que
não tenha outra palavra que possa definir a sensação de ver aquele batalhão
avançando.
Dia 17 de junho de 2014 – Brasil x México – Copa do Mundo em Fortaleza
Manifestação
marcada para essa data e mais uma vez levando para o debate muitos pontos da
manifestação passada e muitos outros, dentre eles a demarcação de terras indígenas
e a presença de algumas famílias que foram retiradas por conta das obras da
Copa do Mundo.
Cheguei
e a concentração já estava lá. Praticamente logo após de descer do ônibus tive
que ser revistado por um policial do GATE ou era da Cotam, não lembro direito,
mas até aí tudo tranquilo. Reuni-me com alguns conhecidos e perguntei como
estava a situação, depois fiquei andando pela concentração para ver a situação.
Não
deu para andar muito, porque logo a frente estava o bloqueio policial. E que
bloqueio era aquele... um número muito grande de policiais e ao fundo o
caminhão que disparava jatos d’água para dispersar manifestações.
As
palavras de ordem não paravam e fiquei muito feliz ao rever algumas pessoas que
não via há um tempo. Alguns das comunidades ao redor queriam avançar sobre os
policiais, viam naquele momento a chance de uma “vingança” ou algo do tipo, vou
explicar melhor.
Muitos
ali já viram de perto a forte repressão das ações policiais em suas comunidades
e lá essas ações são, em grande maioria, bem violentas. Já contra os
manifestantes eles usavam balas de borracha, o que são balas de borracha
próximas ao que eles já vivem todo dia? Dessa vez eles estavam em uma posição “favorável”,
mas juntaram-se aos grupos da manifestação de forma pacífica.
Decidimos
ir para a BR 116, afinal não tínhamos como caminhar com aquele bloqueio
policial. Na ida para a avenida alguns grupos se separaram e a policia começou
a avançar também e junto com eles o caminhão. Aquele caminhão ficará marcado na
minha mente, com toda certeza ele foi a estratégia mais utilizada para causar
medo nos manifestantes.
Para
onde a gente olhava tinha policial, então todos começaram a ser orientados para
manter a calma. Ao nosso lado apareceu um ônibus da FIFA que muito se parecia
com o da seleção e a sensação que eu tinha era de que aquilo era provocativo,
como se estivessem passando ele ali por algum motivo. Vendo os vídeos mais
tarde notei que o ônibus parou por um tempo e nessa fração de segundos ele
começou a ser apedrejado por um grupo que tinha se revoltado. Era tudo que a
policia queria.
Rapidamente
as bombas foram jogadas no grupo e a policia agiu. Corremos para o outro lado
da avenida enquanto o caminhão acelerava. Do outro lado vi o grupo que tinha
jogado as pedras sendo parado, então pensamos em continuar a manifestação ali
mesmo fechando a avenida, mas quando olhamos para o lado vimos a policia se
voltando para a gente e atirando. Não tínhamos mais o que fazer, apenas
dispersar.
Toda
a dispersão durou cinco minutos. A ação policial, que foi bastante violenta e
desnecessária, dispersou por volta de 300 pessoas em cinco minutos. Eu vi muita
coisa ficando no chão e esses objetos estavam carregados de ideologias e
mensagens, vi pessoas assustadas, pessoas revoltadas, pessoas chorando.
Os
300 não puderam com o grande contingente policial e isso me lembra a Batalha das Termópilas, então posso
dizer que isso não é o fim e que o movimento conseguiu, apesar de tudo,
transmitir sua mensagem e a luta deve continuar.
(Peço desculpas a todos caso eu tenha deixado alguma parte do texto confuso, porque tenho receio que não tenha esclarecido bem aquela parte que falo sobre as revoltas nas comunidades, possivelmente minhas ideias ficaram confusas nessa parte e estou aberto para melhorar todos os meus textos e os futuros textos. Aos participantes do movimento, parabéns pelo ato e obrigado a todos que me acolheram.)
E
mais um dia interessante da Copa do Mundo para se comentar, estou falando do
dia 14 de junho de 2014, e de um jogo em especial.
Fonte: Globo Esporte
Para
começar vamos falar aqui de Fortaleza onde aconteceu o jogo entre Uruguai e
Costa Rica. O Uruguai veio para o campo para fazer valer sua superioridade e
começar uma campanha rumo ao título, porque para eles seria interessante ganhar
novamente aqui no Brasil, entretanto aconteceu algo que ninguém esperava. A
seleção com pouca representatividade no futebol mundial, Costa Rica, até onde tenho
conhecimento, reconhecendo seu adversário, mas valorizando sua vontade
conseguiu ganhar do Uruguai.
Não
só ganhou, mas calou todos os torcedores uruguaios metendo 3x1. Acredito que os
torcedores costa riquenhos devem está sorrindo até agora, porque mostraram que mesmo
sendo uma seleção menor são capazes de fazer grandes “estragos”.
Mas
por que estou falando sobre isso? Parece até que estou fugindo da ideia do
blog, mas é muito pelo contrário, porque fora do estádio, pouco antes de
começar o jogo e durante o jogo um pequeno grupo, se comparado aos do ano
passado, conseguiu surpreender o grande contingente policial que nos esperava...
sim, me incluo, porque eu estava lá.
Primeiramente
tenho que dar algumas explicações para todos que acompanham o blog. Durante o
período da Copa do Mundo a estrutura que todos estão acostumados a ver estará, tecnicamente,
desfeita, porque o contexto do evento não me permite planejar de forma precisa
como organizar a linha de pensamento das postagens. Não estou dizendo que vou
fazer um trabalho aleatório, mas que vou eleva-lo para um contexto maior e que
a ordem dos acontecimentos é que irá conduzir a linha de pensamento.
Então...
a Copa começou. Não só vai ter Copa como está tendo e podem se preparar para
ver algumas pessoas utilizando esse discurso contra as pessoas que se
manifestam, porém esse é um discurso muito fraco, porque está acontecendo a
Copa e estar acompanhando o evento não impede que a pessoa construa uma opinião
reflexiva sobre tudo e também se manifeste.
Foto: Deivyson Teixeira / O POVO
As
manifestações vão além da Copa do Mundo. Diversos grupos sociais estão se
articulando nesse exato momento para levar suas ideias para as ruas e daí você pode
ter certeza que encontrará movimento pedindo melhorias na educação, saúde,
segurança, valorização maior da cultura e maior preservação ambiental. Nesse
último ponto é válido ressaltar que quando o Brasil foi escolhido para ser sede,
no discurso falaram muito em respeito ao meio ambiente, o que de fato não
ocorreu.
Entendemos
meio ambiente através da visão sistêmica, por isso até as famílias que foram
retiradas das suas residências, retiradas com violência vale lembrar, fazem
parte do debate ambiental. Isso sem falar que todo o movimento que os jogos do
evento irão gerar trarão grandes desgastes para o nosso meio ambiente.
Meus caros
leitores e amigos, estamos próximo ao início da Copa do Mundo de Futebol aqui
no Brasil e todos sabem que esse evento modificou a rotina e a dinâmica de
muitas cidades. Escolas, Universidades e o Comércio tiveram que se adaptar ao
calendário do evento e não seria diferente desse blog.
A Copa também vai
modificar um pouco da estrutura do blog durante esse mês que estará ocorrendo o
evento. Teremos um único tema: a copa do mundo. Iremos falar sobre esse evento
durante todo o seu período de duração, mas não se preocupem que não vou fugir
do estilo do blog. Só peço que nos acompanhem com mais intensidade durante a
copa, porque teremos muitas surpresas nas postagens.
Ah... e eu não
poderia esquecer de avisa-los sobre um sorteio que está ocorrendo lá no
Facebook, estamos sorteando um livro com 1.700 pensamentos. Cliquem aqui para
conhecer um pouco mais sobre o sorteio.
Um
livro que é leitura obrigatória para aqueles que gostam muito de futebol e
aqueles que têm interesse em se aprofundar na história da cidade de Fortaleza,
digo isso porque o livro do prof. Airton eleva o debate sobre futebol.
Além
de ser muito bem escrito, a leitura desse livro proporciona expandir a nossa
visão sobre esse esporte e sobre todo o seu contexto nacional e regional, já
que estamos falando da história do Ceará. Não é um livro apenas de futebol... é
um livro de história, de sociologia.
No dia 2 de junho de 1914, as cores preta e branca invadiram
memória e paixão do torcedor cearense para nunca mais deixá-las. Nascia o Ceará
Sporting Club. Hoje, o Vovô completa um século de glórias, superações, títulos,
tempos bons e outros nem tanto. É o centenário de agremiação que conheceu o
sucesso e a crise ao longo desse percurso. Mas aproveitou tanto as altas quanto
as baixas para tornar-se forte. Em entrevista ao O POVO, pesquisadores
da trajetória alvinegra contam o que fez do clube de Porangabuçu uma potência
longeva no futebol. Onde mora - e se alimenta - a força do "time do
povo".
Como tantos outros times surgidos na época, o Ceará foi fundado por pessoas de
boa condição econômica (Luís Esteves Júnior e Pedro Freire tiveram a ideia
inicial para fundação do Rio Branco, primeiro nome do clube). Contudo, a equipe
inovou ao acolher camadas populares. Assim, iniciou a conquista de parte grande
e fiel de sua torcida.
"Fato é que o Ceará foi um dos primeiros times que permitiram que
jogadores pobres e negros atuassem pelo clube. Por isso, causou uma empatia
muito grande com o povo e acabou se tornando a equipe mais popular",
explica o historiador Airton de Farias, autor do livro Ceará - Uma história de
paixão e glória.
Não só de adesão das massas se faz um grande clube. É preciso alimentar o
torcedor com estímulos. E o Ceará também cresceu com o principal deles: a
rivalidade. "Ceará e Fortaleza não são rivais porque são os maiores clubes
cearenses, são os maiores clubes porque são rivais", destaca o pesquisador
Pedro Mapurunga. "A partir de 1922, foi iniciado o Clássico-Rei. E a
vontade de um ser maior do que o outro foi que perpetuou ambos. A paixão do
torcedor pelo time foi aumentando pela vontade de ser o maior",
acrescenta.
REINVENÇÃO
Todo time de longa história tem momentos ruins e bons. O Ceará passou por
crises profundas. Porém, com criatividade e planejamento, saiu delas mais
forte.
Nenhuma má fase foi maior que a enfrentada entre 1943 e 1945. "Os clubes,
na época, tiveram de se profissionalizar. Os jogadores precisavam ganhar para
receber. O Ceará não. Foi muito difícil bancar os jogadores todos os
meses", conta Mapurunga. Em 1945, o time nem sequer participou do Campeonato
Cearense. "Viveu um período muito dramático. Não chegou a ter risco de
acabar, mas o baque foi muito forte", diz Airton de Farias.
A saída imediata foi reformular seu cotidiano e estrutura. O Vovô fundou a sede
na avenida João Pessoa. Lugar onde conseguiu mais apoio de sócios para se
reestruturar. "Isso foi fundamental para criar identidade. Ele é o clube
de Porangabuçu. Gerou empatia com a localidade e com a torcida", analisou
Farias.
Após a reinvenção, o Ceará se estabeleceu entre as principais agremiações do
Nordeste, em parte em função da gestão histórica de José Elias Bachá.
MOMENTOS DE GLÓRIA
O Ceará é o time que detém maior número de títulos no Campeonato Cearense.
Porém, dois momentos nos 100 anos para além do âmbito local se destacaram, levando
o clube a outros patamares de relevância e reconhecimento. "Os momentos de
auge foram 1969, que foi quando o Ceará ganhou o título Norte-Nordeste, e
também o ano de 2009, com o acesso ao Brasileirão", diz Mapurunga.
Com dívidas trabalhistas sanadas e administração equilibrada, hoje, para os
pesquisadores consultados, o Alvinegro vive seu melhor momento da história. E
comemora o centenário líder da Série B e com esperança real de fechar o ano com
novo acesso à Série A do Brasileirão. Força suficiente para acreditar em outra
virada de século. Com o peso da camisa acima de qualquer turbulência.
POR QUE VOVÔ
O apelido Vovô surgiu quando foi aberto o campo de treinos do Ceará. Com a
novidade, a molecada das bases do América-CE frequentava o local para brincar.
O presidente do Ceará na época, Meton de Alencar Pinto, os chamava de
"meus netinhos". E eles, com carinho recíproco, passaram a chamá-lo
de "Vovô".
TIME DO POVÃO
Indo de encontro ao elitismo da época, o Ceará foi o time cearense que abriu as
portas para jogadores pobres e negros. Na época de crise, início dos anos 1940,
muitos jogadores alvinegros eram "maltrapilhos". Jogavam por amor ou
tinham outras profissões. Alguns até viviam de favor na casa de torcedores,
próximo à sede do clube, na Avenida João Pessoa.
1915
Imagem: Jornal O Povo
O time do ano em que o Rio Branco passou a se chamar Ceará
1947
Após pior período de sua história, quando se organizou e construiu Porangabuçu
1963
Time tricampeão, na década que terminou com a maior conquista até hoje
2010
Na primeira divisão, disputa contra os principais clubes do resto do País
2014
A conquista do tetra no ano do centenário: sem dar espaço para o maior rival
Três artes, se
assim posso chamar, são as representações máximas de um time, digo isso porque
são fundamentais para dar uma identidade para algum clube. Estou falando do
escudo, do mascote e do hino do clube.
No caso do Ceará
vamos focar no mascote no hino.
MASCOTE:
Mascote Oficial
O próprio Vovô é
o mascote do time mais antigo do estado, fazendo referência direta ao apelido
que o time ganhou. Aí vai um pouco de história sobre a origem do apelido:
“Um depoimento de Aníbal Câmara Bonfim,
um dos fundadores do América Futebol Club, conta a real história. Segundo o
dirigente americano, os meninos alvi-rubros costumavam treinar no campo do
Ceará. Nesta época, o presidente do Ceará, Meton de Alencar Pinto, de forma
alegre, começou a tratá-los de “meus netinhos”. Ao encontrar com os garotos do
América no campo alvinegro, Meton saía sempre com a mesma brincadeira: “Vamos,
meus netinhos, vamos aprender bem para açoitar o Fortaleza. Mas respeitem o
Vovô aqui”.
Dessa forma, o apelido ficou
eternizado e quando alguém fala no Vovô, não há nesse país quem goste de
futebol, que não associe ao Ceará Sporting Club.” (FONTE)
É desenhado como
um velhinho feliz para representar, segundo diz no site, a alegria de torcer
pelo alvinegro, mas o que quero falar é sobre as formas como ele é utilizado
pela torcida. Lembrando que o mascote é um símbolo do clube, logo a torcida
quer mostrar toda a sua força através dos seus símbolos e é comum encontrarmos
imagens como essa:
Dessa forma os
torcedores tentam “impor” a força e superioridade do seu clube em relação aos
outros times. Chega a ser ridícula a “brutalização” que colocam no vovô, mas
muitas vezes torna-se mais comum do que o símbolo original.
HINO:
O hino do Ceará,
composto por José Jatahy, exalta o passado do clube, a bandeira e coloca o time
em uma posição de lutador tentando, talvez, mostrar que alcança a “glória”
depois de muita luta.
E nesse contexto
de luta sempre evocando a importância da sua torcida, que foi essencial para
fortalecer a ideia de profissionalização do futebol cearense, porque foi
justamente quando o clube se abriu para jogadores negros e do subúrbio que a
torcida alvinegra se expandiu, tornando-se a maior do estado até hoje.
“... numa terça-feira, 2 de
junho daquele distante 1914, dois jovens caminhavam descontraidamente pelo
Centro de Fortaleza. Eram Luís Esteves Júnior e Pedro Freire a conversar sobre
assuntos vários, destacadamente política internacional. Lá para as tantas, após
Pedro Freire chutar uma pedrinha no meio do caminho, o assunto passou a girar
em torno do football. Surgiu, então a ideia de formar um team para a prática
daquela saudável, divertida e moderna modalidade esportiva.” (Trecho
retirado do livro Ceará – Uma história de
paixão e glória do prof. Aírton de Farias, publicado pelo Armazém da
Cultura)
Assim nascia o
Rio Branco, time que no próximo ano passaria a se chamar Ceará, e nascia a
alegria, emoção, raiva e gritos de toda uma nação. Surgiu ainda em um contexto
onde o esporte era praticado, em sua maioria, pelos “bons moços” da sociedade,
mas o Vovô seria um dos primeiros times a abraçar a profissionalização do
esporte e permitir a participação de negros e pessoas de classe sociais
menores, se assim posso dizer.
Graças a isso
rapidamente o Ceará caiu nas graças do povão e tornou-se a maior torcida do
estado, título que carrega até hoje. Desculpem-me torcedores do Fortaleza, mas
é um fato incontestável!
E é essa torcida
que o Vovô de Porangabussu faz ir ao delírio toda vida que está próximo de um
jogo complicado. Alguns chamam, pejorativamente, de torcedores modinha, mas vou
lhes dar outra explicação. O Ceará possui muitos torcedores, mas por seus
motivos nem todos podem acompanhar todos os jogos do time, isso é normal, todos
possuem compromissos e outras prioridades, mas tudo muda perto de algum jogo ou
situação decisiva, é algo que não tem como explicar direito, está o sangue.
Imagem retirada da internet
Um chamado...
talvez possamos definir essa sensação como um chamado, uma convocação. Toda a
torcida alvinegra é convocada para ajudar o clube naquela decisão. A nação
alvinegra se reuni e prepara-se para defender o Vozão que mostra resposta
diante da paixão de sua torcida.
Ainda me lembro,
com lágrimas nos olhos, de um dos maiores torcedores que esse time já possuiu,
o meu avô. Seu entusiasmo pelo clube tornou “torcer pelo Ceará” quase um
pré-requisito para a família Monte, logo ele que bem no início da sua vida não
acompanhava futebol, nem interesse tinha pelo esporte, mas o destino fez dele um
dos maiores torcedores alvinegros.
Ele não era um
daqueles torcedores que ia todos os jogos para o estádio, mas era aquele que
não largava o radinho do pé do ouvido e diminuía o volume toda vida que seu
neto curioso perguntava alguma coisa sobre o jogo, eu nem conseguia acompanhar
o ritmo da narração no rádio, mas entendia a expressão que ele fazia e que era
afirmada pela expressão que meu pai também vazia.
Talvez a mesma
expressão de muitos torcedores... expressões que iam desde alegria até
tristeza, mas que nos últimos anos só são boas expressões, em sua maioria.
Pode até parecer
que estou fugindo totalmente da ideia do blog, mas não, muito pelo contrário.
Vejam a influência que um time de futebol pode fazer em toda uma sociedade, as
influências desse clube dentro de uma família. É capaz de unir um grupo de
pessoas e fazer com que essas passem horas debatendo e até apostando nos
resultados dos jogos e muitas vezes esses debates se elavam. Engana-se quem pensa
que em um debate sobre futebol fica apenas no futebol, muitas vezes ao falar de
futebol temos que falar de política, economia, exercitamos nossa matemática,
porque pense na estatística que roda nossa cabeça para tentar prever o
resultado de um jogo.
E o Ceará causou
muitos debates, afinal em cem anos de história dá para se debater muita coisa.
São cem anos, o primeiro time cearense, o que tem mais títulos, o maior do
estado...
... que tal
conversarmos um pouco essa semana sobre toda essa história? Ah como eu queria
meu avô nesse momento para me ajudar nisso, mas não tem problema, tenho sua
história comigo.