terça-feira, 17 de junho de 2014

Uma Batalha das Termópilas em Fortaleza

Medo... se eu pudesse resumir tudo que passei hoje em uma palavra, essa seria a palavra escolhida. Creio que não tenha outra palavra que possa definir a sensação de ver aquele batalhão avançando.

Dia 17 de junho de 2014 – Brasil x México – Copa do Mundo em Fortaleza
Foto: Getty Images
                Manifestação marcada para essa data e mais uma vez levando para o debate muitos pontos da manifestação passada e muitos outros, dentre eles a demarcação de terras indígenas e a presença de algumas famílias que foram retiradas por conta das obras da Copa do Mundo.
                Cheguei e a concentração já estava lá. Praticamente logo após de descer do ônibus tive que ser revistado por um policial do GATE ou era da Cotam, não lembro direito, mas até aí tudo tranquilo. Reuni-me com alguns conhecidos e perguntei como estava a situação, depois fiquei andando pela concentração para ver a situação.

                Não deu para andar muito, porque logo a frente estava o bloqueio policial. E que bloqueio era aquele... um número muito grande de policiais e ao fundo o caminhão que disparava jatos d’água para dispersar manifestações.
                As palavras de ordem não paravam e fiquei muito feliz ao rever algumas pessoas que não via há um tempo. Alguns das comunidades ao redor queriam avançar sobre os policiais, viam naquele momento a chance de uma “vingança” ou algo do tipo, vou explicar melhor.
                Muitos ali já viram de perto a forte repressão das ações policiais em suas comunidades e lá essas ações são, em grande maioria, bem violentas. Já contra os manifestantes eles usavam balas de borracha, o que são balas de borracha próximas ao que eles já vivem todo dia? Dessa vez eles estavam em uma posição “favorável”, mas juntaram-se aos grupos da manifestação de forma pacífica.
                Decidimos ir para a BR 116, afinal não tínhamos como caminhar com aquele bloqueio policial. Na ida para a avenida alguns grupos se separaram e a policia começou a avançar também e junto com eles o caminhão. Aquele caminhão ficará marcado na minha mente, com toda certeza ele foi a estratégia mais utilizada para causar medo nos manifestantes.
                Para onde a gente olhava tinha policial, então todos começaram a ser orientados para manter a calma. Ao nosso lado apareceu um ônibus da FIFA que muito se parecia com o da seleção e a sensação que eu tinha era de que aquilo era provocativo, como se estivessem passando ele ali por algum motivo. Vendo os vídeos mais tarde notei que o ônibus parou por um tempo e nessa fração de segundos ele começou a ser apedrejado por um grupo que tinha se revoltado. Era tudo que a policia queria.
                Rapidamente as bombas foram jogadas no grupo e a policia agiu. Corremos para o outro lado da avenida enquanto o caminhão acelerava. Do outro lado vi o grupo que tinha jogado as pedras sendo parado, então pensamos em continuar a manifestação ali mesmo fechando a avenida, mas quando olhamos para o lado vimos a policia se voltando para a gente e atirando. Não tínhamos mais o que fazer, apenas dispersar.
                Toda a dispersão durou cinco minutos. A ação policial, que foi bastante violenta e desnecessária, dispersou por volta de 300 pessoas em cinco minutos. Eu vi muita coisa ficando no chão e esses objetos estavam carregados de ideologias e mensagens, vi pessoas assustadas, pessoas revoltadas, pessoas chorando.

                Os 300 não puderam com o grande contingente policial e isso me lembra a Batalha das Termópilas, então posso dizer que isso não é o fim e que o movimento conseguiu, apesar de tudo, transmitir sua mensagem e a luta deve continuar.

Foto: TV Jangadeiro / Abraão Ramos

(Peço desculpas a todos caso eu tenha deixado alguma parte do texto confuso, porque tenho receio que não tenha esclarecido bem aquela parte que falo sobre as revoltas nas comunidades, possivelmente minhas ideias ficaram confusas nessa parte e estou aberto para melhorar todos os meus textos e os futuros textos. Aos participantes do movimento, parabéns pelo ato e obrigado a todos que me acolheram.)




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