Medo... se eu pudesse resumir
tudo que passei hoje em uma palavra, essa seria a palavra escolhida. Creio que
não tenha outra palavra que possa definir a sensação de ver aquele batalhão
avançando.
Dia 17 de junho de 2014 – Brasil x México – Copa do Mundo em Fortaleza
![]() |
Foto: Getty Images |

Cheguei
e a concentração já estava lá. Praticamente logo após de descer do ônibus tive
que ser revistado por um policial do GATE ou era da Cotam, não lembro direito,
mas até aí tudo tranquilo. Reuni-me com alguns conhecidos e perguntei como
estava a situação, depois fiquei andando pela concentração para ver a situação.
Não
deu para andar muito, porque logo a frente estava o bloqueio policial. E que
bloqueio era aquele... um número muito grande de policiais e ao fundo o
caminhão que disparava jatos d’água para dispersar manifestações.
As
palavras de ordem não paravam e fiquei muito feliz ao rever algumas pessoas que
não via há um tempo. Alguns das comunidades ao redor queriam avançar sobre os
policiais, viam naquele momento a chance de uma “vingança” ou algo do tipo, vou
explicar melhor.
Muitos
ali já viram de perto a forte repressão das ações policiais em suas comunidades
e lá essas ações são, em grande maioria, bem violentas. Já contra os
manifestantes eles usavam balas de borracha, o que são balas de borracha
próximas ao que eles já vivem todo dia? Dessa vez eles estavam em uma posição “favorável”,
mas juntaram-se aos grupos da manifestação de forma pacífica.
Decidimos
ir para a BR 116, afinal não tínhamos como caminhar com aquele bloqueio
policial. Na ida para a avenida alguns grupos se separaram e a policia começou
a avançar também e junto com eles o caminhão. Aquele caminhão ficará marcado na
minha mente, com toda certeza ele foi a estratégia mais utilizada para causar
medo nos manifestantes.
Para
onde a gente olhava tinha policial, então todos começaram a ser orientados para
manter a calma. Ao nosso lado apareceu um ônibus da FIFA que muito se parecia
com o da seleção e a sensação que eu tinha era de que aquilo era provocativo,
como se estivessem passando ele ali por algum motivo. Vendo os vídeos mais
tarde notei que o ônibus parou por um tempo e nessa fração de segundos ele
começou a ser apedrejado por um grupo que tinha se revoltado. Era tudo que a
policia queria.
Rapidamente
as bombas foram jogadas no grupo e a policia agiu. Corremos para o outro lado
da avenida enquanto o caminhão acelerava. Do outro lado vi o grupo que tinha
jogado as pedras sendo parado, então pensamos em continuar a manifestação ali
mesmo fechando a avenida, mas quando olhamos para o lado vimos a policia se
voltando para a gente e atirando. Não tínhamos mais o que fazer, apenas
dispersar.
Toda
a dispersão durou cinco minutos. A ação policial, que foi bastante violenta e
desnecessária, dispersou por volta de 300 pessoas em cinco minutos. Eu vi muita
coisa ficando no chão e esses objetos estavam carregados de ideologias e
mensagens, vi pessoas assustadas, pessoas revoltadas, pessoas chorando.
Os
300 não puderam com o grande contingente policial e isso me lembra a Batalha das Termópilas, então posso
dizer que isso não é o fim e que o movimento conseguiu, apesar de tudo,
transmitir sua mensagem e a luta deve continuar.
![]() |
Foto: TV Jangadeiro / Abraão Ramos |
(Peço desculpas a todos caso eu tenha deixado alguma parte do texto confuso, porque tenho receio que não tenha esclarecido bem aquela parte que falo sobre as revoltas nas comunidades, possivelmente minhas ideias ficaram confusas nessa parte e estou aberto para melhorar todos os meus textos e os futuros textos. Aos participantes do movimento, parabéns pelo ato e obrigado a todos que me acolheram.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário