domingo, 20 de setembro de 2015

Sobre Sergipe: Aracaju e São Cristovão

O ente curioso
                Para vivermos qualquer experiência precisamos estar abertos para sermos modificados. Se chegamos em um local ou estamos prestes a vivenciar um determinado momento precisamos destravar nossas resistências para que aquela situação traga mudanças em nós e nós proporcionemos mudanças nas entidades envolvidas, se elas também estiverem abertas.

                Assim chegamos em Sergipe, de peito aberto, sem criar grandes expectativas, mas abertos para conhecer o local. Aracaju encanta logo na entrada com sua vegetação bem verde e brilhosa. Aquele verde bem vivo em torno da avenida de entrada.
                Como um ente curioso tento olhar além daquela vegetação e meu olhar direciona-se para a selva de pedra que viria a surgir. A primeira característica que chamou atenção foi a ciclovia. O trecho vermelho na avenida era bastante curioso, pois não ficava na pista, mas no meio do local separado. A cidade tinha aproveitado o canteiro central para construir o espaço para a pessoa que pedala. Não era o espaço para pedestres, era o do ciclista, porque o pedestre tinha sua calçada nas extremidades.
                Apesar de ser algo diferente de boa parte da cidade de Fortaleza, não crio tantas expectativas, porque, da pouca experiência que tenho, sei que no primeiro viaduto a ciclovia seria descontinuada, desconexa, mas foi aí que minha primeira falta de fé me traiu: o viaduto começou a surgir, mas a ciclovia não desapareceu. O instrumento de mobilidade não era tão inclinado, então permitia a continuação do espaço para bicicleta, mas dessa vez com uma proteção de grades. Detalhe: a pessoa que transita a pé continuava com seu espaço nas extremidades separado dos carros.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Um olhar: do Ceará à Sergipe

Fonte da Imagem
                Logo na manhã de quarta-feira saímos de Fortaleza – CE com o destino de São Cristovão – SE. Com a previsão de 14h de viagem sabia que iria ver muita coisa na estrada, não só pela duração, mas por eu conhecer quase ninguém que viajava comigo, então recolhido em minha poltrona fiquei esperando o que a estrada iria mostrar, contudo não imaginava que iria mostrar um texto.

                Passando por Aracati seguimos para sair do Estado do Ceará e ainda sobre o sol que assolava a estrada paramos para almoçar em Mossoró – RN. Deste local temos um ponto bastante interessante, quase todos os restaurantes da estrada são do Rio Grande do... Sul! Sim, restaurantes gaúchos em terra potiguar. E interações acontecem.
                Animação segue com o grupo por estradas que foram construídas para facilitar o comércio, desbravar os sertões, exaltar governos, sejam militares ou eleitos democraticamente, e diversos outros motivos que fogem dado meu pouco conhecimento. O que teriam ocorrido nessas vias?

domingo, 13 de setembro de 2015

Pixo (documentário)

Imagem: #ajudeosamir
Ao propor reflexões sobre a pichação obtive como resposta diversas reações inesperadas. Em grande maioria comentários falando que pichar é errado e a pichação é feia, contudo não entrei no debate entre certo e errado, bonito e feito. A Ética e a Estética são duas áreas que possuo pouco conhecimento, por isso que o máximo que fiz foi instigar a pensarmos sobre o assunto.

Contudo, por causa das reações, acabei me instigando a procurar mais sobre o assunto e nessa busca encontrei um documentário de 2009 dirigido por João Wainer e Roberto T. Oliveira. O filme aborda a pichação de São Paulo mostrando a rotina do pichador, seu raciocínio, suas influências, pensamento e a origem do estilo de pichação do Estado. 

Recomendo o documentário principalmente para aquelas pessoas que... gostam de conhecimento (esperava que eu fosse falar pessoas que são contra, não é?)



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Pichação é arte - João Wainer

João Wainer (Imagem: Uol)
Trabalho como repórter-fotográfico em São Paulo e passo o dia todo rodando pelas ruas dessa gigantesca cidade. O banco da frente do carro de reportagem é meu escritório. O barulho das buzinas dos motoboys, o cheiro de fumaça e os congestionamentos fazem parte da minha rotina.


Faz tempo que comecei a prestar atenção às pichações que dominam os muros da cidade. Conheci alguns pichadores e descobri que existe uma guerra silenciosa na noite paulistana. Milhares de jovens disputam os lugares mais altos para marcar seu nome ou o de seu grupo. Eles escrevem num alfabeto próprio, desenvolvido com linguagem e códigos específicos. Ganha a disputa quem pichar mais alto, no lugar com maior visibilidade.

A cada nova história que escutava eu me interessava mais pelo assunto. Passei a reparar nas letras, a tentar decifrar cada palavra e mensagem como se fosse um quebra-cabeça. Aos poucos, aquilo que parecia caótico começou a fazer sentido para mim. Percebi que aquilo não era tão feio como alardeavam. Na verdade, a suposta feiúra da pichação até combinava com a paisagem acinzentada de São Paulo. O estilo das letras, a forma, o jeito com que elas são escritas são lindos. Adoro ver no alto dos prédios aquelas pichações enormes, com letras enfumaçadas. Tento imaginar quem fez, como fez e o que passou pela cabeça dele enquanto fazia.

sábado, 12 de setembro de 2015

Pichação é crime. Grafitagem é arte - Eudes Quintino

Eudes Quintino (Imagem: Município de Mirandópolis)
Desde os primórdios, o homem se destacou em se expressar por meio de desenhos e escritos, nos rochedos e paredes das cavernas onde habitava. Muitos sítios arqueológicos preservados apontam que, desde a época da Pedra Lascada, os artistas pintavam animais, preferencialmente cavalos, mamutes, bisões e seres humanos, com destaque para as mulheres. Utilizavam-se de ferramentas feitas de ossos, pedra e marfim, que serviam tanto para os desenhos, como para a caça e a luta entre grupos inimigos.

Talvez resida aí uma das explicações da origem da pichação e da grafitagem, técnicas que realizam uma intervenção urbana visando expor a arte de rua (street art). A legislação brasileira que trata da aplicação de sanções penais e administrativas em decorrência de atividades lesivas ao meio ambiente (artigo 65 da Lei nº 9.605/ 1998), pune aquele que “pichar, grafitar ou, por outro meio, conspurcar edificação ou monumento urbano”. A pena é de três meses a um ano e aumenta de seis meses a um ano se o ato for praticado contra monumento ou coisa tombada em virtude de seu valor artístico, arqueológico ou histórico.

Tanto a pichação como o graffiti foram lançados na vala comum e considerados condutas penalmente reprováveis, pelo dano que causam ao ambiente, em razão da poluição visual. Ocorre que, lentamente, a própria avaliação estética proporcionou uma separação e uma nova definição para as duas modalidades. A pichação despe-se de qualquer referência artística e, inerente à sua vocação clandestina, invade as ruas com palavras hostis e símbolos agressivos de uma cultura de transgressão. A grafitagem, por sua vez, estruturada por grupos comprometidos com a arte, busca o espaço urbano para trabalhar com sua tinta spray e criar paisagens, gravuras e painéis harmônicos, extremamente coloridos. É muito frequente o pedestre parar e admirar a arte exposta na rua, sem falar do interesse interpretativo dos críticos especializados na modalidade, que já conseguiram entronizar a street art nos grandes museus. 

Pichações interessantes

*Imagens retiradas do Google Imagem, menos a primeira que foi enviada por comentário.

Essa foi uma das mais interessantes e que motivou esta postagem

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Uma pichação incomoda muita gente


Massa Crítica Fortaleza
O Povo

Olhe bem as duas imagens e responda: qual lhe incomoda?

                Se você respondeu a segunda, era o que esperava ter como resposta. Como pode uma praça tão bonita ser pichada por vândalos? Temos que parar com essas pichações, porque a cidade está ficando feia, não é? Será...?
                Vamos tentar entender algumas pichações: a parede está lá no seu canto parada (ainda bem) e chega alguém e a suja com alguma frase. Depois daquela pichação algumas pessoas começaram a olhar a parede e reprimir a atitude, mas se pararmos para pensar, em boa parte dos casos, a parede não tinha sido notada ainda, então aquela frase fez com que algumas pessoas começassem a notar o muro.
                Então a pichação já conseguiu fazer com que você direcionasse seu olhar para um local que, às vezes, não tem nada de tão relevante e não é percebido. "Mas a pichação tornou a parede feia! ", será? Não vou entrar no fato do belo aqui, porque isso é objeto de estudo da Estética na Filosofia, mas peço que reflita sobre o que chamou de feio e se pergunte se realmente achou feio ou aquilo lhe incomodou de alguma forma.
                As duas coisas podem acontecer mutuamente (achar feio e incomodar), mas supondo que em sua reflexão apareceu pelo menos o incômodo, podemos seguir o texto, porque o incômodo causado é algo bem interessante. Diversas pichações incomodam não pela pichação em si, mas pelo conteúdo, pela mensagem transmitida.
                Pichações onde encontramos mensagens políticas que vão de contra o consenso comum das pessoas transeuntes são as que mais incomodam, porque a mensagem já está ali na parede e, gostemos ou não, vamos olhar por um certo tempo aquelas palavras e se for o contrário daquilo que pensamos nos atingirá de alguma forma. Essa forma cabe a cada um de nós.
Página Pichadores da Filosofia (Facebook)
                Imagine uma pessoa que acredita que bandido bom é bandido morto, que é machista, homofóbica e “extremista” religiosa vendo pichações dizendo que machismo e homofobia matam, que temos que legalizar e descriminalizar as drogas, que de alguma forma as religiões cristãs possuem privilégios, que o sistema é violento e cai sobre o mais fraco... se essa pessoa não fizer uma reflexão, estiver estressada ou tendência a ficar com raiva, ficará com muito ódio, mesmo que não torne externo, porque aquilo a incomodou, mas não foi a pichação e sim sua mensagem.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Independência para quem?


                Há muito tempo atrás... (você nota que algo vai ser chato só pelo começo, mas não vai... eu acho) o que importa é que Pedin I, supostamente, chegou às margens do Rio Ipiranga em cima de um cavalo e resolveu cortar laços com Portugal.
                Hoje a data é comemorada com toda pompa que a data “merece” com desfiles das forças armadas. O que mais chama a atenção nesses desfiles é que podemos ver as pessoas que foram eleitas para o poder Executivo do Estado ou do Município, pois muitas dessas pessoas simplesmente somem com a mesma velocidade que o patriotismo de quem grita “Fora PT” aos domingos.
                Mas isso não vem ao caso agora. No mesmo dia que Dom Pedro gritou (volto é porra) e declarou o Brasil independente de Portugal, ele fez o Hino do Brasil que viria a ser o Hino da Independência onde existe diversas menções a liberdade e é uma pena que exista apenas na letra, porque...

... povo brasileiro, não posso dizer que podem olhar para a Pátria contentes com a liberdade, porque aqui ela ainda não raiou no horizonte para boa parte das pessoas. Sei que o medo de ficarmos servos das regras de outros países já passou, mas ainda existem grupos querendo que fiquemos calados de cabeça baixa e esses grupos estão no próprio país e sei que existem pessoas que dariam e estão dando suas vidas para termos a Pátria livre. Do que adiantou nossa mão poderosa contra os grilhões que nos forjava com deslealdade e astucia, se hoje zombam de nós? Zombam e querem usar nossos corpos como muralhas para se proteger. Parabéns para quem se o garbo varonil que resplandece na verdade é nosso suor? Brava gente brasileira, a saída é lutarmos para tornar a Pátria livre e espantar o temor servil.

                Nossa independência não pode vir comprada e nem vai. Vai ser com suor, sangue e muita luta, por isso, grupos que ainda estão colonizados aqui dentro, temos que nos unir e lutar... esse é o tempo de lutar.




Aborto na voz de Drauzio Varella e Pepe Mujica

Segue dois vídeos sobre o aborto. Em um fala o médico brasileiro Drauzio Varella e no outro o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica:




Recomendamos pular para 2m 55s:
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domingo, 6 de setembro de 2015

Abortando ideias

Estava andando por aí, meio perdido no tempo, quando avistei uma pessoa conhecida que não via há um certo tempo. Já até tinha esquecido que aquela pessoa tinha sido bem próxima um dia, então resolvi conversar um pouco para saber como andava a vida, como estavam as ideias e o que a pessoa tinha a dizer.

Aproximo-me e sou reconhecido de imediato. Esta pessoa estava um pouco estressada com algo que tinha lido em algum caderno político, então questionei:

­— O que aconteceu?
— Estava lendo aqui uma declaração que o Renato Roseno fez. — diz a pessoa.
— E o que ele falou de tão grave? — pergunto novamente.
— Ele é a favor do aborto! Um absurdo isso. Até admirava o que ele falava, mas falou uma merda agora.

Acabo assustando ao ouvir a pessoa dizer isso, então questiono:

— Mas onde está o problema?
— Como assim liberar o aborto é a medida mais correta? — responde-me perguntando.
— É uma situação complicada. Tente ver o problema por outros lados, ou melhor, de uma perspectiva mais ampla. — começo minha fala — Note que a questão do aborto está relacionada, também, com estrutura familiar onde muitas vezes a mulher não tem condições de criar a criança e diante de todo um conjunto de problemas resolve escolher essa alternativa.
— Não quer criar a criança, simples, entregue para a adoção... — fala com certa rispidez.
— Simples? Estamos falando de uma futura pessoa, de uma vida, nem sempre é tão simples. A adoção nem sempre é tão rápida. Se ela for adotada logo, tudo bem, mas se não for? Se cair em um abrigo que não têm tantas condições? Isso se for para um abrigo, porque essa criança pode ficar exposta a um conjunto de fatores que a “empurrem” para um destino não tão legal. Mas supondo que ela chegue em um abrigo, só que não seja adotada rapidamente. Você acha que as pessoas querem adotar crianças já crescidas? Geralmente procuram as mais novas e a coitada da criança, mesmo estando em um abrigo, crescerá solitária. Isso até poderia melhorar se não houvesse tanto preconceito com adoção feita por casais homossexuais.
— Então podemos simplesmente matar uma vida, porque a pessoa não tá mais afim de ter ela?
— Não é a questão de querer ter ou não. A pessoa só está diante de uma situação onde está sendo pressionada por todos os lados e não consegue achar outra saída e as vezes, dado o contexto, não há outra saída. Não é uma decisão fácil e o que você está propondo pode matar a criança jogando-a a sorte em algum contexto, que pode ser bem cruel.
— Eu ainda acredito que medidas públicas podem resolver o problema sem ter que liberar o aborto, como dar mais atenção as gestantes e fazer fiscalizações em lares de adoção...
— Acho que liberar não é a palavra certa, mas também acredito nas medidas públicas, porém feitas de outra forma. As pessoas que propõem a legalização do aborto também colocam no projeto todo um sistema de apoio psicológico a gestante para que ela consiga racionalizar a situação e ver se aquilo é o que realmente quer.
— Nós precisamos de medidas públicas voltadas para esse lado e que sejam urgentes, isso é necessário. — começa falando a pessoa — Agora veja por outro lado, as pessoas vão começar a praticar sexo sem segurança sabendo que se engravidar vão poder abortar...isso vai acabar gerando um grande número de pessoas com DSTs, aí teriam que pensar em como solucionar esse problema...nosso sistema de saúde é precário, teríamos capacidade para resolver esse grande número de casos de DSTs?
— Você precisa olhar esse assunto como um todo. Como já disse nos projetos procuram dar assistência psicológica antes de tomar a decisão, porque ninguém quer transformar o aborto em medida contraceptiva, até porque a gravidez já teria ocorrido. Também sabemos que em países que legalizariam o aborto, dando o acompanhamento necessário, a prática até caiu. Entenda, o aborto já acontece em nossa sociedade. A diferença é que muitas mulheres fazem isso em clínicas clandestinas colocando suas vidas em risco sem nenhuma segurança física ou psicológica e as que conseguem sobreviver são descriminadas quando chegam nos hospitais, pois temos uma cultura que criminaliza a mulher por quase tudo que ela faz. Sobre a ineficiência do nosso sistema de saúde: parte dele vem da falta de investimento e a outra parte vem da forma como as políticas de saúde são abordadas, ou melhor, as políticas públicas, pois a maioria é vista de forma isolada, porque não me venha dizer que tratar DST é algo somente de saúde, é educação, é tirar o tabu sobre o sexo, é conversar e explicar desde cedo como o mundo funciona.

E assim nossa conversa não durou muito depois da minha última fala. Nos despedimos e seguimos cada um para um lado. Ele pegou uma rua a esquerda e eu segui em frente. Sei que não o convenci de nada, mas que fui capaz de cutucar sua mente para pensar diferente sobre o assunto e daí construir um novo raciocínio.

E como tenho tanta certeza disso? Simples (agora sim o simples)... a pessoa em questão sou eu de três anos atrás que um dia falou tudo aquilo, mas um amigo cutucou-me em uma conversa e daí consegui começar a olhar a situação como um todo. Aqui só me dei a oportunidade de conversar comigo mesmo e mostrar para meu passado que tudo faz parte de um processo de constante mudança.

Não existe assunto que não se deva conversar, o problema mora em não debatermos os assuntos considerados polêmicos. Fazer isso, nesse caso, é aceitar que mulheres sejam consideradas pecadoras (seguindo uma vertente religiosa) ou criminosas por escolherem o aborto e, pior ainda, aceitar que muitas procurem clinicas clandestinas e coloquem sua saúde física e psicológica em risco. Em resumo, é aceitar um sistema que tenta esmagar a mulher.