![]() |
O ente curioso |
Para
vivermos qualquer experiência precisamos estar abertos para sermos modificados.
Se chegamos em um local ou estamos prestes a vivenciar um determinado momento
precisamos destravar nossas resistências para que aquela situação traga
mudanças em nós e nós proporcionemos mudanças nas entidades envolvidas, se
elas também estiverem abertas.
Assim
chegamos em Sergipe, de peito aberto, sem criar grandes expectativas, mas
abertos para conhecer o local. Aracaju encanta logo na entrada com sua
vegetação bem verde e brilhosa. Aquele verde bem vivo em torno da avenida de
entrada.
Como
um ente curioso tento olhar além daquela vegetação e meu olhar direciona-se
para a selva de pedra que viria a surgir. A primeira característica que chamou
atenção foi a ciclovia. O trecho vermelho na avenida era bastante curioso, pois
não ficava na pista, mas no meio do local separado. A cidade tinha aproveitado
o canteiro central para construir o espaço para a pessoa que pedala. Não era o
espaço para pedestres, era o do ciclista, porque o pedestre tinha sua calçada
nas extremidades.
Apesar
de ser algo diferente de boa parte da cidade de Fortaleza, não crio tantas
expectativas, porque, da pouca experiência que tenho, sei que no primeiro
viaduto a ciclovia seria descontinuada, desconexa, mas foi aí que minha
primeira falta de fé me traiu: o viaduto começou a surgir, mas a ciclovia não
desapareceu. O instrumento de mobilidade não era tão inclinado, então permitia
a continuação do espaço para bicicleta, mas dessa vez com uma proteção de
grades. Detalhe: a pessoa que transita a pé continuava com seu espaço nas
extremidades separado dos carros.
Essa
característica na cidade me encheu de expectativas para outras cidades, mas do
que adiantaria se mais lá na frente iria ficar desconectada? O ônibus que nos
levava seguiu até a orla de Aracaju e, para minha surpresa, a ciclovia não
acabava, apenas multiplicava e se adaptava.
Meu
destino não era a orla e sim a Universidade Federal de Sergipe em São Cristovão
(UFS). Depois da passada na orla peguamos a avenida com destino ao campus e basicamente é aquele tipo de
avenida que liga a capital à região metropolitana, então muito movimentada,
contudo isso não era empecilho para nada e a ciclovia continuava. Continuou,
sem desconexão, até a última extremidade do campus.
Vamos recapitular: uma ciclovia que liga a orla da cidade até a
Universidade em outra cidade, isso é incrível, fantástico!
Como
não deu para conhecer toda a cidade de Aracaju, não sei como é a presença da
ciclovia na cidade, mas, pelo menos, nesse espaço a cidade pode se orgulhar de
ter uma ciclovia incrível que permite mobilidade do ciclista.
![]() |
Intervenção na UFS |
E
o que falar das pichações? Consegui identificar dois tipos de pichações nos
espaços urbanos. O primeiro que fica bem evidente são as pichações com letras “quadradas”
no estilo de São Paulo onde cada pichador tenta deixar sua marca. É um tipo de
pichação que existe, mas não demonstrou ser tão forte nos espaços por onde
passei, contudo, o outro tipo de pichação chamava atenção: a pichação política.
Mensagens como “2,70 é roubo”, “O suor de sua testa
paga que festa?”, “Deveres somente com direitos”, “Temos o direito moral de
desobedecer leis injustas” e diversas outras mensagens, entre elas, bem forte,
as mensagens feministas e de luta de gênero. Dava vontade de sair olhando para
as paredes.
Como
vejo o belo nas interconexões entre as características, experiências, entidades
e saberes, não posso deixar de mencionar as interações que me foram
proporcionadas. Um grupo de pessoas que jogou meu plano para viagem por água a
baixo. Como não conhecia quase ninguém, me preparei para ficar sozinho, levei
coisas que me armavam para uma solidão, mas o grupo rapidamente interagiu e me
agregou. Já não estava sozinho, estava pertencendo a um grupo que interagia,
que não negava o outro, que compartilhava momentos e tinham um cuidado entre
si. Tive a oportunidade e felicidade de conviver com o grupo e isso foi
incrível. Detalhe: não posso deixar de agradecer em palavras a pessoa
maravilhosa que nos ajudou no local e que também interagiu conosco de uma forma
amigável, porque a sensação que se criava era uma amizade.
Tudo
que eu tinha levado para gerar e regerar uma suposta solidão de viagem não
passou de ocupação de espaço na mala, mas não gerou peso a mais, porque dentro
de mim havia uma ocupação que não é possível registrar em palavras, mas tornava
tudo mais leve.
![]() |
UFS no período noturno |
Depois
de notar tudo isso e muito mais falta apenas comentar a UFS. A instituição é
muito bonita, mas destaca-se por sua mobilidade. Todo o acesso é conectado
entre blocos, as calçadas não são altas e são niveladas, piso tátil por todo o
espaço, plantas dos blocos em braile, cestos e coleta seletiva e caminhão que
mantem os resíduos sólidos separados. Além da iluminação noturna que traz a
sensação de segurança.
No
último dia restou apenas defender a Educação Ambiental e voltarmos para a
cidade de Fortaleza, porque, por mais que toda cidade seja bonita, nada supera
sua terra natal, aquela que você já criou fortes laços. Só ao entrar no território
cearense a animação contagia.
Então,
dentro de um ônibus, o que digo é que vale a pena viver e experimentar as
oportunidades que a vida nos dá e, mesmo com dificuldades e imprevistos, é
gratificante passar por tudo com um grupo de pessoas amigas.
Coisa linda <3
ResponderExcluirVocês são incríveis :D
Excluir