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Imagem: João Paulo Brandão |
O que é ser negro? Até o dia de hoje, eu só sabia, só
sentia um lado, o marginal, o suburbano, o que sempre leva a culpa, o que quase
sempre é parado pra levar um baculejo,
sempre o suspeito. Quando a situação é ruim, a coisa é preta, o neguim de cabelo ruim, piadas, risos e
deboches. Mas o que esperar de um jovem negro da periferia onde a criminalidade
anda solta, onde sempre, sempre o dia é tentado a usar drogas ou pegar numa
arma. E pra que? Ganhar moral, status, se sentir seguro. E a escola onde a
tensão bate na sala de aula todo o dia. Quando a professora entra sentimos a
tensão no rosto dela.
Nunca vou me esquecer de uma conversa:
“- Hoje é dia de prova e eu não sei de nada”
“- tu trousse a pesca? ”
“- eu trousse algo melhor, vamos tirar 10”
E ele me mostrou uma arma
“- vamos falar com a professora”
E eu, covarde que sou, saí correndo.
Afinal que perspectiva eu poderia ter? Bem, terminei o
fundamental, o médio e para o que um dia me falaram que “Universidade, Diego?
Não é coisa pra ti não pra preto e pobre”. Consegui entrar com muitas
dificuldades, entrei, pensei que iria ser diferente, mas lá vou eu começar de
novo.
Hoje sou menos suspeito, menos marginal, ganhei até um
pouco de respeito, mas ainda convivo com as mesmas piadas, risos e deboches.
Meu objetivo? Voltar a escola da mesma periferia onde eu
moro e mostrar para os estudantes, que a universidade é lugar todos e todas,
não importa sua cor, religião, opção sexual.
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