Olhe bem as duas imagens e
responda: qual lhe incomoda?
Se
você respondeu a segunda, era o que esperava ter como resposta. Como pode uma
praça tão bonita ser pichada por vândalos? Temos que parar com essas pichações,
porque a cidade está ficando feia, não é? Será...?
Vamos
tentar entender algumas pichações: a parede está lá no seu canto parada (ainda
bem) e chega alguém e a suja com alguma frase. Depois daquela pichação algumas
pessoas começaram a olhar a parede e reprimir a atitude, mas se pararmos para
pensar, em boa parte dos casos, a parede não tinha sido notada ainda, então
aquela frase fez com que algumas pessoas começassem a notar o muro.
Então
a pichação já conseguiu fazer com que você direcionasse seu olhar para um local
que, às vezes, não tem nada de tão relevante e não é percebido. "Mas a pichação
tornou a parede feia! ", será? Não vou entrar no fato do belo aqui, porque isso
é objeto de estudo da Estética na Filosofia, mas peço que reflita sobre o que
chamou de feio e se pergunte se realmente achou feio ou aquilo lhe incomodou de
alguma forma.
As
duas coisas podem acontecer mutuamente (achar feio e incomodar), mas supondo
que em sua reflexão apareceu pelo menos o incômodo, podemos seguir o texto,
porque o incômodo causado é algo bem interessante. Diversas pichações incomodam
não pela pichação em si, mas pelo conteúdo, pela mensagem transmitida.
Pichações
onde encontramos mensagens políticas que vão de contra o consenso comum das
pessoas transeuntes são as que mais incomodam, porque a mensagem já está ali na
parede e, gostemos ou não, vamos olhar por um certo tempo aquelas palavras e se
for o contrário daquilo que pensamos nos atingirá de alguma forma. Essa forma
cabe a cada um de nós.
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Página Pichadores da Filosofia (Facebook) |
Imagine
uma pessoa que acredita que bandido bom é bandido morto, que é machista,
homofóbica e “extremista” religiosa vendo pichações dizendo que machismo e
homofobia matam, que temos que legalizar e descriminalizar as drogas, que de
alguma forma as religiões cristãs possuem privilégios, que o sistema é violento
e cai sobre o mais fraco... se essa pessoa não fizer uma reflexão, estiver
estressada ou tendência a ficar com raiva, ficará com muito ódio, mesmo que não
torne externo, porque aquilo a incomodou, mas não foi a pichação e sim sua
mensagem.
Recapitulando:
a pichação faz você ver o que não tinha visto e causou um incômodo que,
querendo ou não, te levou a pensar. Olha o efeito devastador de uma simples
pichação. Aquela mensagem que estava ali "sujando" a parede causou uma reação
que estimulou quem viu a pensar e, mesmo que a reação imediata da pessoa seja
apagar a pichação com uma tinta, a pichação já lhe moveu. Em outras palavras,
você não gostou da mensagem, então quer tirar dali, mas se alguém perguntar o
porquê você vai explicar e vai acabar se posicionando sobre aquela mensagem, ou
seja, saiu de sua zona de conforto ao encarar aquilo, pensou, opinou, se
posicionou e agiu. Ah como uma pichação é ruim... perturba o ser por completo.
Entendamos
um ponto: quando a pichação foi feita a parede não foi destruída, porque a
parede continuou sendo parede. A tinta modifica sua estrutura, resignifica, mas
não destrói, porque aquele conjunto de tijolos permaneceu em pé, mesmo sabendo
que a parede, em si, não é apenas tijolo, mas sua forma, suas cores, suas
mensagens.
Agora
para explicar as imagens do início: a foto mostra a Praça Portugal na cidade de
Fortaleza. O local estava prestes a receber uma intervenção da prefeitura para
retirada; a ideia do prefeito seria dividi-la em quatro e retira-la da parte
central. Notem que essas mudanças estruturais iriam sim destruir a praça,
porque estaríamos partindo a estrutura em quatro e o resultado final não seria
mais a Praça Portugal.
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Massa Crítica Fortaleza |
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