sábado, 22 de fevereiro de 2014

Fortaleza - Terra de qual luz?

                                Diante da inclinação tecnicamente perfeita da decolagem de um avião, entre muitos olhares simples de espanto com o barulho das turbinas, outros maravilhados com a engenharia e a ciência que foram capazes de colocar um objeto tão pesado entre as nuvens, outros nem ligavam para nenhum desses detalhes, porque já tinham perdido o encanto nos olhos ou preferiam fingir que tinham perdido o encanto para mostrar que já são “adultos”, eu observava a cidade de Fortaleza.
                Quanto mais alto a aeronave ficava, mais a cidade ia diminuindo, ficando mais distante e foi nesse momento, quando ela ficava pequena, que notei a grandiosidade de Fortaleza.


                Enquanto os carros iam dominando as principais avenidas e o comércio terminava de acordar alguém os observava de cima, não era Deus, muito menos Zeus, mas era um fortalezense que tinha ganhado a oportunidade de ver a cidade por cima e que desejava que todos tivessem a mesma oportunidade. Lembro-me bem do que disse esse fortalezense e essas foram suas palavras:

                “Vejam essa floresta de concreto que domina a cidade. Quem diria que um dia chegaríamos a tal progresso. Progresso esse que faz as próprias leis e coloca seus influentes no poder e assim passam por cima do bem estar de todos que compõe a nossa cidade e sufocam as poucas áreas verdes que ainda tentam sobreviver.
                Olhem esse verde que todos admiram daqui de cima. É pouco, mas é belo. Notem que ele é aquecido por todas as vidas que estão diretamente ligadas com ele e essas vidas aquecem o desejo de sobrevivência, mas a tribo que defende esse tipo de progresso e que conseguiu cativar alguns da nossa população vai comendo as beiradas dessa área verde, porque já queimaram a língua uma vez e sabem que sopa quente a gente come é pelas beiradas.
                E não é só o verde que emociona de cima. Ainda é possível ver o branco das dunas andantes que, assim como o verde, tenta sobreviver e que estão ligadas de alguma forma, porque fazem parte de um mesmo ecossistema. Não só essas duas regiões fazem parte do mesmo ecossistema. Nós também fazemos parte desse ecossistema, assim como o concreto e assim como o grupo que defende esse tipo de progresso agressivo. Estamos sendo agressivos com nossa própria vida e tudo isso porque aos poucos vamos perdendo a capacidade de enxergar que estamos todos ligados.
                Enquanto não enxergarmos isso a nossa cidade vai sendo tomada pela desarmonia, vai perdendo a luz que nos motiva a defender a nossa região. Esqueceram que somos a Terra da Luz? Não é da luz amarela dos postes que falo, mas da luz que nos harmoniza, que nos faz ver que somos pertencentes a esse município. Já não conhecemos nem nossa história e agora vamos apagar a luz do futuro?
Cadê os fortalezenses?
                Nós somos a mistura de diversos povos e com toda certeza o legado indígena corre em nossas veias. Onde estão os descendentes dos tabebas, dos pitaguarys, dos tapuais e dos potiguaras que lutaram bravamente contra portugueses e holandeses na tentativa de defenderem sua região? Onde estão os descendentes dos portugueses e holandeses que defenderam seus fortes e também contribuíram para o surgimento da cidade as margens do rio Pajeú? Onde estão os descendentes daqueles que iniciaram um grande movimento cultural chamado Padaria Espiritual?
Onde está o fortalezense que existe dentro de você?”

Esse era o fortalezense que esbraveja dentro de mim. Onde está o seu?

Dica de blog: FARAÓ DO CEARÁ


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