domingo, 12 de janeiro de 2014

Agonia no Carnaubal - Nelo

Socorro! Socorro! Socorro!
Gritava a velha carnaubeira.
Socorro!
Parei para olhar.
É minha velha e querida carnaubeira!
- O que tens?
- O que posso fazer por ti?
- Quem és tu? Pergunta-me aflita.
- Sou aquele menino que passeava de jumento
nos carnaubais lá pras bandas do Bonsucesso,
em Russas, aqui no Ceará, nas terras do senhor
Antônio Luiz... marido da dona Joaninha...
irmã da tia Nenem, lembras de mim?
- Há! Acho que sim, já faz tanto tempo!
- Que bom que tu ouviste minha suplica.
- Pode meu lamento escutar?
- Quem sabe possas conseguir ajuda para este velho carnaubal.
- Claro! Diga-me o que te aflige.
- Pois é meu menino, bem sabes o quanto
demos de nós, demos nossos próprios olhos
para que os filhos dos nossos senhores vissem
a vida de uma forma melhor, muitos hoje são
até doutores, formados as custas de nosso
sangue e o suor do matuto "cortador e
apanhador de olho". No entanto, muitos
desses doutores, passam ai na estrada, em seus
carrões e não conseguem ver, sentir nossa
agonia, nem sequer olhar pra gente, ainda
que nos esforcemos acenando cheias de
esperança, só queríamos um olhar ou
pelo menos... vivas ficar.
- Pois é meu menino que bom que me ouviste,
quem sabe tua humilde ajuda possa um
carnaubal salvar.
- Socorre-nos!
Exclama a velha carnaubeira...
Agonizante...
A lamentar.

Nelo
Ceará. Julho. 2011.

(Texto retirado da Revista Trilhaturistica, Ano - II - nº 3.)

Dica de blog: Perspectivas


Nenhum comentário:

Postar um comentário