Essa semana bateu uma bad, uma
bad quase do tamanho dos meus 25 de vida. Ora, o assassinato covarde de Marielle,
vereadora, mulher negra de luta, não foi um por acaso.
2018 começa com várias notícias
violentas, mortes, agressões e tudo que você puder imaginar. Hoje eu vejo bem
as coisas que eu posto nas redes sociais, até mesmo a blusa que eu ando, porque
se for uma blusa vermelha isso pode acarretar uma agressão no meio da rua por
achar que sou socialista (e sou mesmo) ou essa da mesma cor pode significar um
símbolo de uma facção criminosa.
Esses dias eu estava pensando, o
que eu to fazendo? E na boa, eu não sei o que to fazendo. As lutas, os
movimentos, as reivindicações, eu não sei pra onde vai dar, porque além de você
se preocupar com isso tudo, você tem que ficar ligado nas balas perdidas que
não são perdidas, porque essas sempre tem um alvo, basta olhar para você mesmo,
pode ser eu, ou você.
Nesse sentido de sentimento de
impotência você ou eu, ficamos receosos até para tomar uma cerveja na praça, ir
na praia e tomar um bronze, ir no forró e dançar, ficamos receosos até para dar
para se posicionar politicamente.
Com um cenário de golpe desde
2016, não sabemos do futuro, a Educação que tem que “transformar, emocionar e
revolucionar “ (H.G.L) não sei se estamos fazendo essas três coisas com essa
reforma do ensino médio e retiradas de disciplinas que fazem professor (a) e
estudante refletir, perceber e intervir na realidade em que cada um está
inserido.
Além de todas essas bads, e
extremas bads ainda temos que nos preocupar com a nossa própria situação de
vida. Temos que estudar (alguns (as)) trabalhar (todos (as)) e aguentar as
pressões que sempre acontecem seja da família, dos amigos (as), da vida, e até
de você mesmo.
É triste você ver “pessoas”
comemorando a morte de Marielle, ver comentários machistas e racistas nas redes
anti-sociais. “Bem feito”, “comunista tem que morrer mesmo”, “ uma neguinha a
menos “.
Eu no ônibus vejo 3 caras e 1
mulher, todos subiram em pontos diferentes, a mulher sem grana pulou a
passagem, os outros 3 homens pularam também. Quase todos vendendo seus bombons
e salgadinhos trabalhadores, esse que sobrou não tinha nada e sentou no meu
lado e falou mais ou menos assim:
“Jovem eu não sou ladrão, sei que
todos que estão aqui tem medo de mim. Ora! Nego ta sujo descalço, querendo só
ir pra casa, meus pais tão lá em cima, mal posso esperar pra ver eles.”
Fiquei sem palavras sem reação.
Parece que o tempo parou e me veio a mente tudo que já aconteceu comigo, coisas
boas, ruins, sorrisos e choros. Depois de uns segundos falei:
“Cara a gente pode ter nossas
realidades distintas, e tudo. Mas uma coisa tem que nos unir. Ta vendo essas
outra pessoa que também pularam a catraca e nós dois temos em comum? Nós quatro
pulamos a catraca e somos negros.”
E lhe dei um abraço.
Acho que esse foi um dos abraços
mais sinceros que eu já recebi nessa vida. Eu para retribuir o abraço dei minha
merenda simples: um pão para ambos ficarem de boas. Ele pegou e falou.
“Não cara, fique alguém tem que
sobreviver e lutar pela gente”
E ele desceu.
Não sei se vou ver esse mano
novamente, não sei como ele vai dormir, nem sei se ele está Vivo nesse momento.
Mas foi impressionante como eu precisava dessa conversa. Por um momento um
breve momento me sentir vivo.
Em épocas de crise, e fim de
trajetórias e mudanças de planos algo sempre vem pra mostrar que você tá e tem
que lutar por aquilo que você acredita.
Hasta lá victoria siempre!
Diego Costa Lima
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Foto: Bruna Freitas |
Caros Diego e Lucas...satisfação em saber da iniciativa...da ideia...da provocação...da audácia...da coragem de tentar produzir reflexões...produzir conhecimentos...Sr. Diego a cada dia que passa estais escrevendo com mais propriedade e com poética que me agrada. Analisar, sentir e compreender o cotidiano é coisa rara atualmente. Grato por lembrar deste velho aqui...E nostálgico ver o Tiago emolduranDo o texto...mesmo que de costas. H.G.L.
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