quarta-feira, 29 de julho de 2015

Antiproibicionismo - Rafael Valente

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            Quando chegamos a algum lugar para falar sobre drogas, seja em rodas de amigos, nas aulas da escola ou da faculdade, em palestras e seminários, geralmente as pessoas se posicionam a favor ou contra de forma superficial, como se fosse algo proibido de falar, e na verdade, as vezes parece ser isso mesmo, quando começamos a falar geralmente já chamamos a atenção das pessoas ao redor, se for entre nossa família então, principalmente com parentes mais velhos, mal se toca no assunto.
            Mas, na verdade, esse assunto não pode mais ser ignorado, antes até podia se esconder mais facilmente, mas hoje talvez por o consumo no Brasil ter aumentado, como apresenta o relatório do Escritório das Nações Unidas, assim como também por sua posição geográfica, o Brasil hoje é um das principais rotas do tráfico internacional, como aponta o mesmo relatório, como também as marchas da maconha, que após muito tempo sendo proibidas e repreendidas, hoje não dá mais para esconder esse tema.
            Assim como também na internet, existem “memes” que falam sobre drogas, páginas no Facebook, diversos canais do Youtube, grupos de Whatsapp, etc. Muito dos autores e das autoras que tem visões contraria a proibição das drogas se dizem ser antiproibicionista, mas o que significa ser antiproibicionista? E o porquê de serem contra a proibição das drogas, embora cotidianamente vemos na TV todos os malefícios que elas trazem pra sociedade?

            O termo antiproibicionista é colocado geralmente pra pessoas que defendem a legalização de uma ou mais drogas, sendo a maconha a mais defendida por figuras publicas (atores e atriz, artistas, políticos, médicos) e os mais diversos profissionais em diversas áreas do conhecimento científico e jurídico. Como, por exemplo, Planet Hemp, Fernando Henrique Cardoso, Wagner Moura, Dr. Drauzio Varella, Renato Cinco, entre diversos outros exemplos que já se posicionaram publicamente a favor da legalização da maconha.
Mas é importante lembrar que não é por uma pessoa ser a favor da legalização da maconha, isso necessariamente quer dizer que ela seja usuária, ou seja, a pessoa pode ser antiproibicionista e mesmo assim não utilizar nenhum tipo de droga, assim como uma pessoa pode defender a legalidade do consumo de bebidas alcoólicas e não beber, lembrando que o álcool e o cigarro também são drogas, só que lícita, assim gerando uma regulamentação em cima do consumo, enquanto as demais são ilícitas, ou seja, não possui uma regulamentação e sim a proibição do consumo.
O antiproibicionismo, não defende apenas o direito de utilizar ou não as drogas como uma liberdade individual de cidadão que é livre para fazer suas escolhas e responsável por suas consequências. O antiproibicionismo vem para questionar o porquê desde 1971, quando o então presidente dos EUA, Nixon, declara uma guerra global às drogas, até os dias atuais 2015, ou seja, 44 anos combatendo o tráfico aplicando bilhões de dólares e não surgiu efeito, muito pelo contrário, o tráfico cada vez fica mais forte e mais armado, o número de usuários aumenta, o número de pessoas mortas pelo tráfico, seja no confronto entre traficantes x policiais, ou traficantes x traficantes aumenta e ao mesmo tempo aumenta o número de pessoas presas por tráfico. E por fim, também aumenta a sensação de insegurança das nossas famílias.
Sem contar os retrocessos medicinais que existem por a maconha especificamente não ser legalizada no Brasil. Vimos recentemente nas mídias (TVs e Internet) a batalha de uma família para poder conseguir o remédio de um derivado de maconha, sem contar as pesquisas que são publicadas internacionalmente falando sobre as potencialidades medicinais, nutricionais e industrial (no caso do cânhamo, fibra derivada da maconha de alta resistência) que essa planta tem.
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O antiproibicionismo entende que devemos primeiramente fazer um debate franco, sem tabus sobre as drogas, as drogas sempre estiveram presente na história da humanidade e utilizada por muitas culturas, principalmente o álcool (esse também já foi proibido e mostrou que a regulamentação foi a melhor saída). Em um plano ideal não deveriam ser consumida, assim como demais hábitos que não são saudáveis a saúde, como, por exemplo, os agrotóxicos nas nossas alimentações, mas essa não é a realidade e o que devemos fazer é discutir na sociedade todos os impactos físicos, mentais e sociais das drogas e como podemos diminuir os danos.
Também devemos discutir a legislação sobre drogas, será que ela realmente é suficiente? A nossa população carcerária, 4ª maior do mundo, tem quase 1/3 de pessoas presas por tráfico, e mesmo assim o tráfico continua mais forte do que nunca, sendo muitos desses presos usuários, pois em muitas situações, dependendo da interpretação do policial na abordagem, uma pequena quantidade de droga e dinheiro trocado já pode ser o suficiente para ser encarado como traficante, principalmente se for pobre, negro e favelado, onde uma vez encarcerado as possibilidades de sair e conseguir emprego são quase remotas.
E principalmente discutir a redução de danos no consumo de drogas, principalmente tomando como referência a lei seca nos EUA, que proibiu a venda de bebidas alcoólicas, pois com a proibição das bebidas alcoólicas, elas eram compradas de forma clandestina, ou seja, só se podia se comprar o que estava sendo vendido e que não tinha que obedecer nenhuma regulamentação para diminuir os danos, incluindo a venda para menores de idade (onde os efeitos nocivos das drogas lícitas e ilícitas são bem maiores), a taxa de pessoas que morreram pelo consumo ficou bem mais elevada, assim como acontece hoje com drogas ilícitas, que são misturadas com outras substancias químicas para baratear o produto ou potencializar os efeitos de forma que gere mais lucro para os traficantes em contra partida aumentando o número de substâncias, as vezes até desconhecidas ingeridas pelo usuário que pode potencializar ou a ter efeitos colaterais piores que o da própria droga.   
Pra finalizar é bom deixar claro que o objetivo desse texto não é induzir ninguém ao consumo de drogas como também não é fazer quem ler, ser a partir de agora antiproibicionista, o principal objetivo desse texto, é convidar as pessoas a discutir a questão das drogas de forma mais madura e sem tabus, pois é impossível a gente tentar entender a sociedade atual, sem levar em consideração as drogas e os efeitos que elas trazem.
Pra quem se sentir interessado para saber mais sobre o tema, segue o link a cartilha antiproibicionista elaborada por militantes antiproibicionistas no Rio de Janeiro.

Rafael Valente
Graduando em Geografia - UFC





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