quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Aceita uma senha?

Fonte
                É curioso como as pessoas conseguem sobreviver dentro de um sistema. A capacidade de modificar-se para sobreviver em um mundo que constantemente tenta lhe derrubar leva algumas pessoas a fazer o jogo do sistema e são essas pequenas ações que, mesmo fortalecendo o sistema em questão, leva a pessoa sobreviver. Não viver, apenas sobreviver.

                O carro procura um canto para estacionar e aparece um flanelinha mostrando um espaço para estacionar e orienta como colocar o carro. Descemos do veículo e se aproxima um senhor nos seus sessenta e tantos anos, com estatura mediana, pele marcada pelo sol e o rosto todo suado, afinal eram doze horas da tarde. Para quem não sabe o que é ficar no meio da rua de Fortaleza nesse horário, é o mesmo que ficar em uma estufa sem umidade. É um exagero, claro, mas é horrível.
                Íamos ao cartório, então o senhor se aproxima e diz que o local está lotado, então ele nos ajudaria se ajudássemos com o natal dele. Até aí tudo bem, logo em seguida o senhor entrega um papel e diz que é uma senha para sermos atendidos logo.
                No papel tinha 118; no painel do cartório tinha 111; na senha que eu deveria estar, ao chegar no local, tinha 145. Olha só que diferença, do 118 para o 145, fiquei com a 145 mesmo. E o senhor foi fazendo isso com todas as pessoas que ele conseguia atender, alguns não prestavam atenção para ele e simplesmente ignoravam, já outros estacionavam sua Hilux com adesivo “fora PT” pegavam a senha rapidinha e agradeciam.
                Passava um tempo, então o flanelinha entrava no cartório, pegava um copo de água, pegava mais duas senhas e voltava ao seu posto. Um absurdo aquilo, trocava a senha pelos “favores”, mas quando noto chega uma pessoa do cartório e fala alguma coisa com o flanelinha. Cinco minutos depois ele retorna ao cartório com uma quentinha e entrega para a pessoa que falou com ele e assim segue fazendo mais alguns favores ao cartório.
                Vejam só o sistema como é interessante: ele troca as senhas pelo cuidado dos veículos e algumas moedas, faz alguns favores para as pessoas do cartório para poder ficar no local sem ninguém reclamar, as pessoas do cartório dizem que isso é normal e que sempre existiu (sim, eu perguntei).
                Assim segue aquele pequeno sistema interagindo e sobrevivendo naquele espaço...







Nenhum comentário:

Postar um comentário