Diversas vezes
nos deparamos com situações incomodas e às vezes fingimos que não estamos vendo
nada ou simplesmente achamos que tentar fazer alguma coisa não vai alterar muito
a situação, então por medo ou por alguma outra razão nos omitimos e não
comentamos, não opinamos e não causamos nenhum tipo de intervenção. Isso é até
algo normal na sociedade atual, talvez o medo constante que circula o nosso entorno
causa esse tipo de reação, eu mesmo já passei por isso diversas vezes e na
maioria delas me omiti.
Confesso que na
maioria dessas situações eu queria ter feito algo, mas o receio sempre era uma
barreira, aparentemente, de proporções imensuráveis e isso me calava. Esse tipo
de situação acontece muito quando penso em questionar alguém que na nossa
sociedade possa ser considerado, de forma hierárquica, superior.
Porém chega uma
hora que diversos processos construtivos nos tornam pessoas inquietas com esse
tipo de situação e tomar uma atitude se faz necessário para que possamos nós
mesmos nos aceitar. A omissão passa a ser uma opção frágil diante de tudo que
nos construiu. E nessa semana passei por algo que não pude deixar de “intervir”.
Mas por que eles
fizeram isso? O meu pensamento foi o de que eles estavam em uma ocorrência
policial, o que justificaria a pressa, a postura de quem procura alguém e até
mesmo “quebrar” uma regra do trânsito. Logo depois que atravesso vou em direção
ao Shopping que tem próximo e para a minha surpresa os três também vão. Até me
espanto um pouco, porque uma ocorrência policial dentro de um shopping
significa que pode ser algo mais sério. Porém, um espanto maior ainda, eles
ficam parados em frente ao elevador e a postura mais firme torna-se relaxada.
Milhões de
pensamentos me vêm à cabeça: eles não estão em uma ocorrência policial?
Atrapalharam o fluxo por nada? Aquilo foi abusar do exercício de policial
militar? Diante de tantas perguntas e de uma inquietação, não consigo me
segurar e vou falar com os três.
Peço para que um
deles me tire uma dúvida e a dúvida era: vocês estão em alguma ocorrência
policial? A resposta é não. Logo em seguida eu comento a ação deles ao
atravessar o semáforo, porém não gostam muito do meu comentário e me tratam com
certa hostilidade. Em seguida me perguntam quem sou, me apresento na mesma hora
como estudante da UFC.
E eles começam a me “metralhar” com perguntas: você por acaso é guarda
de trânsito? Você é jornalista? A onde você está querendo chegar?
As respostas foram
simples. Não sou nem guarda de trânsito e nem jornalista, sou um estudante que
observou uma situação que deixou a mim e a outras pessoas incomodadas. E era
naquilo que eu queria chegar, no diálogo. Realmente eu queria era conversar com
eles sobre o ocorrido, porém eles não aceitavam que eu estivesse puxando aquela
conversa. Para eles era inaceitável que um simples estudante estive
questionando e ainda me perguntaram se eu achava que eles estavam errados e a
resposta é sim!
Sim, meus caros,
vocês erraram, fizeram algo apenas porque estavam fardados e isso pode ser qualificado
como abuso de poder e, além disso, causaram certa desordem no trânsito, o que
não deixa de ser uma desordem pública, dessa forma desobedecendo ao art. 188 da
Constituição Estadual:
Art. 188. Incumbe à
Polícia Militar a atividade da preservação da ordem pública em todas as suas
modalidades e proteção individual, com desempenhos ostensivos para inibir os
atos atentatórios a pessoas e bens.
Então, não é
porque estão com fardamento militar que podem fazer o que quiser e em qualquer
local e não é porque sou um estudante que vou deixar de questionar, aí é que
questionarei mesmo. Somos indivíduos da sociedade, somos observadores, somos
aqueles que constroem esse meio, então temos todo o direito de questionar e
tentar estabelecer o dialogo com aqueles que estão exercendo um “poder superior”
dentro da sociedade, porque todo os cidadãos unidos formam a maior instância de
poder.
Não devemos
permitir que o medo nos cale, devemos é saber ser éticos e prudentes em uma conversa,
porque um dos motivos para a nossa sociedade estar do jeito que estar hoje é
porque nos calamos diante de tanto abuso de poder. E para aqueles que depois
tentaram colocar o medo dentro de mim e que estão com medo de causar
intervenções na sociedade, lembre-se
“Do ponto de vista micropolítico, regimes deste tipo correspondem ao triunfo das forças conservadoras do senso-comum sobre as forças da invenção. O pensamento intimida-se e retrai, associado que fica ao perigo de punição que pode incidir sobre a imagem social, estigmatizando-a, como sobre o próprio corpo, com diferentes graus de brutalidade que vão da prisão e da tortura até o assassinato. Humilhada e desautorizada, a dinâmica criadora do desejo paralisa-se sob o domínio do medo, muitas vezes acompanhado de culpa; embora esta parada se dê em nome da preservação da vida, ela pode chegar a uma quase morte. O trauma de experiências deste tipo deixa a marca venenosa de um desgosto de viver e da impossibilidade de pensar; uma ferida no desejo que pode vir a contaminar tudo, brecando grande parte de seus movimentos de conexão e dos gestos de invenção que os mesmos mobilizam”. (Trecho deste link: http://bit.ly/JLcuHK)
“Do ponto de vista micropolítico, regimes deste tipo correspondem ao triunfo das forças conservadoras do senso-comum sobre as forças da invenção. O pensamento intimida-se e retrai, associado que fica ao perigo de punição que pode incidir sobre a imagem social, estigmatizando-a, como sobre o próprio corpo, com diferentes graus de brutalidade que vão da prisão e da tortura até o assassinato. Humilhada e desautorizada, a dinâmica criadora do desejo paralisa-se sob o domínio do medo, muitas vezes acompanhado de culpa; embora esta parada se dê em nome da preservação da vida, ela pode chegar a uma quase morte. O trauma de experiências deste tipo deixa a marca venenosa de um desgosto de viver e da impossibilidade de pensar; uma ferida no desejo que pode vir a contaminar tudo, brecando grande parte de seus movimentos de conexão e dos gestos de invenção que os mesmos mobilizam”. (Trecho deste link: http://bit.ly/JLcuHK)
Nenhum comentário:
Postar um comentário