O grupo dos Ferreira Gomes (FG)
viu-se em dificuldades. Pelas leis, não poderia escolher ninguém do núcleo
familiar como candidato. Os correligionários mais fiéis não tinham capital
político suficiente para se aventurarem sós numa eleição difícil. A perturbar
ainda, os interesses dos próprios correligionários, ansiosos por quinhões que
garantissem seus privilégios no Estado. Os FG comandam, mas têm de fazer
concessões, para manter a fidelidade do grupo.
Daí tanta hesitação quanto a
candidatura oficial. Como trunfo para o governador, as boas relações com o
poder político nacional, aliado importante que é de Dilma e Lula. O problema é
que o principal candidato opositor, Eunício Oliveira, igualmente era aliado
destes.
Eunício, vendo o arco de alianças
costurado pelo governador (fincado em inúmeras prefeituras interioranas e
micropartidos), sabendo da influência da máquina pública nas eleições locais,
decidiu ousar, aproximando-se do PSDB de Tasso e Aécio. Se vai conseguir
fortalecer a candidatura, o tempo responderá, mas essa foi uma ótima brecha
para Cid. Talvez não sendo o que de fato desejava, Cid optou pela tática de
colar a sobrevivência de seu grupo ao capital político de Lula e Dilma. Matou
dois coelhos com uma só cajadada: entregou a cabeça da chapa ao PT, escolhendo,
porém, alguém suficientemente dócil a sua liderança, o desconhecido (pela
população) Camilo Santana. Jogada de mestre. Não por acaso, a seguir, uma das
primeiras declarações de Eunício foi de que “tem gente querendo ser dono de
Lula”. Esse parece que será um dos principais motes da campanha.
Ao que consta, a eleição girará
em torno de acusações pessoais e promessas gerais de melhorias na educação,
segurança, etc., como se isso dependesse apenas da vontade de alguém.
Possivelmente não haverá debate sobre as estruturas de nossa sociedade, cujo
modelo de desenvolvimento vem ainda do governo do Coronel Virgílio Távora
(1963-66), baseado num industrialismo e grandes obras.
Passado meio século, parece claro
que apenas isso não mudará a realidade do Ceará, um dos locais socialmente mais
injustos e violentos do País. A pobreza, os problemas crônicos de saúde e
educação e as grades em nossas janelas são bons argumentos para pedir esse
debate.
Possivelmente não haverá debate
sobre as estruturas de nossa sociedade cujo modelo de desenvolvimento vem ainda
do governo do coronel Virgílio Távora.
Airton de Farias
Fonte: O Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário