Estava
aqui pensando sobre a redução da maioridade penal e lembrei-me dos meus 16
anos. Nessa época, que faz só quatro anos, eu estava lá pelo segundo ano do
ensino médio, ano esse que muita coisa mudou na minha vida, principalmente na
política. Lembro-me bem que foi o ano onde mais tive caos ideológico em minha
mente e desse caos saiu à base de quem sou hoje.
Nesse
ano participei pela segunda vez da Olimpíada Brasileira em História do Brasil
organizado pela Unicamp e, junto com minha equipe, engolimos todo o assunto que
nos era levado ao debate pela olimpíada e pude conhecer bem a história de meu
país e, melhor ainda, pensar sobre todo aquele contexto que envolvia cada
questão.
Mas
não só de olimpíada foi o ano, o ponto mais importante foi à greve dos
professores onde pude participar de quase todas as manifestações, assembleias e
debates, daí surgiram os grandes amigos de hoje e o posicionamento político.
Lembro-me bem das repressões que tinham nas manifestações, em uma delas revi um
professor de xadrez do ensino fundamental.
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Imagem: retirada da internet |
Um
professor incrível que não só me ensinou xadrez, me ensinou a tentar
administrar melhor a situação. Ele foi um professor além da sala de aula, mas
voltando ao momento que o revi em uma manifestação, ele também estava
participando das manifestações e o revi na manifestação da Assembleia
Legislativa do Ceará onde os professores foram duramente reprimidos e esse
professor estava manchado de sangue na tentativa de socorrer outro professor
que estava mais ferido, tudo isso a mando do Presidente da Mesa Diretora,
Roberto Cláudio, que hoje é o prefeito de minha cidade.
Lembro-me
muito bem, também, que nesse mesmo período minha consciência ambiental expandiu
e consegui ver sua interligação com política e cultura em uma intervenção feita
pelo Grupo de Estudos do Meio Ambiente (GEMA) e daí foi quase um efeito dominó.
Mas
parando para pensar, talvez, esse período tenha sido apenas uma organização de
ideias, porque boa parte delas podem ter iniciado bem antes do ensino médio.
Talvez naquele dia onde fui para
uma aula de ed. física, no ensino fundamental ainda, e vi um amigo sendo parado
pela policia para ser revistado, sendo chamado de vagabundo até dar uma dor;
Talvez naquele dia onde um
conhecido meu foi executado na frente de casa por dívidas de drogas;
Talvez naquele dia onde vi meu
melhor amigo virar um dos maiores espancadores da escola depois de sofrer tanto
preconceito por não ter nada ou não ter boas notas;
Talvez quando fui reprimido por
considera-lo um amigo e andar com ele;
Talvez quando fui convencido a
desistir dele e de outros amigos parecidos, com os mesmos problemas;
Talvez quando vi alguns deles
saindo da escola depois de serem tantas vezes desmotivados;
Talvez quando vi outros andando
com “aqueles que não prestam”;
Talvez quando vi mais alguns
esperando alguém passar para poder realizado;
Talvez quando não fui assaltado
porque “é meu amigo daquela escolinha”;
Talvez quando vi alguns outros na
TV dentro de uma viatura;
Talvez quando vi... não, nunca
mais os vi. Não sei se estão bem, se estão vivos, se tiveram filhos, se ainda
estão cometendo crimes ou se estão trabalhando, talvez estudando, podem ter
voltado a estudar, podem ter mantido seus sonhos, mas é difícil ser otimista,
porque o sistema que levou eles por esse caminho é cruel.
Estranho,
estávamos lado a lado por muito tempo, mas me foi garantido algumas condições
que mudaram meu destino e um deles foi a escola do Ensino Médio do início do
texto, Adauto Bezerra, curiosamente o nome de um coronel ainda vivo e, hoje,
apoio desmilitarização e sou totalmente contra essas manifestações que pedem a
volta dos militares.
Dos
amigos que foram presos por um sistema que tirou suas vidas e sonhos quase
nenhum tinha 16 anos e pior, nem chegaram aos 16 anos...
Será que teria mudado algo se não
tivessem me convencido a desistir deles? Talvez...
Quer
saber de uma coisa? Hoje não vou desistir; hoje não vou apoiar redução de
maioridade penal; hoje não vou apoiar um sistema que matou sonhos, que retirou
vidas; hoje não e quando for amanhã vou reler novamente esse texto e deixar
essa última parte fluir em minha mente.
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