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Foto Panorâmica de Fortaleza - Internet |
Hoje a cidade de
Fortaleza completa 288 anos de fundação e todos nós, fortalezenses, deveríamos estar
comemorando essa data, porém ela passará despercebida por boa parte da população.
Passará em branco, porque, por incrível que pareça, o campeonato cearense, o
campeonato paulista, a violência, a ineficiência dos nossos gestores e nossa
própria identidade com a cidade irá ocultar a data.
Apesar disso o
futebol cearense é um dos elementos fundamentais para contar a história da
nossa cidade. A violência também, porque através dela podemos procurar
compreender diversos fatos que, desde o passado, vem se arrastando até os dias
atuais, contextos sociais que não podemos deixar de lado e muito menos separar
as ocorrências de violência no futebol, tudo isso interligado com a
ineficiência dos nossos gestores. Veja como é irônico, eventos que estão ligados
com nossa história estão, na verdade, ocultando-a.
Mas, por que
esses eventos que na verdade deveriam contribuir para olharmos a cidade faz é o
contrário? Porque a cada dia estamos perdendo a nossa identidade com a cidade,
está cada vez mais difícil nos enxergarmos como fortalezenses. Somos filhos dessa terra, a Terra da
Luz, mas estamos perdendo essa luz que nos faz pertencentes à cidade. Já tinha
tocado nesse ponto em outro texto, porém um assunto dessa complexidade merece
ser retomado.
O que faz um fortalezense? Ou melhor, você se ver como
fortalezense?
Fortaleza não é
meramente uma cidade onde a maioria escuta forró, onde a praia é o ponto mais
belo ou a “segunda cidade mais violenta do país”. Somos muito mais do que isso,
somos a cidade que nasceu as margens do riacho Pajeú e do Forte de Nossa Senhora
de Assunção.
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Trecho do Riacho Pajeú que menciono no texto |
E por falar no
Pajeú, você já viu algum trecho dele? Se você andar no Centro da Cidade e
perguntar onde pode ver algum trecho do rio, irão lhe direcionar para o Paço
Municipal, sede da prefeitura, vão falar que lá é até bonito de se ver, mas o
ponto que não irão querer mostrar é a região que o rio fica “oculto”. O trecho
próximo a Praça dos Leões é sufocado pelo comércio desenfreado. Passa por
dentro de alguns estacionamentos e sua atuação situação chega a ser deprimente,
difícil de acreditar!
E o Centro da
Cidade? Podemos contar a maior parte da nossa história somente pelo Centro. A
Praça do Ferreira que é onde se iniciou a Padaria Espiritual e também o local
de tantas manifestações, ah... sem esquecer do dia que vaiamos o Sol.
E a Praça dos
Leões? O seu verdadeiro nome é Praça General Tibúrcio, um dos combatentes da
Guerra do Paraguai, é lá onde acontece a famosa feirinha de livros usados, mas
é só a feirinha que traz importância para o lugar? Claro que não, no mesmo
local está a Igreja do Rosário, igreja construída pelos escravos e tumulo de
muitas pessoas em suas paredes. Lá também fica o Museu do Ceará, local esse que
guarda grande parte da nossa história e da história do Ceará. Ah... não posso
esquecer do Palácio da Luz, fica ao lado da Igreja do Rosário. Sabe o que era
esse local? Uma das primeiras casas do governador e atualmente é a Academia
Cearense de Letras, academia essa que foi fundada antes da Academia Brasileira
de Letras.
E o Forte?
Caraca, lá sim é um recanto de grandes histórias da nossa cidade. O local onde
foi dominado por portugueses e holandeses, e muitos índios perderam vidas
lutando. No Forte tem um museu da Guerra do Paraguai com um quadro enorme retratando
o campo de batalha. É um dos locais que vale a pena conhecer.
Dá até para de lá
dar um pulinho no Passei Público que fica atrás do Forte. O Passeio é um dos
locais mais bonitos da cidade e, também, guarda memória da nossa história e
detalhe, uma história de sangue. O outro nome da praça é Praça dos Mártires,
porque foi onde fuzilaram alguns dos participantes da Confederação do Equador.
São pontos
esquecidos por nós e isso ocasiona a deterioração desses lugares, porque não
nos preocupados em conserva-los. Não adianta culparmos o poder público, se nós
não fazemos nada para conservar, pois nós, o povo, o fortalezense, somos a
maior representatividade da política ou já esqueceu que já conseguimos até “eleger”
um bode como vereador??!
... e o tempo passa...
Passa e a cada
dia vamos perdendo os símbolos que carregam em si a nossa história e cultura.
Não reconhecemos a bandeira da nossa cidade, nem ao menos procuramos conhecer o
brasão que estampa a camisa das escolas públicas municipais. Não estou pedindo
para que seja um patriota altamente
orgulhoso que bate no peito e grita que é de Fortaleza, estou apenas tentando
cutucar o que está aí dentro de você, mas que é ignorado: a relação com sua
terra natal.
Não podemos
simplesmente sair falando mal da cidade, culpando os nossos governantes e ficar
esbravejando que Salvador, Natal, Rio de Janeiro, São Paulo e tantas outras
cidades são melhores do que a nossa. É quase inaceitável que não procuremos
conhecer a história da nossa cidade. Chega a ser estupidez, desculpem-me por me
exaltar, falar que outra cidade é melhor do que a nossa se não movemos um dedo
para melhora-la; se nem ao menos quisermos fortalecer a nossa identidade de
fortalezense.
Se você acha
ridículo a valorização que fazem aos turistas, mas associa nossa cidade somente
a praia, sabia que isso é tão ridículo quanto a primeira oração desse
parágrafo. Sim! E pode ficar com raiva se quiser. Não estou dizendo que sou um
grande conhecedor da nossa história e por isso me incluo nessa lista de pessoas
que cometem essas estupidez, mas tento não me permitir não conhecer a cidade. É
um paradoxo? Um conflito interno? Não deixa de ser... sou doido? Mas é claro!!!
Tão doido a ponto
de tentar lutar contra 288 anos de acomodação, um pouco demais falar isso, mas
é preciso falar, porque talvez faça alguma diferença para quem leu até aqui. É
preciso tentar cutucar a mente das pessoas, mostrar o que não conseguimos
enxergar, mostrar que nós somos fortalezenses e somos muito mais do que praia.
Temos história...
288 anos de história!!!
Talvez até mais do que isso... Parabéns, Fortaleza.
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