domingo, 13 de abril de 2014

Fortitudine: força, valor, coragem - 288 anos de história

Foto Panorâmica de Fortaleza - Internet
                Hoje a cidade de Fortaleza completa 288 anos de fundação e todos nós, fortalezenses, deveríamos estar comemorando essa data, porém ela passará despercebida por boa parte da população. Passará em branco, porque, por incrível que pareça, o campeonato cearense, o campeonato paulista, a violência, a ineficiência dos nossos gestores e nossa própria identidade com a cidade irá ocultar a data.
                Apesar disso o futebol cearense é um dos elementos fundamentais para contar a história da nossa cidade. A violência também, porque através dela podemos procurar compreender diversos fatos que, desde o passado, vem se arrastando até os dias atuais, contextos sociais que não podemos deixar de lado e muito menos separar as ocorrências de violência no futebol, tudo isso interligado com a ineficiência dos nossos gestores. Veja como é irônico, eventos que estão ligados com nossa história estão, na verdade, ocultando-a.
                Mas, por que esses eventos que na verdade deveriam contribuir para olharmos a cidade faz é o contrário? Porque a cada dia estamos perdendo a nossa identidade com a cidade, está cada vez mais difícil nos enxergarmos como fortalezenses. Somos filhos dessa terra, a Terra da Luz, mas estamos perdendo essa luz que nos faz pertencentes à cidade. Já tinha tocado nesse ponto em outro texto, porém um assunto dessa complexidade merece ser retomado.

O que faz um fortalezense? Ou melhor, você se ver como fortalezense? 

                Fortaleza não é meramente uma cidade onde a maioria escuta forró, onde a praia é o ponto mais belo ou a “segunda cidade mais violenta do país”. Somos muito mais do que isso, somos a cidade que nasceu as margens do riacho Pajeú e do Forte de Nossa Senhora de Assunção.
Trecho do Riacho Pajeú que menciono no texto

                E por falar no Pajeú, você já viu algum trecho dele? Se você andar no Centro da Cidade e perguntar onde pode ver algum trecho do rio, irão lhe direcionar para o Paço Municipal, sede da prefeitura, vão falar que lá é até bonito de se ver, mas o ponto que não irão querer mostrar é a região que o rio fica “oculto”. O trecho próximo a Praça dos Leões é sufocado pelo comércio desenfreado. Passa por dentro de alguns estacionamentos e sua atuação situação chega a ser deprimente, difícil de acreditar!
                E o Centro da Cidade? Podemos contar a maior parte da nossa história somente pelo Centro. A Praça do Ferreira que é onde se iniciou a Padaria Espiritual e também o local de tantas manifestações, ah... sem esquecer do dia que vaiamos o Sol.
                E a Praça dos Leões? O seu verdadeiro nome é Praça General Tibúrcio, um dos combatentes da Guerra do Paraguai, é lá onde acontece a famosa feirinha de livros usados, mas é só a feirinha que traz importância para o lugar? Claro que não, no mesmo local está a Igreja do Rosário, igreja construída pelos escravos e tumulo de muitas pessoas em suas paredes. Lá também fica o Museu do Ceará, local esse que guarda grande parte da nossa história e da história do Ceará. Ah... não posso esquecer do Palácio da Luz, fica ao lado da Igreja do Rosário. Sabe o que era esse local? Uma das primeiras casas do governador e atualmente é a Academia Cearense de Letras, academia essa que foi fundada antes da Academia Brasileira de Letras.
                E o Forte? Caraca, lá sim é um recanto de grandes histórias da nossa cidade. O local onde foi dominado por portugueses e holandeses, e muitos índios perderam vidas lutando. No Forte tem um museu da Guerra do Paraguai com um quadro enorme retratando o campo de batalha. É um dos locais que vale a pena conhecer.
                Dá até para de lá dar um pulinho no Passei Público que fica atrás do Forte. O Passeio é um dos locais mais bonitos da cidade e, também, guarda memória da nossa história e detalhe, uma história de sangue. O outro nome da praça é Praça dos Mártires, porque foi onde fuzilaram alguns dos participantes da Confederação do Equador.
                São pontos esquecidos por nós e isso ocasiona a deterioração desses lugares, porque não nos preocupados em conserva-los. Não adianta culparmos o poder público, se nós não fazemos nada para conservar, pois nós, o povo, o fortalezense, somos a maior representatividade da política ou já esqueceu que já conseguimos até “eleger” um bode como vereador??!

... e o tempo passa...

                Passa e a cada dia vamos perdendo os símbolos que carregam em si a nossa história e cultura. Não reconhecemos a bandeira da nossa cidade, nem ao menos procuramos conhecer o brasão que estampa a camisa das escolas públicas municipais. Não estou pedindo para que seja um patriota altamente orgulhoso que bate no peito e grita que é de Fortaleza, estou apenas tentando cutucar o que está aí dentro de você, mas que é ignorado: a relação com sua terra natal.
                Não podemos simplesmente sair falando mal da cidade, culpando os nossos governantes e ficar esbravejando que Salvador, Natal, Rio de Janeiro, São Paulo e tantas outras cidades são melhores do que a nossa. É quase inaceitável que não procuremos conhecer a história da nossa cidade. Chega a ser estupidez, desculpem-me por me exaltar, falar que outra cidade é melhor do que a nossa se não movemos um dedo para melhora-la; se nem ao menos quisermos fortalecer a nossa identidade de fortalezense.
                Se você acha ridículo a valorização que fazem aos turistas, mas associa nossa cidade somente a praia, sabia que isso é tão ridículo quanto a primeira oração desse parágrafo. Sim! E pode ficar com raiva se quiser. Não estou dizendo que sou um grande conhecedor da nossa história e por isso me incluo nessa lista de pessoas que cometem essas estupidez, mas tento não me permitir não conhecer a cidade. É um paradoxo? Um conflito interno? Não deixa de ser... sou doido? Mas é claro!!!
                Tão doido a ponto de tentar lutar contra 288 anos de acomodação, um pouco demais falar isso, mas é preciso falar, porque talvez faça alguma diferença para quem leu até aqui. É preciso tentar cutucar a mente das pessoas, mostrar o que não conseguimos enxergar, mostrar que nós somos fortalezenses e somos muito mais do que praia.
                Temos história... 288 anos de história!!!

Talvez até mais do que isso... Parabéns, Fortaleza.




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