sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Papai Noel existe

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                Então é Natal e com esse período surgem as confraternizações e reuniões familiares. Diversas famílias, hoje ou ontem, devem ter se reunido em torno de uma mesa para fazer uma ceia, seja ela farta ou não, com a intenção de aproximar as pessoas e retomar aquele espírito familiar.
                São festas lindas, em grande maioria, onde cada grupo comemora da sua forma, a que mais agradar. Sorrisos, comidas, bebidas, fotos, trocas de presentes e mais algumas coisas que vão mostrando a face da família; uma face alegre.

                Uma linda família que esconde por baixo dos sorrisos muito rancor e desunião. Aquela aparente união, de fato, é uma desunião. Ligados pelo ente mais velho, ou simplesmente por um sobrenome, o grupo sabe que não está completo, sabe que funciona por pequenas estruturas interligadas somente por um ou dois nós e que quando esses nós se forem toda a estrutura cai e a família passará a não se reunir mais.
                Em outras palavras, diante daquelas memórias de uma família quase perfeita o que restou foi apenas uma sombra do passado e uma ilusão que as pessoas fingem acreditar; fingem que a família bonita ainda existe, enquanto lá no fundo sabem que aos poucos o grupo vai morrendo, porque somente o sobrenome não é capaz de mantê-los unidos. Alguns já perderem as forças para resgatar as raízes e as ações superficiais já não são suficientes.
                Contudo o natal segue a cada ano. E nesse passar do tempo o grupo vai se reduzindo e das pessoas que ficam poucas acreditam que é possível uma reviravolta. Muitas já estão, na verdade, conformadas e só vão se reunir porque é o que tem por enquanto que ainda existe aquele ente mais velho unindo. Outras ainda estão mais ludibriados pela ilusão criada de que a família é forte.
                Tudo isso pode gerar uma situação desconfortável por dar uma sensação de artificial, de algo forçado e que muitos sabem que é verdade, mas não vão reconhecer publicamente para não gerar mais desconforto, mesmo esse desconforto podendo ser algo positivo, porque dele, talvez, surja uma solução eficiente.
                Entretanto, é mais fácil aceitar a ilusão e, como já tinham me falado, as pessoas precisam um pouco de ilusão, de ficção, da coisa mágica envolvida, então entre Papai Noel e família perfeita, fico com o Papai Noel e prefiro encarar a sincera e dolorida realidade de uma família.




quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Aceita uma senha?

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                É curioso como as pessoas conseguem sobreviver dentro de um sistema. A capacidade de modificar-se para sobreviver em um mundo que constantemente tenta lhe derrubar leva algumas pessoas a fazer o jogo do sistema e são essas pequenas ações que, mesmo fortalecendo o sistema em questão, leva a pessoa sobreviver. Não viver, apenas sobreviver.

                O carro procura um canto para estacionar e aparece um flanelinha mostrando um espaço para estacionar e orienta como colocar o carro. Descemos do veículo e se aproxima um senhor nos seus sessenta e tantos anos, com estatura mediana, pele marcada pelo sol e o rosto todo suado, afinal eram doze horas da tarde. Para quem não sabe o que é ficar no meio da rua de Fortaleza nesse horário, é o mesmo que ficar em uma estufa sem umidade. É um exagero, claro, mas é horrível.
                Íamos ao cartório, então o senhor se aproxima e diz que o local está lotado, então ele nos ajudaria se ajudássemos com o natal dele. Até aí tudo bem, logo em seguida o senhor entrega um papel e diz que é uma senha para sermos atendidos logo.
                No papel tinha 118; no painel do cartório tinha 111; na senha que eu deveria estar, ao chegar no local, tinha 145. Olha só que diferença, do 118 para o 145, fiquei com a 145 mesmo. E o senhor foi fazendo isso com todas as pessoas que ele conseguia atender, alguns não prestavam atenção para ele e simplesmente ignoravam, já outros estacionavam sua Hilux com adesivo “fora PT” pegavam a senha rapidinha e agradeciam.
                Passava um tempo, então o flanelinha entrava no cartório, pegava um copo de água, pegava mais duas senhas e voltava ao seu posto. Um absurdo aquilo, trocava a senha pelos “favores”, mas quando noto chega uma pessoa do cartório e fala alguma coisa com o flanelinha. Cinco minutos depois ele retorna ao cartório com uma quentinha e entrega para a pessoa que falou com ele e assim segue fazendo mais alguns favores ao cartório.
                Vejam só o sistema como é interessante: ele troca as senhas pelo cuidado dos veículos e algumas moedas, faz alguns favores para as pessoas do cartório para poder ficar no local sem ninguém reclamar, as pessoas do cartório dizem que isso é normal e que sempre existiu (sim, eu perguntei).
                Assim segue aquele pequeno sistema interagindo e sobrevivendo naquele espaço...





sábado, 19 de dezembro de 2015

Vamos dar certo?

E uma vez perguntaram: como sabe ser duas pessoas vão dar certo?


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                Quando essa pergunta foi feita a real intenção da pessoa não era saber, a priori, a resposta, porque para chegar na resposta dessa pergunta precisamos passar por diversos outros pontos que constroem uma possível resposta. O que, talvez, a pessoa procurasse descobrir era como evitar as desilusões, sofrimentos, angustias e tantas outras sensações que levam os seres a “não darem certo”.
                Ninguém quer sofrer, nem se arrepender ou ficar magoado por algum motivo. É muito simples fazer com que nada disso ocorra basta sempre termos cuidado e olhar atencioso para evitar qualquer início de sofrimento. Talvez com cautela e com o pé atrás possamos sempre evitar, a maior parte do tempo, todo início de dor. Apareceu a dor? Mude o caminho, evite sofrer e mantenha isso em mente.
                Mas... o que isso tem a ver com o Devaneios Universitários? Por que um texto nesse sentido? Simples, porque estamos falando de relações entre pessoas, seja quaisquer dessas relações. Em outras palavras, é do viver em sociedade que estamos debatendo e a solução mencionada para evitar uma possível dor proporciona meios para termos um mal viver em sociedade.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Por que estudar Educação Ambiental?

Fonte
As sociedades, por terem suas demandas limitadas por recursos considerados escassos, precisam constantemente procurar estratégias para administrar essa relação. E um questionamento bastante recorrente quanto a isso é: como fazer para essa relação se desenvolva em equilíbrio com o meio ambiente e a posteridade. Não seria nada espantoso que uma estratégia eficiente para a resposta da relação desenvolvimento x ambiente saudável começasse com Educação Ambiental.

Mas o que é Educação Ambiental (EA) e como ela poderia ajudar no desenvolvimento de uma sociedade? Segundo a Conferência de Tbilisi[i] (1977) e a Comissão Interministerial de preparação para o Rio-92[ii], a Educação Ambiental é definida como uma dimensão da educação que mescla teoria e prática visando à resolução de problemas ambientais com enfoque interdisciplinar levando em consideração os aspectos socioeconômicos, políticos e culturais de uma região onde cada indivíduo e o coletivo sintam-se ativos e responsáveis por aquele espaço.

Então quando propomos estudar EA queremos atingir o máximo de dimensões de um indivíduo e do coletivo e assim entendermos-nos pertencentes ao meio ambiente. Esse é um ponto que precisa ficar bastante claro: todos nós somos parte constitutiva do meio ambiente. Genebaldo Freire[iii] diz que o desafio da EA é o de “criar as bases para a compreensão holística[iv] da realidade.”.

Para criarmos essas bases, precisamos utilizar ferramentas pedagógicas que despertem a percepção ambiental, pois ela nos permitirá enxergar e compreender o todo e, quando isso começar a se estabelecer, poderemos ver os seguintes pontos: um meio saudável permite que as pessoas que ali frequentam estejam menos expostas a doenças (meio x saúde); incentivar a cultura e manter aquele meio cultural existente está conectado com respeito entre as pessoas, e isso vai implicar em segurança, por exemplo (meio x cultura x segurança); sentir-se pertencente a um espaço irá influenciar na vontade de estar ali e produzir algo (meio x produção) e de que repensar nosso modelo de economia irá influenciar as gerações futuras (economia x sustentabilidade).

Essas são algumas das muitas conexões que podemos compreender através da percepção ambiental, afinal tudo está conectado. Não é uma mudança simples e nem fácil, mas alguns grupos de estudos/debates, empresas e pesquisadores vêm conseguindo alcançar e mostrar as melhorias trazidas por essa mudança de percepção.




[i] Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental realizada em 1977 na cidade de Tbilisi, antiga URSS.

[ii] Comissão que preparou a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio 92) ou Cúpula da Terra, na cidade do Rio de Janeiro em 1992.

[iii] Livro: Educação Ambiental – princípios e práticas, 2010.

[iv] Compreensão holística, aqui compreendida, diz respeito à compreensão de que o todo é maior que a soma das partes isoladas.




domingo, 20 de setembro de 2015

Sobre Sergipe: Aracaju e São Cristovão

O ente curioso
                Para vivermos qualquer experiência precisamos estar abertos para sermos modificados. Se chegamos em um local ou estamos prestes a vivenciar um determinado momento precisamos destravar nossas resistências para que aquela situação traga mudanças em nós e nós proporcionemos mudanças nas entidades envolvidas, se elas também estiverem abertas.

                Assim chegamos em Sergipe, de peito aberto, sem criar grandes expectativas, mas abertos para conhecer o local. Aracaju encanta logo na entrada com sua vegetação bem verde e brilhosa. Aquele verde bem vivo em torno da avenida de entrada.
                Como um ente curioso tento olhar além daquela vegetação e meu olhar direciona-se para a selva de pedra que viria a surgir. A primeira característica que chamou atenção foi a ciclovia. O trecho vermelho na avenida era bastante curioso, pois não ficava na pista, mas no meio do local separado. A cidade tinha aproveitado o canteiro central para construir o espaço para a pessoa que pedala. Não era o espaço para pedestres, era o do ciclista, porque o pedestre tinha sua calçada nas extremidades.
                Apesar de ser algo diferente de boa parte da cidade de Fortaleza, não crio tantas expectativas, porque, da pouca experiência que tenho, sei que no primeiro viaduto a ciclovia seria descontinuada, desconexa, mas foi aí que minha primeira falta de fé me traiu: o viaduto começou a surgir, mas a ciclovia não desapareceu. O instrumento de mobilidade não era tão inclinado, então permitia a continuação do espaço para bicicleta, mas dessa vez com uma proteção de grades. Detalhe: a pessoa que transita a pé continuava com seu espaço nas extremidades separado dos carros.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Um olhar: do Ceará à Sergipe

Fonte da Imagem
                Logo na manhã de quarta-feira saímos de Fortaleza – CE com o destino de São Cristovão – SE. Com a previsão de 14h de viagem sabia que iria ver muita coisa na estrada, não só pela duração, mas por eu conhecer quase ninguém que viajava comigo, então recolhido em minha poltrona fiquei esperando o que a estrada iria mostrar, contudo não imaginava que iria mostrar um texto.

                Passando por Aracati seguimos para sair do Estado do Ceará e ainda sobre o sol que assolava a estrada paramos para almoçar em Mossoró – RN. Deste local temos um ponto bastante interessante, quase todos os restaurantes da estrada são do Rio Grande do... Sul! Sim, restaurantes gaúchos em terra potiguar. E interações acontecem.
                Animação segue com o grupo por estradas que foram construídas para facilitar o comércio, desbravar os sertões, exaltar governos, sejam militares ou eleitos democraticamente, e diversos outros motivos que fogem dado meu pouco conhecimento. O que teriam ocorrido nessas vias?

domingo, 13 de setembro de 2015

Pixo (documentário)

Imagem: #ajudeosamir
Ao propor reflexões sobre a pichação obtive como resposta diversas reações inesperadas. Em grande maioria comentários falando que pichar é errado e a pichação é feia, contudo não entrei no debate entre certo e errado, bonito e feito. A Ética e a Estética são duas áreas que possuo pouco conhecimento, por isso que o máximo que fiz foi instigar a pensarmos sobre o assunto.

Contudo, por causa das reações, acabei me instigando a procurar mais sobre o assunto e nessa busca encontrei um documentário de 2009 dirigido por João Wainer e Roberto T. Oliveira. O filme aborda a pichação de São Paulo mostrando a rotina do pichador, seu raciocínio, suas influências, pensamento e a origem do estilo de pichação do Estado. 

Recomendo o documentário principalmente para aquelas pessoas que... gostam de conhecimento (esperava que eu fosse falar pessoas que são contra, não é?)



Postagem Anterior --- Postagem de um amigo

Pichação é arte - João Wainer

João Wainer (Imagem: Uol)
Trabalho como repórter-fotográfico em São Paulo e passo o dia todo rodando pelas ruas dessa gigantesca cidade. O banco da frente do carro de reportagem é meu escritório. O barulho das buzinas dos motoboys, o cheiro de fumaça e os congestionamentos fazem parte da minha rotina.


Faz tempo que comecei a prestar atenção às pichações que dominam os muros da cidade. Conheci alguns pichadores e descobri que existe uma guerra silenciosa na noite paulistana. Milhares de jovens disputam os lugares mais altos para marcar seu nome ou o de seu grupo. Eles escrevem num alfabeto próprio, desenvolvido com linguagem e códigos específicos. Ganha a disputa quem pichar mais alto, no lugar com maior visibilidade.

A cada nova história que escutava eu me interessava mais pelo assunto. Passei a reparar nas letras, a tentar decifrar cada palavra e mensagem como se fosse um quebra-cabeça. Aos poucos, aquilo que parecia caótico começou a fazer sentido para mim. Percebi que aquilo não era tão feio como alardeavam. Na verdade, a suposta feiúra da pichação até combinava com a paisagem acinzentada de São Paulo. O estilo das letras, a forma, o jeito com que elas são escritas são lindos. Adoro ver no alto dos prédios aquelas pichações enormes, com letras enfumaçadas. Tento imaginar quem fez, como fez e o que passou pela cabeça dele enquanto fazia.

sábado, 12 de setembro de 2015

Pichação é crime. Grafitagem é arte - Eudes Quintino

Eudes Quintino (Imagem: Município de Mirandópolis)
Desde os primórdios, o homem se destacou em se expressar por meio de desenhos e escritos, nos rochedos e paredes das cavernas onde habitava. Muitos sítios arqueológicos preservados apontam que, desde a época da Pedra Lascada, os artistas pintavam animais, preferencialmente cavalos, mamutes, bisões e seres humanos, com destaque para as mulheres. Utilizavam-se de ferramentas feitas de ossos, pedra e marfim, que serviam tanto para os desenhos, como para a caça e a luta entre grupos inimigos.

Talvez resida aí uma das explicações da origem da pichação e da grafitagem, técnicas que realizam uma intervenção urbana visando expor a arte de rua (street art). A legislação brasileira que trata da aplicação de sanções penais e administrativas em decorrência de atividades lesivas ao meio ambiente (artigo 65 da Lei nº 9.605/ 1998), pune aquele que “pichar, grafitar ou, por outro meio, conspurcar edificação ou monumento urbano”. A pena é de três meses a um ano e aumenta de seis meses a um ano se o ato for praticado contra monumento ou coisa tombada em virtude de seu valor artístico, arqueológico ou histórico.

Tanto a pichação como o graffiti foram lançados na vala comum e considerados condutas penalmente reprováveis, pelo dano que causam ao ambiente, em razão da poluição visual. Ocorre que, lentamente, a própria avaliação estética proporcionou uma separação e uma nova definição para as duas modalidades. A pichação despe-se de qualquer referência artística e, inerente à sua vocação clandestina, invade as ruas com palavras hostis e símbolos agressivos de uma cultura de transgressão. A grafitagem, por sua vez, estruturada por grupos comprometidos com a arte, busca o espaço urbano para trabalhar com sua tinta spray e criar paisagens, gravuras e painéis harmônicos, extremamente coloridos. É muito frequente o pedestre parar e admirar a arte exposta na rua, sem falar do interesse interpretativo dos críticos especializados na modalidade, que já conseguiram entronizar a street art nos grandes museus. 

Pichações interessantes

*Imagens retiradas do Google Imagem, menos a primeira que foi enviada por comentário.

Essa foi uma das mais interessantes e que motivou esta postagem

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Uma pichação incomoda muita gente


Massa Crítica Fortaleza
O Povo

Olhe bem as duas imagens e responda: qual lhe incomoda?

                Se você respondeu a segunda, era o que esperava ter como resposta. Como pode uma praça tão bonita ser pichada por vândalos? Temos que parar com essas pichações, porque a cidade está ficando feia, não é? Será...?
                Vamos tentar entender algumas pichações: a parede está lá no seu canto parada (ainda bem) e chega alguém e a suja com alguma frase. Depois daquela pichação algumas pessoas começaram a olhar a parede e reprimir a atitude, mas se pararmos para pensar, em boa parte dos casos, a parede não tinha sido notada ainda, então aquela frase fez com que algumas pessoas começassem a notar o muro.
                Então a pichação já conseguiu fazer com que você direcionasse seu olhar para um local que, às vezes, não tem nada de tão relevante e não é percebido. "Mas a pichação tornou a parede feia! ", será? Não vou entrar no fato do belo aqui, porque isso é objeto de estudo da Estética na Filosofia, mas peço que reflita sobre o que chamou de feio e se pergunte se realmente achou feio ou aquilo lhe incomodou de alguma forma.
                As duas coisas podem acontecer mutuamente (achar feio e incomodar), mas supondo que em sua reflexão apareceu pelo menos o incômodo, podemos seguir o texto, porque o incômodo causado é algo bem interessante. Diversas pichações incomodam não pela pichação em si, mas pelo conteúdo, pela mensagem transmitida.
                Pichações onde encontramos mensagens políticas que vão de contra o consenso comum das pessoas transeuntes são as que mais incomodam, porque a mensagem já está ali na parede e, gostemos ou não, vamos olhar por um certo tempo aquelas palavras e se for o contrário daquilo que pensamos nos atingirá de alguma forma. Essa forma cabe a cada um de nós.
Página Pichadores da Filosofia (Facebook)
                Imagine uma pessoa que acredita que bandido bom é bandido morto, que é machista, homofóbica e “extremista” religiosa vendo pichações dizendo que machismo e homofobia matam, que temos que legalizar e descriminalizar as drogas, que de alguma forma as religiões cristãs possuem privilégios, que o sistema é violento e cai sobre o mais fraco... se essa pessoa não fizer uma reflexão, estiver estressada ou tendência a ficar com raiva, ficará com muito ódio, mesmo que não torne externo, porque aquilo a incomodou, mas não foi a pichação e sim sua mensagem.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Independência para quem?


                Há muito tempo atrás... (você nota que algo vai ser chato só pelo começo, mas não vai... eu acho) o que importa é que Pedin I, supostamente, chegou às margens do Rio Ipiranga em cima de um cavalo e resolveu cortar laços com Portugal.
                Hoje a data é comemorada com toda pompa que a data “merece” com desfiles das forças armadas. O que mais chama a atenção nesses desfiles é que podemos ver as pessoas que foram eleitas para o poder Executivo do Estado ou do Município, pois muitas dessas pessoas simplesmente somem com a mesma velocidade que o patriotismo de quem grita “Fora PT” aos domingos.
                Mas isso não vem ao caso agora. No mesmo dia que Dom Pedro gritou (volto é porra) e declarou o Brasil independente de Portugal, ele fez o Hino do Brasil que viria a ser o Hino da Independência onde existe diversas menções a liberdade e é uma pena que exista apenas na letra, porque...

... povo brasileiro, não posso dizer que podem olhar para a Pátria contentes com a liberdade, porque aqui ela ainda não raiou no horizonte para boa parte das pessoas. Sei que o medo de ficarmos servos das regras de outros países já passou, mas ainda existem grupos querendo que fiquemos calados de cabeça baixa e esses grupos estão no próprio país e sei que existem pessoas que dariam e estão dando suas vidas para termos a Pátria livre. Do que adiantou nossa mão poderosa contra os grilhões que nos forjava com deslealdade e astucia, se hoje zombam de nós? Zombam e querem usar nossos corpos como muralhas para se proteger. Parabéns para quem se o garbo varonil que resplandece na verdade é nosso suor? Brava gente brasileira, a saída é lutarmos para tornar a Pátria livre e espantar o temor servil.

                Nossa independência não pode vir comprada e nem vai. Vai ser com suor, sangue e muita luta, por isso, grupos que ainda estão colonizados aqui dentro, temos que nos unir e lutar... esse é o tempo de lutar.




Aborto na voz de Drauzio Varella e Pepe Mujica

Segue dois vídeos sobre o aborto. Em um fala o médico brasileiro Drauzio Varella e no outro o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica:




Recomendamos pular para 2m 55s:
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domingo, 6 de setembro de 2015

Abortando ideias

Estava andando por aí, meio perdido no tempo, quando avistei uma pessoa conhecida que não via há um certo tempo. Já até tinha esquecido que aquela pessoa tinha sido bem próxima um dia, então resolvi conversar um pouco para saber como andava a vida, como estavam as ideias e o que a pessoa tinha a dizer.

Aproximo-me e sou reconhecido de imediato. Esta pessoa estava um pouco estressada com algo que tinha lido em algum caderno político, então questionei:

­— O que aconteceu?
— Estava lendo aqui uma declaração que o Renato Roseno fez. — diz a pessoa.
— E o que ele falou de tão grave? — pergunto novamente.
— Ele é a favor do aborto! Um absurdo isso. Até admirava o que ele falava, mas falou uma merda agora.

Acabo assustando ao ouvir a pessoa dizer isso, então questiono:

— Mas onde está o problema?
— Como assim liberar o aborto é a medida mais correta? — responde-me perguntando.
— É uma situação complicada. Tente ver o problema por outros lados, ou melhor, de uma perspectiva mais ampla. — começo minha fala — Note que a questão do aborto está relacionada, também, com estrutura familiar onde muitas vezes a mulher não tem condições de criar a criança e diante de todo um conjunto de problemas resolve escolher essa alternativa.
— Não quer criar a criança, simples, entregue para a adoção... — fala com certa rispidez.
— Simples? Estamos falando de uma futura pessoa, de uma vida, nem sempre é tão simples. A adoção nem sempre é tão rápida. Se ela for adotada logo, tudo bem, mas se não for? Se cair em um abrigo que não têm tantas condições? Isso se for para um abrigo, porque essa criança pode ficar exposta a um conjunto de fatores que a “empurrem” para um destino não tão legal. Mas supondo que ela chegue em um abrigo, só que não seja adotada rapidamente. Você acha que as pessoas querem adotar crianças já crescidas? Geralmente procuram as mais novas e a coitada da criança, mesmo estando em um abrigo, crescerá solitária. Isso até poderia melhorar se não houvesse tanto preconceito com adoção feita por casais homossexuais.
— Então podemos simplesmente matar uma vida, porque a pessoa não tá mais afim de ter ela?
— Não é a questão de querer ter ou não. A pessoa só está diante de uma situação onde está sendo pressionada por todos os lados e não consegue achar outra saída e as vezes, dado o contexto, não há outra saída. Não é uma decisão fácil e o que você está propondo pode matar a criança jogando-a a sorte em algum contexto, que pode ser bem cruel.
— Eu ainda acredito que medidas públicas podem resolver o problema sem ter que liberar o aborto, como dar mais atenção as gestantes e fazer fiscalizações em lares de adoção...
— Acho que liberar não é a palavra certa, mas também acredito nas medidas públicas, porém feitas de outra forma. As pessoas que propõem a legalização do aborto também colocam no projeto todo um sistema de apoio psicológico a gestante para que ela consiga racionalizar a situação e ver se aquilo é o que realmente quer.
— Nós precisamos de medidas públicas voltadas para esse lado e que sejam urgentes, isso é necessário. — começa falando a pessoa — Agora veja por outro lado, as pessoas vão começar a praticar sexo sem segurança sabendo que se engravidar vão poder abortar...isso vai acabar gerando um grande número de pessoas com DSTs, aí teriam que pensar em como solucionar esse problema...nosso sistema de saúde é precário, teríamos capacidade para resolver esse grande número de casos de DSTs?
— Você precisa olhar esse assunto como um todo. Como já disse nos projetos procuram dar assistência psicológica antes de tomar a decisão, porque ninguém quer transformar o aborto em medida contraceptiva, até porque a gravidez já teria ocorrido. Também sabemos que em países que legalizariam o aborto, dando o acompanhamento necessário, a prática até caiu. Entenda, o aborto já acontece em nossa sociedade. A diferença é que muitas mulheres fazem isso em clínicas clandestinas colocando suas vidas em risco sem nenhuma segurança física ou psicológica e as que conseguem sobreviver são descriminadas quando chegam nos hospitais, pois temos uma cultura que criminaliza a mulher por quase tudo que ela faz. Sobre a ineficiência do nosso sistema de saúde: parte dele vem da falta de investimento e a outra parte vem da forma como as políticas de saúde são abordadas, ou melhor, as políticas públicas, pois a maioria é vista de forma isolada, porque não me venha dizer que tratar DST é algo somente de saúde, é educação, é tirar o tabu sobre o sexo, é conversar e explicar desde cedo como o mundo funciona.

E assim nossa conversa não durou muito depois da minha última fala. Nos despedimos e seguimos cada um para um lado. Ele pegou uma rua a esquerda e eu segui em frente. Sei que não o convenci de nada, mas que fui capaz de cutucar sua mente para pensar diferente sobre o assunto e daí construir um novo raciocínio.

E como tenho tanta certeza disso? Simples (agora sim o simples)... a pessoa em questão sou eu de três anos atrás que um dia falou tudo aquilo, mas um amigo cutucou-me em uma conversa e daí consegui começar a olhar a situação como um todo. Aqui só me dei a oportunidade de conversar comigo mesmo e mostrar para meu passado que tudo faz parte de um processo de constante mudança.

Não existe assunto que não se deva conversar, o problema mora em não debatermos os assuntos considerados polêmicos. Fazer isso, nesse caso, é aceitar que mulheres sejam consideradas pecadoras (seguindo uma vertente religiosa) ou criminosas por escolherem o aborto e, pior ainda, aceitar que muitas procurem clinicas clandestinas e coloquem sua saúde física e psicológica em risco. Em resumo, é aceitar um sistema que tenta esmagar a mulher.






segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Fim das férias

Pessoas que acompanham o blog, gostaria de fazer um rápido comentário sobre esse mês de férias e as postagens. Tivemos um bom número de interações com as publicações e isso é algo que motiva bastante, acredito que isso tenha se dado não só por ser período de férias, mas por ter tido uma abordagem diferenciada nas postagens: tivemos enquete, história em quadrinho, textos didáticos, respostas a comentários, boas indicações e um fluxo quase constante de postagens.

Contudo esse fluxo precisará ser reduzido, pois as aulas retornaram e o semestre será um pouco puxado, mas isso não quer dizer que as postagens irão parar. No máximo teremos poucas durante a semana, mas com a mesma qualidade ou melhor, e com temas flexíveis, então nem sempre ficará um tema claro, para isso estou pensando em uma solução.

Gostaria de pedir que não deixassem de nos acompanhar e de interagir com as postagens. Também gostaria de avisar que existe possibilidade da Universidade que estudo entrar em greve, ainda terá uma assembleia, mas isso já é algo que vem acontecendo em diversas Universidades Federais pelo país e caso aconteça aqui no Ceará todo o cenário de postagens do blog mudará, porque, em caso de greve, vou querer acompanhar de perto e, claro, repassar para vocês.

Não deixem de nos curtir no Facebook e de ver o último texto postado.

Uma boa volta às atividades!!!

sábado, 1 de agosto de 2015

Vício: uma questão de saúde

                Não deveria existir assunto proibido de conversar, principalmente aqueles mais delicados. Com relação a esses precisamos aprender a falar sobre, mas não deixar de falar e por isso foi fundamental falar sobre drogas ilícitas, por existir todo um tabu em volta do assunto.
                Esse tabu e a falta de diálogo sobre o assunto trouxe e continua trazendo diversos problemas, principalmente para as pessoas usuárias de alguma dessas drogas. O tabu envolvido coloca a pessoa em uma situação marginal em relação a sociedade transformando aquela pessoa em algo que precisa ser cada vez mais isolada do convívio e essa prática de negação do outro torna-se perigosa quando esse outro passa a ter um vício.
                Chegamos a um ponto que precisa ficar bastante claro. Não podemos mais tratar desse assunto nas pautas de segurança pública, porque o vício é uma questão de saúde, então não faz sentido investirmos de forma pesada em uma abordagem que não irá funcionar de fato.
                Note que o “problema” não está em usar algo e sim em tornar-se viciado. Daí algumas pessoas podem questionar o fato de que se ninguém usar, não teremos pessoas viciadas e isso é verdade, concordo, contudo o vício está além das drogas ilícitas, porque podemos nos viciar em qualquer coisa e não somente nas drogas ilícitas.
                Quando resolvi falar do meu vício e questionei aqueles que estavam lendo qual seria esse vício 7,14% falaram que sou viciado em maconha, 25% disse que sou viciado em álcool, 7,14% acredita que meu vício seria o cigarro. Já grande maioria (60,71%) disse que meu vício não era nenhum desses outros e daí diversos palpites surgiram: internet ou vídeo game, ler, escrever, matemática, livros e diversas outras opções. É muito bom tudo isso, mas meu vício é café.
                Mas estamos falando de café e não heroína, que mal tem de beber tanto café? Só o fato de ser um vício já é um grande problema e para piorar a quantidade de cafeína ingerida sempre está acima do recomendado, ou seja, estou exposto a um conjunto de doenças que posso desenvolver. E por que não parar? Por não aguentar a dor de cabeça e o estresse quando passo muito tempo sem tomar café, em outras palavras, porque a abstinência é mais forte, então o meu problema não é de segurança e sim de saúde, assim como todos os outros vícios. Válido lembrar que pesquisa recente aponta que pessoas estão se viciando em usar smartphone.
                E qual seria a solução para o tráfico? Muda a abordagem: descriminaliza, legaliza, pensa em um projeto eficiente, não faz propaganda de droga nenhuma, trata a pessoa viciada como uma pessoa doente, agora insistir em uma abordagem que não está trazendo fazendo efeito positivo não faz sentido.
                A guerra às drogas só fez jogar dinheiro fora, criar repressão e dar mais margem para o tráfico se expandir, então não faz sentido investir em algo que só fez piorar o problema. Também precisamos entender que enquanto tiver alguém demandando a droga, ela for ilegal e tiver um traficante para ofertar, teremos tráfico. É até simples.
                Para terminar:

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quarta-feira, 29 de julho de 2015

Antiproibicionismo - Rafael Valente

Fonte
            Quando chegamos a algum lugar para falar sobre drogas, seja em rodas de amigos, nas aulas da escola ou da faculdade, em palestras e seminários, geralmente as pessoas se posicionam a favor ou contra de forma superficial, como se fosse algo proibido de falar, e na verdade, as vezes parece ser isso mesmo, quando começamos a falar geralmente já chamamos a atenção das pessoas ao redor, se for entre nossa família então, principalmente com parentes mais velhos, mal se toca no assunto.
            Mas, na verdade, esse assunto não pode mais ser ignorado, antes até podia se esconder mais facilmente, mas hoje talvez por o consumo no Brasil ter aumentado, como apresenta o relatório do Escritório das Nações Unidas, assim como também por sua posição geográfica, o Brasil hoje é um das principais rotas do tráfico internacional, como aponta o mesmo relatório, como também as marchas da maconha, que após muito tempo sendo proibidas e repreendidas, hoje não dá mais para esconder esse tema.
            Assim como também na internet, existem “memes” que falam sobre drogas, páginas no Facebook, diversos canais do Youtube, grupos de Whatsapp, etc. Muito dos autores e das autoras que tem visões contraria a proibição das drogas se dizem ser antiproibicionista, mas o que significa ser antiproibicionista? E o porquê de serem contra a proibição das drogas, embora cotidianamente vemos na TV todos os malefícios que elas trazem pra sociedade?

sábado, 25 de julho de 2015

Guerra às drogas - Stuart McMillen

Vejam essa história em quadrinhos que fala justamente sobre o assunto dessa semana:

GUERRA ÀS DROGAS, por Stuart McMillenFonte: http://www.stuartmcmillen.com/comics_pt/guerra-as-drogas/#page-1Tradução por InterrogAção
Posted by Movimento Pró-Corrupção on Quinta, 22 de agosto de 2013


sexta-feira, 24 de julho de 2015

Quebrando o tabu (Filme)

Wikipédia
SINOPSE: Na década de 70 os Estados Unidos fizeram o planeta declarar guerra às drogas, numa tentativa de obter um mundo livre de drogas. Mas os danos causados por elas nas pessoas e na sociedade só aumentaram. Com várias personalidades como Fernando Henrique Cardoso, o filme sai ao encontro de soluções, princípios e conclusões, mantendo o foco das discussões em torno da descriminalização das drogas. Bill Clinton, Jimmy Carter e ex-chefes de Estado, como da Colômbia, do México e da Suíça, mostram o motivo de suas opiniões. É capturado o relato de pessoas comuns, que tiveram suas vidas atingidas pela Guerra às Drogas, até experiências de Drauzio Varella, Paulo Coelho e Gael Garcia Bernal. (Fonte Wikipédia)




domingo, 19 de julho de 2015

Meu vício

Segue relato sobre meu vício e como o conheci:

“Tudo começou quando eu tinha uns dez anos de idade, eu acho, já nem me lembro bem, mas lembro que no início não gostava tanto, mas consumia, porque... nem sei o porquê direito, talvez por influência de algumas pessoas mais velhas.

Só que essas pessoas controlavam a quantidade que eu tinha acesso. Eram pequenas doses e nem todo dia permitiam, mas de pouquinho e pouquinho fui aumentando as doses sem que notassem e quando alguns começaram a notar pediram para que eu parasse um pouco... só que eu já gostava e queria um pouco mais, então falaram que junto eu usasse outras coisas para não ficar tão forte, mas tudo isso tirava a sensação original e era a que eu queria.

Quando me dei conta já estava com doses altíssimas e consumia diariamente. Duas vezes ao dia, pelo menos, ou três quando sentia vontade. Se o dia fosse exaustivo, consumia até acabar e no outro dia sabia que iria precisar mais.

Às vezes assim que chegava da aula já ia consumir e quando meus amigos viram aquilo se assustaram. Alguns falaram que eu estava exagerando e que seria bom parar. Parar? Eles é que estavam perdendo, não sabiam o quão bom era tudo aquilo. Ficava relaxo, descansava... nada melhor do que esticar as pernas durante todo o momento.

Os anos foram passando e eu consumia grandes quantidades, até que comecei a passar mal, ficar doente e sem ânimo, então vi que era a hora de parar. Parei, mas assim que dei uma melhorada voltei ao meu vício, ou melhor, não era um vício, eu estava quase especialista em experimentar, sou um profissional.

E assim segui no ensino médio. Só que resolvi não consumir por alguns dias e a dor de cabeça começou. Muita dor e falta de vontade de prestar atenção no dia, mas assim que eu consumia tudo ficava perfeito novamente, precisava disso para começar meu dia praticamente.

Entrei na Universidade e vocês sabem como é né? Conheci variações que considerava melhores, então resolvi provar todos os locais que tinham ao redor da Universidade e até comentava com alguns amigos quais eram os melhores. Às vezes até indico para algumas pessoas locais que devem ir ou não.

Hoje até controlo melhor tudo isso e consigo reconhecer que é um vício. Tento reduzir a quantidade que consumia há quase dez anos e confesso que consegui, mas um pouco todos os dias me faz bem... e aí, qual é o meu vício?”


Qual o meu vício?
Maconha
Álcool
Cigarro
Outro (comente)
(Para garantir comentem o que vocês acham que é meu vício)



terça-feira, 14 de julho de 2015

Linchamentos, a justiça popular no Brasil (Livro e Entrevista)

Fonte
"Linchamentos: A Justiça Popular no Brasil - O Brasil está entre os países que mais lincham no mundo. Nos últimos 60 anos, mais de um milhão de brasileiros participou de ações de justiçamento de rua. Neste livro oportuno e inquietante, o sociólogo José de Souza Martins busca, além dos motivos próximos, as raízes profundas dessa antiga prática, verdadeiro ritual de loucura coletiva." (Retirado do site Skoob).



Entrevista com o autor:
Postagem Anterior --- Postagem de uma amiga

segunda-feira, 13 de julho de 2015

"Brasil tem um linchamento por dia, não é nada excepcional" - Reportagem de EL PAÍS

MATÉRIA ORIGINAL

Por María Martín:

"A cena de mais um linchamento pinçou de novo estômagos e consciências em boa parte do Brasil. Nesta segunda-feira, Cleidenilson da Silva, de 29 anos, morreu de joelhos. Ele foi espancado até a morte por um grupo de moradores após um assalto frustrado a um bar no Jardim São Cristóvão, um bairro pobre de São Luís, no Maranhão. Um adolescente que ia com ele foi resgatado e preso pela polícia. Amarrado pelo pescoço e pelo abdômen com uma corda a um poste, o corpo desnudo de Cleidenilson foi exposto e fotografado frente a uma multidão curiosa, vizinhos dos que o mataram. Mãos e dedos impressos em sangue tingiram a cena, mas o episódio é mais um no Estado, mais um no Brasil. “Brasil tem um linchamento por dia, não é nada excepcional nesta rotina de violência, este caso não tem nada de diferente do resto, ao não ser essa imagem que choca”, explica o sociólogo José de Souza Martins, alguém que não se surpreende mais diante a brutalidade. 
Fonte
Souza Martins investiga há 20 anos os linchamentos no Brasil. O primeiro episódio do qual se tem registro aconteceu em 1585, em Salvador, quando um índio cristianizado que se achava Papa foi linchado até a morte por algo que, provavelmente, ofendeu os fiéis. O último (que conhecemos) foi Cleidenilson da Silva. 430 anos separam um do outro. A pesquisa de De Souza, baseada em 2.028 casos de linchamento, materializou-se no livro Linchamentos - A justiça popular no Brasil (Contexto, 2015). De Souza fala para EL PAÍS sobre o sentimento de que a melhor justiça é feita com as próprias mãos e que torna Brasil campeão da crueldade. "Nos últimos 60 anos, um milhão de brasileiros participaram de linchamentos", afirma no livro. Enquanto a entrevista telefônica acontecia, o diário maranhense O Estado trocava a manchete de seu site: “População tenta linchar assaltante em São Luís dois dias depois de barbárie que chocou o país”.
Pergunta. O que você pensou ao ver o novo linchamento acontecido no Maranhão?
Resposta. É mais um linchamento. Brasil tem uma media de um linchamento por dia, não é nada excepcional nesta rotina de violência, este caso não tem nada diferente do resto ao não ser a imagem, que choca outras pessoas. A atenção publica é atraída mais pelas imagens, que pelo fato de ter virado rotina.

domingo, 12 de julho de 2015

Reflexões sobre linchamento

Fonte
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Essa penúltima charge gerou um clima preocupante para o chargista que sofreu ameaças nas redes sociais por causa do seu trabalho ou como o próprio definiu: virtualmente linchado. Esperamos que essas duas práticas, tanto no virtual quanto no real, diminuam e que não seja suficiente para silenciar pessoas que fazem charges, blogs e vídeos de qualidade que proporcionam reflexões que vão além do superficial dos ocorridos.



sábado, 11 de julho de 2015

Linchamento: uma das manutenções da violência

                Já escrevemos muitos textos sobre assuntos que não quisemos escrever a priori por causa de uma temática pesada ou de um contexto problemático, mas não podemos nos dá o luxo de não debatermos esse assunto, porque não trazer esse debate é permitir que a violência perpetue por meio de uma omissão, então é necessário fazer um “ataque” forte nesse assunto e isso vem por meio de trazer as pessoas a refletirem o assunto.
                É fato que as pessoas estão cada vez com uma sensação maior de insegurança e isso vai fazendo com que algumas pessoas pensem em trazer segurança por meio de atos que em seu desenrolar apenas confirmam uma insegurança e transformam o inseguro no agente da insegurança (vocês vão entender um pouco melhor mais na frente).
                Vamos estabelecer dois pontos: vivemos todos interligados em um sistema e temos violência. Se você costuma ler os textos deste espaço e acompanhar o raciocínio holístico que temos, então já concordará que vivemos todos interligados por meio de interações e outros processos que garantem uma organização em rede. Se você não concordar ou não acompanhar os textos, não tem problema: pegue você agora e reflita sobre você nessa situação.
Fonte

                Você é uma pessoa que está lendo esse texto e só de estar lendo ele já estamos interagindo com você, pois é por meio dele que chegamos até você, mas você não está interagindo conosco, ainda, contudo você resolve fazer um comentário e daí já temos uma resposta. O seu comentário foi impulsionado por nós e o seu comentário irá impulsionar reflexões em nós. Nós estamos conectados. Só que não estamos conectados apenas com você, essa conexão é estabelecida com diversas pessoas e as respostas dessas diversas pessoas são acessíveis a você também, então você está interagindo com elas e pode interagir diretamente. Já temos uma rede de interações, só neste texto, mas ele pode ser compartilhado com diversas outras pessoas e proporcionar interações mais profundas, ou seja, temos uma rede grande. Agora troque assunto do texto por qualquer outra coisa, troque as pessoas por algo que se adapte a troca anterior, troque o texto e os debates por algo que represente a nova situação e com um pouco de esforço você consegue ver uma nova rede sobre uma nova situação, então a rede continua ali.
                O mesmo acontece com a violência em nossa cidade. Temos um ato de violência, mas não olhe só para o ato em si, mas olhe para todo um contexto. Olhe para a pessoa agressora (o que levou ela a cometer a agressão?), olhe para a pessoa agredida (o que a agressão está gerando nela?), olhe para a agressão (que tipo de agressão é essa?), olhe para as pessoas ao redor (como elas estão reagindo a tudo isso?) e olhe para você (o que você está olhando?). Você conseguiu notar algo maior nisso tudo? Algo que está além daquilo que estava sendo observado sem muitos cuidados.
                Você tem uma rede... de violência e dependendo da situação, agora foquemos no linchamento, temos uma rede violenta gerando mais violência, só que estamos em uma rede, então essa violência da rede continua ali, talvez mais intensa, mais brutal, mais humilhante, mas ainda violenta.
Fonte
                É interessante como alguns tentam defender o linchamento dizendo que a pessoa linchada era suspeita disso ou daquilo e que fez isso ou aquilo. Primeiro que suspeito não é comprovado, é suspeito e segundo que não importa o que a pessoa fez, o linchamento não é solução. Querer resolver violência com mais violência é um equívoco enorme, porque a pessoa que cometeu o crime é linchada; os linchadores viram criminosos; vão linchar os linchadores e manter o ciclo? Notam o tamanho do absurdo?
                Não estamos defendendo ninguém aqui, muito menos quem linchou. Recentemente tivemos um caso onde uma pessoa foi morta sendo linchada, então todos os agressores são assassinos e agora, José? Terão que decidir se vão seguir o raciocínio e linchar a população ou manter como algo seletivo e linchar quem quiser, seja qual for escolha será a condenação da própria argumentação, porque é algo que vai garantir a manutenção da violência.
                Quem defende esse tipo de ato não quer justiça, quer vingança. Na verdade, quer um bode expiatório para jogar todas suas frustrações, raiva, ódio, rancor e decepções com a vida. No fundo no fundo não querem nem tratar suas próprias feridas, quem dirá as feridas sociais como a violência.

                Então espero que esse texto tenha ajudado de alguma forma. Não estamos aqui querendo lhe forçar a nada e nem impor nossa opinião e visão, mas estamos querendo convidar você a ver o que está além e refletir um pouco, porque por mais que tenhamos raiva, ódio, rancor ou o que for não podemos deixar a racionalidade sumir.