domingo, 21 de fevereiro de 2016

A vida é um desafio - Diego Costa

Imagem: João Paulo Brandão
O que é ser negro? Até o dia de hoje, eu só sabia, só sentia um lado, o marginal, o suburbano, o que sempre leva a culpa, o que quase sempre é parado pra levar um baculejo, sempre o suspeito. Quando a situação é ruim, a coisa é preta, o neguim de cabelo ruim, piadas, risos e deboches. Mas o que esperar de um jovem negro da periferia onde a criminalidade anda solta, onde sempre, sempre o dia é tentado a usar drogas ou pegar numa arma. E pra que? Ganhar moral, status, se sentir seguro. E a escola onde a tensão bate na sala de aula todo o dia. Quando a professora entra sentimos a tensão no rosto dela.

Nunca vou me esquecer de uma conversa:

“- Hoje é dia de prova e eu não sei de nada”
“- tu trousse a pesca? ”
“- eu trousse algo melhor, vamos tirar 10”

E ele me mostrou uma arma

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Não sairemos das ruas

Não adianta xingar, gritar, fazer gestos ofensivos com as mãos... não sairemos das ruas!
Se fizesse uma lista com todos os palavrões que ouvi, já teria montado um dicionário de expressões ouvidas e se eu fosse gritar de volta, já iria ser preciso fazer os mesmos gestos ofensivos como “retribuição”.

Não adiantar ficar encarando e esculhambando quando passar... não sairemos das ruas!
Sabe aquele olhar de raiva ou aquela palavra mal dita gratuitamente? Não vai adiantar, porque não sou intimidado com cara feia, afinal me olho no espelho todos os dias.

Não adianta ameaçar ou ficar fingindo algo para amedrontar... não sairemos das ruas!
Parar o carro do lado ou ficar acelerando no sinal vermelho não será o suficiente. Muito menos se vier acompanhado da frase “vou passar por cima”.

Não adianta falar que é você quem manda na rua ou mostrar... não sairemos das ruas!
Você não é o dono da rua e nem adianta tentar mostrar algo, porque estou bem consciente da minha posição em cima desse asfalto.

Não adianta falar que seremos roubados durante o caminho... não sairemos das ruas!
Posso ser roubado fazendo isso ou não; posso ser roubado de outra forma, mas não quero deixar que as palavras negativas me roubem a liberdade de sentir o vento no rosto enquanto o suor escorre por todo esforço realizado.

Não adianta fazer “fina educativa”... não sairemos das ruas!
Estou educado o suficiente para saber que o local da bicicleta é ao seu lado em uma avenida/rua e sei que a distância lateral tem que ser 1,5m e mesmo que você insista em não respeitar isso, não sairemos das ruas. Não sairemos, porque no momento que a pessoa que pedala aceita esse tipo de atitude e para de pedalar permite que o veículo maior, não só o “vença”, mas deslegitime a bicicleta como veículo de transporte.

Pedalar contra todas essas adversidades é buscar o reconhecimento de que a bicicleta é um veículo e precisa coexistir com outros veículos no trânsito; é tentar mostrar que é possível um fluxo harmônico entre as peças quem compõe essa rede muitas vezes caótica; é acreditar que existem formas alternativas e eficientes de deslocamentos nas cidades e legitimar a utilização da bicicleta como meio de transporte. Fazemos parte do trânsito, compomos o trânsito e uma hora terão que entender isso.

Não adianta nos atropelar... não sairemos das ruas!
Essa parte é um pouco mais complicada, mas também não sairemos. Já tentaram me atropelar, já tentaram atropelar pessoas conhecidas e desconhecidas. Já conseguiram, mas não deixamos de pedalar. Por cada pessoa que morre no trânsito ao pedalar vítima da má estrutura viária para a bicicleta, da imprudência de outros veículos ou qualquer outro motivo, não podemos deixar de pedalar. Ao fazermos isso estaríamos considerando cada falecimento em vão, enquanto continuar pedalando é carregar o nome de cada pessoa que não desistiu.

Cada pessoa que faleceu pedalando e sem desistir de acreditar nessa forma de locomoção é responsável pela mínima estrutura que temos hoje. Foram seus esforços e sacrifícios que trouxeram um pouco mais de segurança para cada um de nós, então é justo com essas pessoas que abandonemos a bicicleta.

Sabendo que posso falecer pedalando e que posso ter problemas ao reivindicar por mais estrutura para a pessoa que pedala é que tenho de pedalar mais. Porque da mesma forma que as pessoas que já passaram por essas ruas lutaram para eu termos o que temos hoje, somos responsáveis pela estrutura que as pessoas do futuro vão ter. Na verdade, as pessoas de um futuro tão próximo que pode se confundir com o presente ou, quem sabe, até mesmo você chegará a aproveitar essa mudança. Por isso não podemos sair das ruas e deixar lado a luta para legitimar a bicicleta como meio de transporte.


Não sairemos das ruas por tantos motivos, por tantas pessoas, mas nesse texto, em especial, não sairemos das ruas em honra ao Sr. Vicente Veloso Neto, o Xuxa, que faleceu aos 67 anos de idade enquanto pedalava pela cidade de Fortaleza – CE.

Vicente Veloso Neto, o Xuxa (Jornal O Povo)



terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Carnaval pra quem? - Diego Costa

Carnaval existe crise?

Brasil, meu Brasil brasileiro, terra do samba, do futebol, do carnaval, doce carnaval! Festa essa que nos esquecemos de todos os problemas que temos (uma espécie de amnésia? Ou apenas uma marolinha?). Na TV só vemos festas e mais festas do Monte Caburaí ao Chuí, que esquecemos até da chamada ‘’crise’’.

Crise o que é isso? No carnaval tem crise? Onde estão as altas taxas de juros e o desemprego? Cadê? Parece até que não existe esse negócio de crise. Enfim nosso Estado é cheio de problemas, que desaparecem em um feriadão, pois quem é que vai querer saber do desastre de Mariana que já esta com três meses, ou com a situação dos refugiados da Síria, ou com a precarização da educação, e quem vai lembrar dos “nobres Políticos”. Claro que não, pois é Carnaval e seus problemas acabaram.

E assim seguem as propagandas de a melhor festa é aqui e tudo mais. Enquanto uns festejam a crise, outros sofrem com ela, pois quem está sem emprego, depois do meio dia de quarta ainda vai estar sem emprego e a “crise” vai voltar a ser “crise”. Temos o Pão e o Circo.


Carnaval pra quem?
Graduando em Geografia (UECE)





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