segunda-feira, 30 de abril de 2018

O casal.


Olha aqui, eu, mais uma vez escrevendo ou tentando escrever sobre o cotidiano de uma cidade violenta, mas que em determinadas ocasiões ela respira amor, paixão e saudade.
Antes de começar aviso logo caro e cara leitora são impressões fatos momentos de uma semana no mês de março que me fizeram em dias espaçados lembrar um pouco do sentido desse negócio chamado vida.

Em uma semana que tinha para ser “perdida” no no meio do tempo aconteceram coisas que não se acontece todo dia.

Momento 1: o quase assalto.

Quando você mora em uma cidade onde se torna comum os assaltos em ônibus ficamos apreensivos a cada parada que o bus dá, e como todos os dias na minha ida a UECE, sobe um casal um homem branco e uma mulher negra. O ônibus estava meio cheio, mas tinha umas cadeiras vagas, eles pulam a catraca e sentam os dois do meu lado e o diálogo começa.

-       O que você tem? Não está com medo da Gente fazer a limpa no busão?
Eu estava viajando nos meus problemas e pensando em coisas nada ver com nada. Mas respondi.

-       Opa, rapa no que? Isso é um assalto?
O casal respondeu:
-       Pra falar a verdade mano estamos é com fome, sabemos que o povo aqui tão morrendo de medo pesando que isso aconteça. Mas na verdade queremos apenas água e comida.
     
Eu que to no caminho para ser um Professor, vejo aquela cena e não penso duas vezes. Abro a bolsa e entrego a minha marmita e a garrafa de água. Na medida em que eles vão comendo falamos sobre a vida, futuro e passado, e que uma das metas da vida deles era voltar a estudar e ter um teto fixo, e o casal ao me perguntarem respondi que, hoje estou reorganizando (mais uma vez) e caminhando.
Foi aí que o mano falou:
-       Você está é acuado com alguma coisa.
E ele estava e está certo.

Momento 2: os idosos.

Como alguns sabem eu estou me aventurando de bike pela cidade, vendo ela com outros olhos, sentindo, cheirando tendo outras sensações. Em uma dessas minhas pedaladas paro no passeio público (sempre paro lá) pois ali traz várias lembranças boas e tudo.  Quando sento no banco e estou escrevendo no caderninho azul pequeno, um casal de idosos deveriam ter os seus 70 e poucos anos, sentaram do meu lado, e me observaram e o homem falou:

-       Bom dia jovem está tudo bem contigo?
-       Opa, está sim.
-       Pois não parece, rsrsrs (risos) um olhar como o seu e um caderno na mão está escrevendo algo que tem sentimentos.
-       Sim sim.
-       Olha, se for pra escrever escrava! Tudo o que sente entregue a ela, esse seu olhar é o mesmo olhar que eu olho para minha companheira a mais de 40 anos.

Aquilo me impactou, mas também como não ficar impactado com esse depoimento? Eu fiquei observando os dois e em um momento daquela manhã me vi ali de várias formas. Continue observando o quanto eles estavam felizes e rindo, pareciam que ali o tempo parasse e existisse apenas o tempo deles, o mundo deles, o momento deles. Ao final do descanso deles eles voltaram e falaram:

-       Aproveite, e escreva. Esse aqui sempre me escrevia lembro como se fosse hoje, o que tinha Tudo para ser um dia normal, ele vinha com uma poesia e o eu te amo, e me fazia e ainda me faz feliz.

Nessa hora a gente não aguenta, observa e chora. E veio o abraço e completaram.

-       Você é um jovem de um coração apaixonado, sabemos isso porque eu sempre estou assim, portanto viva.

Fortaleza, cidade doida e violenta, mas que nessas horas a gente ver o amor acontecer, e isso tudo me deram força para continuar seguindo na caminhada, que sinceramente não sei onde vou parar, mas continuo caminhando.

Nessas duas situações eu me vi, na primeira poderia ser eu ali no ônibus, querendo fazer um assalto. No segundo no passeio eu me vi de duas formas.
A primeira sentando naquele mesmo banco com uma companheira ao lado, e a segunda me vi alí sozinho, olhando para o mar com o mesmo caderno na mão, mas tenho certeza que estarei feliz com toda a história que construí na vida e as duas com o mesmo coração apaixonado porque como falava Belchior “ meu coração selvagem tem essa pressa de viver “.

Diego Costa Lima



Coração Selvagem - Belchor