sábado, 31 de dezembro de 2016

Um ano de ocupação e leitura

                Esse ano de 2016 entra na lista dos anos mais conturbados e movimentados que já vivi. Se tivesse que resumir em duas palavras escolheria “ocupação” e “leitura”. Entre coisas boas e ruins, fica o julgamento dessas coisas ao individual, quem viveu com intensidade esse ano teve que utilizar de bastante ocupação e muita leitura.
De 2015 até hoje podemos acompanhar no país os movimentos de ocupações por secundaristas e discentes universitários que transformaram suas escolas, colégios, faculdades e universidades em novos espaços para formação. Em luta contra reorganização das escolas em São Paulo, reformulação do Ensino Médio, PEC 241/55 (PEC do teto de gastos públicos), Governo (fora) Temer e outras pautas pertinentes as necessidades de cada local, os diversos grupos de ocupações mostraram sua força e iniciaram perturbações que trarão transformações nos próximos anos.
Para quem se prende em competição e acredita que tudo não passa de ganhar ou perder, vai dizer que quem lutou esse ano perdeu, contudo ignora a capacidade transformadora de interações em grupo. Interações que aconteceram em grupo e foram construídas em grupo, ou seja, sem ler teorias sobre trabalho em grupo ou cooperação esses grupos colocaram em prática o que é defendido e orientado por diversas pessoas da área da educação e formação, em especial a Aprendizagem Cooperativa.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

2016, um ano de afirmações

Não sei muito bem como explicar esse 2016, várias coisas aconteceram e deixaram de acontecer muitas vezes por vacilo mesmo, mas as coisas vão fluindo na medida do possível, tem que fluir.

Convivi esse 2016 com minhas crises financeiras, de as vezes não ter a grana da passagem pra ir para a UECE, ter que esperar sempre o mesmo motorista do bus, (porque ele sempre me dá carona), e na volta as vezes eu pulava, ou quando eu pegava ônibus da cobradora que deixava eu descer por trás.

Mesmo sendo bolsista tinha sempre essas faculdades, e como faz pra ir nas aulas de campo então? A primeira eu consegui ir economizando muito, gastando super pouco na cidade, mas deu certo, na outra tive que pedir dinheiro emprestado ao meu segundo pai, Henrique Gomes de Lima.

Nesse tempo, de janeiro a abril, me apaixonei, quebrei a cara, ganhei uma festa de aniversário, (e eu não desconfiei nada), vi meu Vozão… bem né não foi muito bem, mas sempre vida que segue.

E também em abril começou uma greve na UECE, com isso lá vem a pressão de casa, pra você arrumar um emprego, mudar ou não mudar de curso? “Movimento social Diego? Isso não dá dinheiro”. Tive que segurar as pontas, do meu Curso, de casa, das minhas finanças, e de outras cobranças. Seja no movimento social que eu contribuo, nos grupos de estudos, em casa e isso tudo com todo o rebuliço no país.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

365 dias de consciência negra

Todo ano é mesma coisa, chega o dia 20 de novembro e parece que o racismo não existe, todo mundo de boas, “somos todos iguais”, ”nossa pauta é fortalecer o movimento negro” e etc... fico às vezes, quase sempre, de saco cheio dessas frases, eventos e mais eventos no dia 20 na televisão, então os programas compram a ideia e fazem a festa da negritude, “olha só esse rap, veio da periferia, viva”, chamam atores, atrizes, cantores, cantoras, para mostrar ao país, “olha a cultura negra agora, vamos fazer link com Salvador”

Mas e depois do dia 20? Todos voltaram a ser racistas novamente e dizer que lugar de pret@s é na periferia, que não pode entrar na universidade etc... Claro que o dia 20 de novembro tem que ser lembrado, mas só dia 20?

Exemplos:
O dia 24 de junho de 2001 morreu Geógrafo Milton Santos, que antes de eu entrar na universidade, eu pensava que ele era branco.

No dia 13 de fevereiro de 1977 faleceu Carolina de Jesus, escritora negra que escreveu livros Pedaços da Fome, Quarto de Despejo, antes de conhece ela, eu pensava que ela era branca.

No dia 10 de Abril de 1992, nascia Diego Costa, ora quem é Diego na fila no pão? Diego é um jovem negro da periferia, estudante de Geografia, que depois que entrou na universidade muitos tentam o embranquecer, a academia tenta lhe embranquecer, a sociedade tenta todo dia isso, mas não vão conseguir.

Então só tem o dia 20 de novembro é?

Sabe o que Milton Santos, Carolina de Jesus, Zumbi dos Palmares, Dandara dos Palmares e Diego Costa tem com comum?

Todos(as) são Negro(as) que lutam contra o racismo.
São cidadãos Negros Brasileiros

São cidadãs Negras Brasileiras.





segunda-feira, 22 de agosto de 2016

DIÁRIO DE UM SUBURBANO: 24º Encontro Estadual de Estudantes  de Geografia do Ceara - EEEGE.

Na ultima semana aconteceu o 24º Encontro Estadual de Estudantes de Geografia na cidade do Crato (Cratinho de açúcar). Bem o que falar desse do EEEGE? Eu sinceramente não tenho nada pra falar, acho que estou curtindo a "vibe" das lembranças, das dilatações de pupilas que eu tive nas mesas, nas culturais, nas “não culturais” em tudo, cada momento desse EEEGE foi sem explicações.

Ao chegar na Urca me deparo com o “caos” uma assembléia pra decidir de vai ter greve, eu meio atordoado da viagem sem saber pra onde ir. A plenária acaba, não vai ter greve, mas uma coisa me deixa inquieto alunos ofendendo professores do mais diversos insultos, “vagabundo” foi so um exemplo isso me faz lembrar da UECE onde não só alunos insultando professores, mas professor falando mal de professor. Falando mal de aluno só porque apoiava os professores que aderiram  a greve. Eu sou vagabundo porque tem alunos que chamam de um sem futuro, porque é  o estudante que participa movimento social ( Levante Popular da Juventude), é o estudante que vai na reitoria brigar por um ônibus pra ir pro EEEGE, e ainda sou o negro pobre de periferia,   estou estudado numa Universidade Publica pra ser Vagabundo, porque eu vou ser professor que tem que dar aula nos três turnos. Enfim.

Mesa de Abertura - EEEGE 2016
fonte: https://www.facebook.com/eeege2016
A Construção de uma Geografia combativa começa dentro de cada uma dos 300 inscritos no evento, que vieram para contribuir e construir, eu, este simples ser aproveitei ao Maximo e acho que dei minhas contribuições na medida do possível, do meu jeito da minha forma, indo pro lado e pro outro chamando pelo nome doce do evento: “Cadê Igor?”. E o que falar de Igor? Esse poeta do Cariri, que sempre me ajudou antes do evento, nas listas dos participantes da UECE, quem já pagou, quem não pagou, tivemos momentos de desabafo um pro outro, e sempre falávamos: “cara vai dar certo” e deu! Tudo  atingiu as expectativas, as mesas sem comparação, os GDS, os GTS, os 2 campos e claro  a forma que fomos recebidos pela Comissão Organizadora de uma simplicidade massa. As ouras delegações UFC, FAFIDAN, UERN, também so elogios!

Saio do evento com uma ideia  que, estou vendo articulações sendo feitas entre as escolas de Geografia do Ceará (UECE-UFC-URCA-UEVA) por que luta de um, é luta de todos.
Que venha o 25º Encontro Estadual de Estudantes de Geografia do Ceará, na UECE campus Limoeiro – Fafidan!
No fim, nao tem fim, é apenas o começo!

EEEGE GO!

“Comissão
A UECE se apaixonou
Pelo que URCA Organizou
E pelo close que na acabou!

Eu vou fazer uma promessa
Pra FAFIDAN arrazar
E em limoiro vamos nos encontrar

Eu to na militância
Pra fazer acontecer
Esse eeege que já vai nascer
Todo estado vai comparecer

É tão ruim quando o c.a é fuleragem,
Mas ai vem o coletivo e arrasa na organização

Mais voltando para o agradecimento
O coração fica doendo
Pensando logo em retornar

Mas o EEEGE (EEEGE)
Integra o conhecimento
Eu sei (eu sei)
Que daqui vou sair bem, diferente”



Delegação UECE - 2016
fonte: https://www.facebook.com/eeege2016/

                                                         



quarta-feira, 15 de junho de 2016

Memórias


As vezes vem umas lembranças do meu ensino fundamental 2002, piadas, risos e apelidos que eu recebia na nessa época, ainda estão na minha mente, mas né o que se espera de uma sala de aula embranquecida com menos de sua metade ser feita de negros.

O que me entristecia era os manos fazendo a mesma prática. Uma tarde a professora de português chamou dois alunos pra irem na biblioteca pegar uns livros pra aula, já que naquela época não se tinha livros pra todo as turmas de 5º serie, trouxe cerca de 10 livros perto da sala, meu amigo também trouxe mais 10. No fim da aula a professora pede pra nós irmos deixar os livros novamente. O sinal do recreio toca, os meus livros caem no chão, ouço risos e cochichos, lembro como se fosse hoje das frases: “tão magro que nem pode com os livros”, “negro é osso”. Na fila da merenda mais frases: "deixa ele passar o neguinho ai precisa ficar forte” e mais risos, eu até tentava levar na esportiva, mas a quem eu quero enganar. O recreio naquele dia foi um tormento, 20 minutos que pareciam 20 anos. No dia seguinte pensava que tudo ia ficar de boas, mas não! Vinha mais e com apelidos (desculpem, mas não vou dizer).

sábado, 23 de abril de 2016

Feliz aniversário

“Aos olhos da sociedade mais um bandido”

09 abril de 2016 periferia de Fortaleza, tinha tudo pra ser um final de semana normal, afinal de contas era véspera do dia 10. Pela manhã vou a uma reunião de planejamento do grupo de estudos que participo, o GEMA, na escola Adauto Bezerra, que fica no bairro de Fátima, pra planejar um ciclo de estudos sobre a cidade de Fortaleza. No caminho até a parada passa por mim motos do Raio, eu meu subconsciente penso logo “vão me parar”, mas não ocorre acho que pelo fato de eu estar com uma blusa que fazia referência a UECE me fazia menos suspeito.

Pela tarde fui convidado por uma amiga minha, Daniela, a participar de uma roda de conversa sobre feminismo Negro na escola realizada pelo Movimento Hip Hop – Nós por nós na 2 de Maio,  lá conversamos sobre várias questões um espaço muito rico de informações: o processo histórico do movimento feminista, a relação com a mulher negra nesse processo até a chegada dos dias de hoje. Espaços esses são extremamente necessários nas escolas publicas das periferias de Fortaleza, para o empoderamento, conhecimento, de tudo ao seu redor.

Pois bem, depois de um dia riquíssimo de informação super de boas, venho eu com mais 3 meninas caminhando tranquilamente pelo Jardim União quando me despeço delas e entro na rua Silvanira de Jesus...
Eu vejo o raio
O Raio me vê
- Deita, deita, deita, Vagabundo...

domingo, 3 de abril de 2016

Aventuras de um suburbano: show do Iron Maiden

Imagem de Diego
24 de março de 2016 quem poderia imaginar, eu num show da melhor banda de heavy metal de todos os tempos, na cidade onde nasci, cresci.

A espera de longos 3 meses desde o dia que eu comprei o ingresso, foi uma coisa de louco, por que mesmo com o ingresso em mãos ainda na tinha caído a ficha de que eles vinham pra cá, uma espera quase que sem fim. Claro que com a compra do ingresso algumas coisas deixei de fazer, (foram todas as minhas economias). “Diego vamos sair? Cinema”. Não tenho grana! “Diego vamos na praia?” Não tenho grana! Enfim, conheci o outro lado da cidade os programas que da pra fazer sem, grana, enfim o show do Maiden me faz aproveitar a cidade de uma forma mais proveitosa, bem de boas. E o carnaval? Carnaval ora pra quê? Se o meu carnaval está um mês de distância, era só esperar.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Desmilitarização da mentes

“A policia serve para manter o bem estar e a paz na cidade”

Fonte
Me pergunto se essa frase está certa, para garantir a paz e o bem estar precisamos de fardados armados circulando entre nós, para decidir o que é certo ou errado. Afinal o que certo ou errado, eles? Se eu estou parado na esquina, estou errado, se ando, estou errado, se estou sem fazer nada, tá errado e se eu pensar em responder é desacato.

A paz está onde a policia está? Aqui “nasareas” quando chega a tensão corre fundo de todos, sempre com suas armas em punho avisando pra se afastar e “ai” de quem entrar no perímetro. Estava tudo na paz tudo no bem estar, até eles causarem a tensão de sua simples presença.

Não lembro de quem me falou essa frase “a periferia é resultado do que a policia faz com ela”. Nada é por acaso, tudo é resultado um triste resultado, os fardados que estão na periferia não são os mesmos que estão nas áreas ditas nobres da cidade, alias, por que você tem esse titulo de nobreza? Eu também sou nobre. Posso ser até mais nobre que você, enfim. A verdade é que a policia não é preparada para sociedade que temos.

Fecho meu texto com um caso:

segunda-feira, 21 de março de 2016

5571: o número da impotência

                O que pode acontecer com o número 5571? Endereço, pedaço de um telefone, algum bilhete de loteria. É algo tão aleatório que poderá remeter a qualquer pessoa, qualquer lembrança. Em mim? A impotência. 5571 é o número da impotência.
                O que pode fazer um ciclista depois de pedalar seus 5km e 571m? Nada além de relaxar na noite do centro de Fortaleza, ou pelo menos deveria tentar. Contudo, o 5571 estava um pouco próximo e eu mal sabia de sua presença.
                Depois de pouco mais de um minuto e meio, que, em segundos, é pouco mais de 92 e em seus milissegundos equivale 5571, o 5571 chegaria próximo a mim. Noto que algo está se aproximando de minha bicicleta, mas não tenho tempo de definir com clareza o que é, só percebo que essa aproximação está inferior a distância de 1,5m, então estico o braço para mostrar a distância que preciso para ter uma segurança.
                Contudo, era o 5571 que ao ver meu braço levantado avança com toda velocidade, o que me obriga a retirar a mão com maior velocidade. Consigo manter o equilíbrio na bicicleta, então reclamo pela ação do 5571 e quando faço isso o 5571 logo grita “coloca a mão de novo para você ver”, “na próxima vez continua na minha frente”... que reação tomar ao ser ameaçado dessa forma e de outras? Não demora muito e ele está atrás de mim, mas o que fazer? Denunciar o que? Para quem? Sinto só aquela impotência do trânsito enquanto vai ficando para trás aquele 5571 estampado na pintura da viatura!

sexta-feira, 18 de março de 2016

Três anos de devaneios

Hoje o blog Devaneios Universitários está fazendo três anos e com algumas novidades que serão explicadas no vídeo:





Então é isso, agora temos dois autores no blog e esperamos conseguir construir textos cada vez melhores.

domingo, 6 de março de 2016

Até o dia 18...

Pessoas, ultimamente o blog Devaneios Universitários vem movimentando um bom número de visualizações e isso é algo que agrada bastante, porque, provavelmente, é um reflexo da qualidade das postagens e do cuidado que temos. Talvez não seja isso, talvez não tenhamos qualidade, mas ainda sim um grupo de pessoas estão frequentando esse espaço e isso merece atenção. 

Atenção para que as postagens sejam mais frequentes; atenção para que a qualidade não caia; atenção para não perder uma visão crítica, holística, sistêmica; atenção compartilhar as experiências vividas trazendo a sensação de estar vivendo também aquilo, em outras palavras, saber levar a realidade que envolva a pessoa por meio da escrita e é pensando nisso que iremos dar uma pausa.

O blog precisará parar por uns dias para fazermos modificações. Não sairá do ar, mas modificações irão ocorrer a todo instante, então se você olhar com atenção irá conseguir notar algumas, mas todas as modificações, esperamos, estarão divulgadas no dia 18 desse mês. Voltaremos no dia 18, nos aguardem...

sábado, 5 de março de 2016

Menino na rua

Andando pela Av. da Universidade, embaixo de uma leve chuva um jovem, negro, sujo, com roupa rasgada me aborda e pergunta se tenho algum trocado. Não tenho, mas o cumprimento, ele me dá um abraço e vai embora...

...um tempo depois o mesmo jovem me aborda na Av. Treze de Maio e lá estamos nós novamente. Ele não me reconhece, mas me cumprimenta e diz que acabou de sair da prisão e quer voltar para casa, mas não tem dinheiro nem para comer e mais uma vez me pede um trocado. Digo que não tenho, mas eu não tinha mesmo, e troco uma ou duas palavras com ele...

...dias depois estou andando pela Av. da Universidade e o vejo falando com alguém em uma parada de ônibus. Uma amiga que estava comigo diz que ele estava assaltando a pessoa e levanta seus argumentos, contudo não quero acreditar que o mesmo jovem que tinha trocado algumas palavras comigo estaria fazendo aquilo que ele disse que não queria fazer. Sigo meu caminho, mas aquilo fica na minha cabeça...

...ontem andando a noite pela Av. Treze de Maio adivinha quem encontro? O mesmo jovem ao lado de outro andando. Ele tenta me abordar, mas o pensamento de que ele possivelmente assaltou uma pessoa dias antes faz com que eu o ignore e siga no meu caminho. Contudo essa minha ação ficou perturbando minha mente: por que eu tinha feito isso? O que isso pode gerar? Quais as consequências da minha ação naquela pessoa?

...hoje andando pela Av. Treze de Maio adivinha quem encontro mais uma vez? Isso mesmo, o jovem. Dessa vez retiro uma simples cédula de dois reais e vou até ele para entregar. Ele me reconhece e digo que no outro dia não tinha nada para dar, mas dessa vez poderia ajudar. Converso um pouco com ele sobre que decisões tomar, sobre tomar cuidado com alguns caminhos e toda sua atenção olhando olho no olho mostra seu envolvimento naquela conversa. Mas eu sei... eu sei que uma cédula de dois reais não mudará em nada, não é de uma pequena assistência que ele precisa, mas foi o que deu para fazer...
Fonte


...depois de conversar com uma amiga pego minha bicicleta e sigo em direção a Av. da Universidade. Vejo o jovem comprando uma garrafinha de água com os dois reais. Talvez aquela simples assistência, aquela cédula de pouco valor tenha sido de muito valor e não tão simples naquele momento...





domingo, 21 de fevereiro de 2016

A vida é um desafio - Diego Costa

Imagem: João Paulo Brandão
O que é ser negro? Até o dia de hoje, eu só sabia, só sentia um lado, o marginal, o suburbano, o que sempre leva a culpa, o que quase sempre é parado pra levar um baculejo, sempre o suspeito. Quando a situação é ruim, a coisa é preta, o neguim de cabelo ruim, piadas, risos e deboches. Mas o que esperar de um jovem negro da periferia onde a criminalidade anda solta, onde sempre, sempre o dia é tentado a usar drogas ou pegar numa arma. E pra que? Ganhar moral, status, se sentir seguro. E a escola onde a tensão bate na sala de aula todo o dia. Quando a professora entra sentimos a tensão no rosto dela.

Nunca vou me esquecer de uma conversa:

“- Hoje é dia de prova e eu não sei de nada”
“- tu trousse a pesca? ”
“- eu trousse algo melhor, vamos tirar 10”

E ele me mostrou uma arma

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Não sairemos das ruas

Não adianta xingar, gritar, fazer gestos ofensivos com as mãos... não sairemos das ruas!
Se fizesse uma lista com todos os palavrões que ouvi, já teria montado um dicionário de expressões ouvidas e se eu fosse gritar de volta, já iria ser preciso fazer os mesmos gestos ofensivos como “retribuição”.

Não adiantar ficar encarando e esculhambando quando passar... não sairemos das ruas!
Sabe aquele olhar de raiva ou aquela palavra mal dita gratuitamente? Não vai adiantar, porque não sou intimidado com cara feia, afinal me olho no espelho todos os dias.

Não adianta ameaçar ou ficar fingindo algo para amedrontar... não sairemos das ruas!
Parar o carro do lado ou ficar acelerando no sinal vermelho não será o suficiente. Muito menos se vier acompanhado da frase “vou passar por cima”.

Não adianta falar que é você quem manda na rua ou mostrar... não sairemos das ruas!
Você não é o dono da rua e nem adianta tentar mostrar algo, porque estou bem consciente da minha posição em cima desse asfalto.

Não adianta falar que seremos roubados durante o caminho... não sairemos das ruas!
Posso ser roubado fazendo isso ou não; posso ser roubado de outra forma, mas não quero deixar que as palavras negativas me roubem a liberdade de sentir o vento no rosto enquanto o suor escorre por todo esforço realizado.

Não adianta fazer “fina educativa”... não sairemos das ruas!
Estou educado o suficiente para saber que o local da bicicleta é ao seu lado em uma avenida/rua e sei que a distância lateral tem que ser 1,5m e mesmo que você insista em não respeitar isso, não sairemos das ruas. Não sairemos, porque no momento que a pessoa que pedala aceita esse tipo de atitude e para de pedalar permite que o veículo maior, não só o “vença”, mas deslegitime a bicicleta como veículo de transporte.

Pedalar contra todas essas adversidades é buscar o reconhecimento de que a bicicleta é um veículo e precisa coexistir com outros veículos no trânsito; é tentar mostrar que é possível um fluxo harmônico entre as peças quem compõe essa rede muitas vezes caótica; é acreditar que existem formas alternativas e eficientes de deslocamentos nas cidades e legitimar a utilização da bicicleta como meio de transporte. Fazemos parte do trânsito, compomos o trânsito e uma hora terão que entender isso.

Não adianta nos atropelar... não sairemos das ruas!
Essa parte é um pouco mais complicada, mas também não sairemos. Já tentaram me atropelar, já tentaram atropelar pessoas conhecidas e desconhecidas. Já conseguiram, mas não deixamos de pedalar. Por cada pessoa que morre no trânsito ao pedalar vítima da má estrutura viária para a bicicleta, da imprudência de outros veículos ou qualquer outro motivo, não podemos deixar de pedalar. Ao fazermos isso estaríamos considerando cada falecimento em vão, enquanto continuar pedalando é carregar o nome de cada pessoa que não desistiu.

Cada pessoa que faleceu pedalando e sem desistir de acreditar nessa forma de locomoção é responsável pela mínima estrutura que temos hoje. Foram seus esforços e sacrifícios que trouxeram um pouco mais de segurança para cada um de nós, então é justo com essas pessoas que abandonemos a bicicleta.

Sabendo que posso falecer pedalando e que posso ter problemas ao reivindicar por mais estrutura para a pessoa que pedala é que tenho de pedalar mais. Porque da mesma forma que as pessoas que já passaram por essas ruas lutaram para eu termos o que temos hoje, somos responsáveis pela estrutura que as pessoas do futuro vão ter. Na verdade, as pessoas de um futuro tão próximo que pode se confundir com o presente ou, quem sabe, até mesmo você chegará a aproveitar essa mudança. Por isso não podemos sair das ruas e deixar lado a luta para legitimar a bicicleta como meio de transporte.


Não sairemos das ruas por tantos motivos, por tantas pessoas, mas nesse texto, em especial, não sairemos das ruas em honra ao Sr. Vicente Veloso Neto, o Xuxa, que faleceu aos 67 anos de idade enquanto pedalava pela cidade de Fortaleza – CE.

Vicente Veloso Neto, o Xuxa (Jornal O Povo)



terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Carnaval pra quem? - Diego Costa

Carnaval existe crise?

Brasil, meu Brasil brasileiro, terra do samba, do futebol, do carnaval, doce carnaval! Festa essa que nos esquecemos de todos os problemas que temos (uma espécie de amnésia? Ou apenas uma marolinha?). Na TV só vemos festas e mais festas do Monte Caburaí ao Chuí, que esquecemos até da chamada ‘’crise’’.

Crise o que é isso? No carnaval tem crise? Onde estão as altas taxas de juros e o desemprego? Cadê? Parece até que não existe esse negócio de crise. Enfim nosso Estado é cheio de problemas, que desaparecem em um feriadão, pois quem é que vai querer saber do desastre de Mariana que já esta com três meses, ou com a situação dos refugiados da Síria, ou com a precarização da educação, e quem vai lembrar dos “nobres Políticos”. Claro que não, pois é Carnaval e seus problemas acabaram.

E assim seguem as propagandas de a melhor festa é aqui e tudo mais. Enquanto uns festejam a crise, outros sofrem com ela, pois quem está sem emprego, depois do meio dia de quarta ainda vai estar sem emprego e a “crise” vai voltar a ser “crise”. Temos o Pão e o Circo.


Carnaval pra quem?
Graduando em Geografia (UECE)





Postagem Anterior --- Postagem de um amigo

domingo, 31 de janeiro de 2016

Porque eu tenho uma sirene

Fonte
                Pedalar pela cidade faz com que seus olhos se abram para pequenos detalhes que diversas vezes passam despercebidos quando estamos imersos no tédio e no cansaço de outros modais.
                A atenção proporcionada pelo pedalar faz você notar quando os outros veículos estão ali se afastando para passar um outro veículo com uma sirene ligada. Você também não vai passar, o ideal é dar passagem para o veículo com o sinal sonoro, afinal uma emergência/urgência pode está acontecendo naquele momento. E a sirene se aproxima... ambulância ou polícia? Qual seria daquela vez?
                Uma viatura da Polícia Militar cruza a avenida em alta velocidade com aquelas luzes vermelhas iluminando o espaço. Rapidamente passa pelo local que costuma ficar engarrafado, porque, afinal, está com a sirene ligada e provavelmente estará atendendo uma ocorrência.
                Já do outro lado da avenida a sirene é desligada e a velocidade reduzida. A viatura para e deixa alguém descer, bem arrumado, bem aparente. A pessoa desce, se despede das outras pessoas que estão dentro do veículo e segue andando tranquilamente pela calçada de uma das avenidas mais movimentadas, o veículo tranquilamente segue seu destino e o trânsito se ajeita para continuar... nada de grave, só nossas corrupções diárias.

sábado, 23 de janeiro de 2016

Eu nasci assim

                Sozinho em uma parada de ônibus a noite é, aparentemente, um local interessante para conhecer um pouco mais de Edgar Morin e deixar os pensamentos fluírem, tentar deixar aquilo que te incomoda passar enquanto não chega o ônibus possivelmente lotado.

                Contudo, dessa vez, o ônibus estava vago: motorista, trocador, uma pessoa adulta e um jovem por volta dos seus 14 anos. Parecia uma extensão da parada de ônibus, a solidão perfeita para deixar que os pensamentos circulem livremente enquanto tentava ler um livro no movimento do ônibus.
Fonte
                Mas só parecia. Quase 10 minutos depois que entrei no ônibus o jovem chega próximo ao motorista fazendo o formato de uma arma de fogo com os dedos e fingindo que atira pelos cantos, até finge que atira no motorista depois de colocar a “arma” na cabeça de sua “vítima”.
                O jovem senta próximo ao motorista e o segundo pergunta:

— Aprendendo a ser perigoso?
— Aprendendo? Eu nasci assim, nasci perigoso. — disse o jovem.
— Tu é tão perigoso assim?

domingo, 17 de janeiro de 2016

Neste dia, quem é você?

                Neste dia... ...você já parou para pensar no que já aconteceu com você no dia de “hoje”, mas nos anos anteriores? Quem era você no dia de 2015, 2012, 2009, ..., até o dia que nasceu?
                Se você é um usuário assíduo do Facebook, assim como eu, que costuma expor parte da sua vida e ideias pode contar com o recurso “NESTE DIA” para ver tudo que postou nos últimos anos e em algumas vezes pode parecer constrangedor ver algumas ideias.
                Um exemplo disso é vejo que já postei dizendo que bandido bom é bandido morto, fui contra a legalização do aborto (já virou até texto aqui), disse que greve é perder tempo e tantas outras ideias que vão justamente ao contrário do que hoje defendo, mas o Facebook faz questão de lembrar de tudo isso, mas isso não é ruim e não há motivos para vermos tudo isso e simplesmente querermos apagar de nossas vidas.
                “Mas eu não sou mais aquela pessoa que falou tudo isso” você pode dizer e não estará totalmente equivocado, mas, em partes, você ainda é aquela pessoa que postou tudo aquilo, mesmo que não concorde com as ideias.
                Notemos que você nasceu sendo uma pessoa, cresceu sendo uma pessoa e ainda é essa pessoa. Qualquer pessoa amiga sua sabe disso, porque vai lembrar do seu nome e do que conhece da sua história, é você, mas ao mesmo tempo essa pessoa amiga sabe que você mudou e quando você olha para o passado sabe que mudou e, talvez, já não se veja naquela pessoa do passado.

Como pode ser você aquela pessoa do passado e ao mesmo tempo a pessoa de hoje?