segunda-feira, 21 de março de 2016

5571: o número da impotência

                O que pode acontecer com o número 5571? Endereço, pedaço de um telefone, algum bilhete de loteria. É algo tão aleatório que poderá remeter a qualquer pessoa, qualquer lembrança. Em mim? A impotência. 5571 é o número da impotência.
                O que pode fazer um ciclista depois de pedalar seus 5km e 571m? Nada além de relaxar na noite do centro de Fortaleza, ou pelo menos deveria tentar. Contudo, o 5571 estava um pouco próximo e eu mal sabia de sua presença.
                Depois de pouco mais de um minuto e meio, que, em segundos, é pouco mais de 92 e em seus milissegundos equivale 5571, o 5571 chegaria próximo a mim. Noto que algo está se aproximando de minha bicicleta, mas não tenho tempo de definir com clareza o que é, só percebo que essa aproximação está inferior a distância de 1,5m, então estico o braço para mostrar a distância que preciso para ter uma segurança.
                Contudo, era o 5571 que ao ver meu braço levantado avança com toda velocidade, o que me obriga a retirar a mão com maior velocidade. Consigo manter o equilíbrio na bicicleta, então reclamo pela ação do 5571 e quando faço isso o 5571 logo grita “coloca a mão de novo para você ver”, “na próxima vez continua na minha frente”... que reação tomar ao ser ameaçado dessa forma e de outras? Não demora muito e ele está atrás de mim, mas o que fazer? Denunciar o que? Para quem? Sinto só aquela impotência do trânsito enquanto vai ficando para trás aquele 5571 estampado na pintura da viatura!

Fonte: Cnews
                Passados 5571 segundos, ou seja, pouco mais de uma hora e meia, e aquela situação ainda estava me incomodando, porque aquela ameaça não vinha de dentro da viatura, não vinha do policial, mas de um sistema que o moldou daquela forma. Algo tão cruel que pode usar de sua própria força para me calar.

                Aquilo me causa perturbação até o fim da semana e quando penso que vai acabar, eis que surge o 5571. Não a viatura, entenda! O 5571 representa algo maior, um sistema, que dessa vez me perturbou indiretamente, porque dessa vez foi mais cruel. Nesse caso, os dois policiais que representam o 5571 ao verem um homem negro com roupa surrada segurando sua filhinha entrar em uma loja no Terminal da Parangaba rapidamente ficaram diante da loja e foram falar com a vendedora. Lá ficaram até o homem ir embora.

                A situação mexeu muito comigo e ainda tive vontade de ir lá, escancarar o racismo, expor tudo e jogar a merda no ventilador, mas do que adiantaria? Meu grito sozinho não é suficiente para parar o 5571...

Por Lucas





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