domingo, 29 de junho de 2014

Em Fortaleza, a história invisível do menino que sonha em ser turista - Ruben Berta

“FORTALEZA — Era noite do último domingo quando eu vi pela primeira vez o menino Neymar (chamemos ele assim porque é esse o nome de seu jogador de futebol predileto). De férias na escola, o garoto, de 8 anos, tem passado boa parte de seus dias durante a Copa do Mundo vendendo balas com a mãe — ainda jovem, mas que parece ter mais do que os 24 anos que tem —, e com a irmã, de 11 anos. A calçada onde costumam estar fica em frente a um hotel na Avenida Beira Mar, a mais famosa da orla de Fortaleza, onde já se hospedaram seleções como o México e Costa do Marfim. É a realidade da cidade passando bem perto de turistas, jogadores, mas que parece ser invisível a olhos desatentos.

De frente para o hotel das seleções, funciona uma lanchonete movimentada, de uma famosa rede. Neymar se aproxima e entra com sua caixinha de balas. O segurança o levanta pelo pescoço, quase como se o tivesse estrangulando. E diz:

— Já é a terceira vez que você entra aqui e eu falei que não é mais para entrar!

A cena do brutamontes levantando a criança pelo pescoço me chama a atenção. Neymar não chora, mas fica com os olhos vermelhos, cheios de lágrimas, e, como um menino de 8 anos que é, corre para a mãe. Revoltada, ela mostra a marca no pescoço do garoto, primeiro para o próprio segurança, depois para três policiais militares parados, na escolta de um ônibus de uma delegação. Um deles diz:

— Dê parte na delegacia.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Novo animal na fauna do Pantanal e da Amazônia, o elefante branco

Arena Pantanal
                Terminada a primeira fase da Copa do Mundo e com muitas surpresas dentre elas podemos mencionar a viagem de volta antecipada de algumas grandes seleções, a Costa Rica passando para outra fase, a mordida do Suarez (acho que nem é tão surpresa) e as poucas notícias, pelo menos que eu tenha visto, sobre os possíveis elefantes brancos, afinal Cuiabá e Manaus já não receberão mais jogos da Copa.
                Vamos tentar conversar um pouco sobre esse assunto que é certeza gerar um pouco de confusão. Desde a decisão de construir dois grandes estádios nessas duas cidades para receber os jogos do evento já se tinham diversas especulações sobre a possibilidade dos mesmos virarem elefantes brancos, porém o principal argumento utilizado é de que os locais estão sendo construído com espaços multiusos para não depender apenas de futebol.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Uma História das Copas do Mundo - Futebol e Sociedade (Livro)

Fonte: Armazém da Cultura
Como alguns leitores já estão acostumados, aqui no blog costumamos fazer algumas indicações que auxiliam no conhecimento sobre o tema em debate e permite que cada um possa se aprofundar melhor no assunto. Nesse mês que estamos falando sobre a Copa do Mundo não poderia ser diferente e não poderia ter indicação melhor do que um livro de grande qualidade sobre o assunto.

O livro Uma História das Copas do Mundo do prof. Aírton de Farias e com ilustração do Daniel Brandão, publicado pela editora Armazém da Cultura, traz uma leitura que vai além das quatro linhas de um gramado de futebol. Através do livro é possível compreendermos melhor o surgimento do futebol e da Copa do Mundo e todo o contexto socioeconômico, político e cultural que cerca o evento.

Não é um livro somente para os fascinados pelo esporte, porque ele consegue juntar em suas palavras futebol, política, sociedade e, principalmente, muita história, então, antes de julgarmos o livro pela capa (que por sinal tem uma bela capa), temos que entender que é um livro de história, porém com outra abordagem, com outra perspectiva, mas nem por isso tem sua qualidade reduzida.

Para que você possa compreender melhor o que estou falando, vou recomendar esse link logo abaixo onde você pode fazer um cadastro rápido para receber uma versão em PDF do primeiro capítulo do livro e ainda passa a concorrer ao sorteio do livro.


Depois de ter dado uma olhada no primeiro capítulo, creio que tenha feito isso ou que já já vai fazer, vou recomendar esse outro link, logo abaixo, com uma promoção imperdível. A editora está dando um desconto na aquisição dos dois volumes do livro, então é uma oportunidade que todos podem aproveitar.


Não percam a oportunidade de dar uma olhada nesse incrível livro!



segunda-feira, 23 de junho de 2014

Arrisque tudo / Vai Brasil, Vamos lá

Nesses últimos dias vi pela internet dois vídeos que me chamaram bastante atenção. Um é a propaganda da Nike que vem passando constantemente durante os intervalos dos jogos da Copa do Mundo e o outro é uma música que foi enviada para o blog pelo próprio compositor.

  • Nike: arrisque tudo


Nesse vídeo, além de toda a propaganda da Nike, a empresa levanta um questionamento interessante: até onde é interessante o uso da tecnologia no futebol?

É fato que graças aos grandes recursos tecnológicos de hoje os jogadores podem melhorar cada vez mais suas habilidades técnicas em campo e muitas vezes, principalmente os torcedores, questionam a "beleza" das jogadas, porque ele torna-se exageradamente técnico e aos poucos perde-se o que alguns chamam de "futebol arte". Partindo desse debate a Nike tenta mostrar e/ou defender a interação entre o uso da tecnologia e da arte futebolística, afinal apenas os jogadores humanos do vídeo é que possuem seus produtos e dando uma ênfase, meio que indireta, neles mostra as habilidades artísticas nas jogadas.

  • Vai Brasil, Vamos lá - Fernando Motolese



O segundo vídeo é uma composição que mostra em sua letra e vídeo um pouco do que tentei argumentar no primeiro texto sobre a Copa do Mundo, de que torcer para a seleção não me impede de manifestar e fazer questionamentos críticos sobre todo o contexto do mega evento.

Se pararmos para notar não falamos que estamos torcendo pela seleção, na maioria das vezes, falamos que estamos torcendo pelo Brasil e cantamos até o hino com grande emoção associando aquela letra a seleção brasileira, porém o "torcer pelo Brasil" já é um chamado para se debater o antes, o durante e o após o evento esportivo. Se estamos torcendo mesmo para o Brasil ganhar, vamos torcer para a nação ganhar: dentro e fora de campo.



quarta-feira, 18 de junho de 2014

Escola Paulino Rocha, a vizinha do grande Castelão

"A bola não rola do outro lado da avenida do Castelão, palco do segundo jogo do Brasil na Copa, nesta terça-feira, diante do México. A gorduchinha quica entre pedras e estilhaços de tijolos, em trecho desnivelado do terreno improvisado como quadra da Escola Estadual Deputado Paulino Rocha.

– O racha aqui rachar o pé – sintetiza Herlon Chagas, estudante de 17 anos, ao citar o termo correspondente à pelada, disputada com os colegas entre as aulas em uma superfície com materiais cortantes.
A "quadra" da escola (Foto: Caio Carrieri)
A inexistência de espaço próprio para as aulas de educação física é só um dos problemas enfrentados pelos 812 alunos da instituição de ensino, cujo portão de entrada fica de frente para o estádio reformado para o Mundial com R$ 518 milhões do Governo do Ceará.

– O ar condicionado pega fogo nas salas, porque o sistema elétrico é muito antigo. A iluminação da sala é tão ruim que dá vontade de dormir. As luzes queimam enquanto escrevemos –queixa-se Francisca Carneiro, companheira de Herlon no último ano do ensino médio.

Insatisfeitos com a estrutura sucateada do local de estudo, sem refeitório e com salas de aula degradadas, os alunos se mobilizaram e pintaram os muros do colégio no último dia 7 com protestos contra o governador Cid Gomes (Pros), no cargo desde 2006 e reeleito em 2010.

– Vieram quatro viaturas do Cotam (Comando Tático Motorizado) com fuzis gigantes para falar com os alunos. Impressionante! – relata Révia Nepomuceno, integrante do movimento e que sonha ser jornalista.

A Secretaria de Educação do Ceará (Seduc) agiu rápido e, para evitar exposição das mazelas para os turistas e para a imprensa na Copa, apagou com tinta branca as mensagens de reivindicação, na última sexta, véspera de Uruguai 1x3 Costa Rica.

– Já estou tentando mobilizar meus amigos para pintarmos o muro de novo até o jogo do Brasil – responde Herlon, que não se interessou pelos jogos do Mundial porque não tem condições de comprar o ingresso e não quer “dar dinheiro para a Fifa”.


A grana também é curta para a diretora Juraciara Soares, que não quis se pronunciar, providenciar merenda para os estudantes. Com 812 cadastrados, a verba para o lanche é repassada pelo Governo Federal – R$ 40 mil anuais, o que, em 200 dias letivos, representa R$ 0,24 por aluno."


terça-feira, 17 de junho de 2014

Uma Batalha das Termópilas em Fortaleza

Medo... se eu pudesse resumir tudo que passei hoje em uma palavra, essa seria a palavra escolhida. Creio que não tenha outra palavra que possa definir a sensação de ver aquele batalhão avançando.

Dia 17 de junho de 2014 – Brasil x México – Copa do Mundo em Fortaleza
Foto: Getty Images
                Manifestação marcada para essa data e mais uma vez levando para o debate muitos pontos da manifestação passada e muitos outros, dentre eles a demarcação de terras indígenas e a presença de algumas famílias que foram retiradas por conta das obras da Copa do Mundo.
                Cheguei e a concentração já estava lá. Praticamente logo após de descer do ônibus tive que ser revistado por um policial do GATE ou era da Cotam, não lembro direito, mas até aí tudo tranquilo. Reuni-me com alguns conhecidos e perguntei como estava a situação, depois fiquei andando pela concentração para ver a situação.

                Não deu para andar muito, porque logo a frente estava o bloqueio policial. E que bloqueio era aquele... um número muito grande de policiais e ao fundo o caminhão que disparava jatos d’água para dispersar manifestações.
                As palavras de ordem não paravam e fiquei muito feliz ao rever algumas pessoas que não via há um tempo. Alguns das comunidades ao redor queriam avançar sobre os policiais, viam naquele momento a chance de uma “vingança” ou algo do tipo, vou explicar melhor.
                Muitos ali já viram de perto a forte repressão das ações policiais em suas comunidades e lá essas ações são, em grande maioria, bem violentas. Já contra os manifestantes eles usavam balas de borracha, o que são balas de borracha próximas ao que eles já vivem todo dia? Dessa vez eles estavam em uma posição “favorável”, mas juntaram-se aos grupos da manifestação de forma pacífica.
                Decidimos ir para a BR 116, afinal não tínhamos como caminhar com aquele bloqueio policial. Na ida para a avenida alguns grupos se separaram e a policia começou a avançar também e junto com eles o caminhão. Aquele caminhão ficará marcado na minha mente, com toda certeza ele foi a estratégia mais utilizada para causar medo nos manifestantes.
                Para onde a gente olhava tinha policial, então todos começaram a ser orientados para manter a calma. Ao nosso lado apareceu um ônibus da FIFA que muito se parecia com o da seleção e a sensação que eu tinha era de que aquilo era provocativo, como se estivessem passando ele ali por algum motivo. Vendo os vídeos mais tarde notei que o ônibus parou por um tempo e nessa fração de segundos ele começou a ser apedrejado por um grupo que tinha se revoltado. Era tudo que a policia queria.
                Rapidamente as bombas foram jogadas no grupo e a policia agiu. Corremos para o outro lado da avenida enquanto o caminhão acelerava. Do outro lado vi o grupo que tinha jogado as pedras sendo parado, então pensamos em continuar a manifestação ali mesmo fechando a avenida, mas quando olhamos para o lado vimos a policia se voltando para a gente e atirando. Não tínhamos mais o que fazer, apenas dispersar.
                Toda a dispersão durou cinco minutos. A ação policial, que foi bastante violenta e desnecessária, dispersou por volta de 300 pessoas em cinco minutos. Eu vi muita coisa ficando no chão e esses objetos estavam carregados de ideologias e mensagens, vi pessoas assustadas, pessoas revoltadas, pessoas chorando.

                Os 300 não puderam com o grande contingente policial e isso me lembra a Batalha das Termópilas, então posso dizer que isso não é o fim e que o movimento conseguiu, apesar de tudo, transmitir sua mensagem e a luta deve continuar.

Foto: TV Jangadeiro / Abraão Ramos

(Peço desculpas a todos caso eu tenha deixado alguma parte do texto confuso, porque tenho receio que não tenha esclarecido bem aquela parte que falo sobre as revoltas nas comunidades, possivelmente minhas ideias ficaram confusas nessa parte e estou aberto para melhorar todos os meus textos e os futuros textos. Aos participantes do movimento, parabéns pelo ato e obrigado a todos que me acolheram.)


domingo, 15 de junho de 2014

Tão surpreendente quanto uma Costa Rica

                E mais um dia interessante da Copa do Mundo para se comentar, estou falando do dia 14 de junho de 2014, e de um jogo em especial.

Fonte: Globo Esporte
                Para começar vamos falar aqui de Fortaleza onde aconteceu o jogo entre Uruguai e Costa Rica. O Uruguai veio para o campo para fazer valer sua superioridade e começar uma campanha rumo ao título, porque para eles seria interessante ganhar novamente aqui no Brasil, entretanto aconteceu algo que ninguém esperava. A seleção com pouca representatividade no futebol mundial, Costa Rica, até onde tenho conhecimento, reconhecendo seu adversário, mas valorizando sua vontade conseguiu ganhar do Uruguai.
                Não só ganhou, mas calou todos os torcedores uruguaios metendo 3x1. Acredito que os torcedores costa riquenhos devem está sorrindo até agora, porque mostraram que mesmo sendo uma seleção menor são capazes de fazer grandes “estragos”.
                Mas por que estou falando sobre isso? Parece até que estou fugindo da ideia do blog, mas é muito pelo contrário, porque fora do estádio, pouco antes de começar o jogo e durante o jogo um pequeno grupo, se comparado aos do ano passado, conseguiu surpreender o grande contingente policial que nos esperava... sim, me incluo, porque eu estava lá.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Está tendo Copa, vai ter manifestação e estaremos nela

                Primeiramente tenho que dar algumas explicações para todos que acompanham o blog. Durante o período da Copa do Mundo a estrutura que todos estão acostumados a ver estará, tecnicamente, desfeita, porque o contexto do evento não me permite planejar de forma precisa como organizar a linha de pensamento das postagens. Não estou dizendo que vou fazer um trabalho aleatório, mas que vou eleva-lo para um contexto maior e que a ordem dos acontecimentos é que irá conduzir a linha de pensamento.

                Então... a Copa começou. Não só vai ter Copa como está tendo e podem se preparar para ver algumas pessoas utilizando esse discurso contra as pessoas que se manifestam, porém esse é um discurso muito fraco, porque está acontecendo a Copa e estar acompanhando o evento não impede que a pessoa construa uma opinião reflexiva sobre tudo e também se manifeste.
Foto: Deivyson Teixeira / O POVO
                As manifestações vão além da Copa do Mundo. Diversos grupos sociais estão se articulando nesse exato momento para levar suas ideias para as ruas e daí você pode ter certeza que encontrará movimento pedindo melhorias na educação, saúde, segurança, valorização maior da cultura e maior preservação ambiental. Nesse último ponto é válido ressaltar que quando o Brasil foi escolhido para ser sede, no discurso falaram muito em respeito ao meio ambiente, o que de fato não ocorreu.
                Entendemos meio ambiente através da visão sistêmica, por isso até as famílias que foram retiradas das suas residências, retiradas com violência vale lembrar, fazem parte do debate ambiental. Isso sem falar que todo o movimento que os jogos do evento irão gerar trarão grandes desgastes para o nosso meio ambiente.
...

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Aviso: Copa do Mundo e Sorteio

                Meus caros leitores e amigos, estamos próximo ao início da Copa do Mundo de Futebol aqui no Brasil e todos sabem que esse evento modificou a rotina e a dinâmica de muitas cidades. Escolas, Universidades e o Comércio tiveram que se adaptar ao calendário do evento e não seria diferente desse blog.
                A Copa também vai modificar um pouco da estrutura do blog durante esse mês que estará ocorrendo o evento. Teremos um único tema: a copa do mundo. Iremos falar sobre esse evento durante todo o seu período de duração, mas não se preocupem que não vou fugir do estilo do blog. Só peço que nos acompanhem com mais intensidade durante a copa, porque teremos muitas surpresas nas postagens.

                Ah... e eu não poderia esquecer de avisa-los sobre um sorteio que está ocorrendo lá no Facebook, estamos sorteando um livro com 1.700 pensamentos. Cliquem aqui para conhecer um pouco mais sobre o sorteio.

Fonte: http://fulecotatu.blogspot.com.br/2014/01/wallpapers-da-copa-do-mundo-da-fifa-de.html

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Ceará - Uma história de paixão e glória (Livro)

                Um livro que é leitura obrigatória para aqueles que gostam muito de futebol e aqueles que têm interesse em se aprofundar na história da cidade de Fortaleza, digo isso porque o livro do prof. Airton eleva o debate sobre futebol.
                Além de ser muito bem escrito, a leitura desse livro proporciona expandir a nossa visão sobre esse esporte e sobre todo o seu contexto nacional e regional, já que estamos falando da história do Ceará. Não é um livro apenas de futebol... é um livro de história, de sociologia.


Podem procurar no Armazém da Cultura... não vão se arrepender.


Fonte: Armazém da Cultura

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Ceará completa hoje 100 anos atravessando o melhor momento de sua história - André Victor Rodrigues

No dia 2 de junho de 1914, as cores preta e branca invadiram memória e paixão do torcedor cearense para nunca mais deixá-las. Nascia o Ceará Sporting Club. Hoje, o Vovô completa um século de glórias, superações, títulos, tempos bons e outros nem tanto. É o centenário de agremiação que conheceu o sucesso e a crise ao longo desse percurso. Mas aproveitou tanto as altas quanto as baixas para tornar-se forte. Em entrevista ao O POVO, pesquisadores da trajetória alvinegra contam o que fez do clube de Porangabuçu uma potência longeva no futebol. Onde mora - e se alimenta - a força do "time do povo".

Como tantos outros times surgidos na época, o Ceará foi fundado por pessoas de boa condição econômica (Luís Esteves Júnior e Pedro Freire tiveram a ideia inicial para fundação do Rio Branco, primeiro nome do clube). Contudo, a equipe inovou ao acolher camadas populares. Assim, iniciou a conquista de parte grande e fiel de sua torcida.

"Fato é que o Ceará foi um dos primeiros times que permitiram que jogadores pobres e negros atuassem pelo clube. Por isso, causou uma empatia muito grande com o povo e acabou se tornando a equipe mais popular", explica o historiador Airton de Farias, autor do livro Ceará - Uma história de paixão e glória.

Não só de adesão das massas se faz um grande clube. É preciso alimentar o torcedor com estímulos. E o Ceará também cresceu com o principal deles: a rivalidade. "Ceará e Fortaleza não são rivais porque são os maiores clubes cearenses, são os maiores clubes porque são rivais", destaca o pesquisador Pedro Mapurunga. "A partir de 1922, foi iniciado o Clássico-Rei. E a vontade de um ser maior do que o outro foi que perpetuou ambos. A paixão do torcedor pelo time foi aumentando pela vontade de ser o maior", acrescenta.

REINVENÇÃO
Todo time de longa história tem momentos ruins e bons. O Ceará passou por crises profundas. Porém, com criatividade e planejamento, saiu delas mais forte.

Nenhuma má fase foi maior que a enfrentada entre 1943 e 1945. "Os clubes, na época, tiveram de se profissionalizar. Os jogadores precisavam ganhar para receber. O Ceará não. Foi muito difícil bancar os jogadores todos os meses", conta Mapurunga. Em 1945, o time nem sequer participou do Campeonato Cearense. "Viveu um período muito dramático. Não chegou a ter risco de acabar, mas o baque foi muito forte", diz Airton de Farias.

A saída imediata foi reformular seu cotidiano e estrutura. O Vovô fundou a sede na avenida João Pessoa. Lugar onde conseguiu mais apoio de sócios para se reestruturar. "Isso foi fundamental para criar identidade. Ele é o clube de Porangabuçu. Gerou empatia com a localidade e com a torcida", analisou Farias.

Após a reinvenção, o Ceará se estabeleceu entre as principais agremiações do Nordeste, em parte em função da gestão histórica de José Elias Bachá.

MOMENTOS DE GLÓRIA
O Ceará é o time que detém maior número de títulos no Campeonato Cearense. Porém, dois momentos nos 100 anos para além do âmbito local se destacaram, levando o clube a outros patamares de relevância e reconhecimento. "Os momentos de auge foram 1969, que foi quando o Ceará ganhou o título Norte-Nordeste, e também o ano de 2009, com o acesso ao Brasileirão", diz Mapurunga.

Com dívidas trabalhistas sanadas e administração equilibrada, hoje, para os pesquisadores consultados, o Alvinegro vive seu melhor momento da história. E comemora o centenário líder da Série B e com esperança real de fechar o ano com novo acesso à Série A do Brasileirão. Força suficiente para acreditar em outra virada de século. Com o peso da camisa acima de qualquer turbulência.

POR QUE VOVÔ
O apelido Vovô surgiu quando foi aberto o campo de treinos do Ceará. Com a novidade, a molecada das bases do América-CE frequentava o local para brincar. O presidente do Ceará na época, Meton de Alencar Pinto, os chamava de "meus netinhos". E eles, com carinho recíproco, passaram a chamá-lo de "Vovô".

TIME DO POVÃO
Indo de encontro ao elitismo da época, o Ceará foi o time cearense que abriu as portas para jogadores pobres e negros. Na época de crise, início dos anos 1940, muitos jogadores alvinegros eram "maltrapilhos". Jogavam por amor ou tinham outras profissões. Alguns até viviam de favor na casa de torcedores, próximo à sede do clube, na Avenida João Pessoa.

1915
Imagem: Jornal O Povo

O time do ano em que o Rio Branco passou a se chamar Ceará

1947
Após pior período de sua história, quando se organizou e construiu Porangabuçu

1963
Time tricampeão, na década que terminou com a maior conquista até hoje

2010
Na primeira divisão, disputa contra os principais clubes do resto do País

2014
A conquista do tetra no ano do centenário: sem dar espaço para o maior rival 


André Victor Rodrigues

Jornal O Povo

terça-feira, 3 de junho de 2014

Uma tentativa de analisar dois grandes símbolos

                Três artes, se assim posso chamar, são as representações máximas de um time, digo isso porque são fundamentais para dar uma identidade para algum clube. Estou falando do escudo, do mascote e do hino do clube.
                No caso do Ceará vamos focar no mascote no hino.

MASCOTE:

Mascote Oficial
                O próprio Vovô é o mascote do time mais antigo do estado, fazendo referência direta ao apelido que o time ganhou. Aí vai um pouco de história sobre a origem do apelido:

“Um depoimento de Aníbal Câmara Bonfim, um dos fundadores do América Futebol Club, conta a real história. Segundo o dirigente americano, os meninos alvi-rubros costumavam treinar no campo do Ceará. Nesta época, o presidente do Ceará, Meton de Alencar Pinto, de forma alegre, começou a tratá-los de “meus netinhos”. Ao encontrar com os garotos do América no campo alvinegro, Meton saía sempre com a mesma brincadeira: “Vamos, meus netinhos, vamos aprender bem para açoitar o Fortaleza. Mas respeitem o Vovô aqui”.

Dessa forma, o apelido ficou eternizado e quando alguém fala no Vovô, não há nesse país quem goste de futebol, que não associe ao Ceará Sporting Club.” (FONTE)

                É desenhado como um velhinho feliz para representar, segundo diz no site, a alegria de torcer pelo alvinegro, mas o que quero falar é sobre as formas como ele é utilizado pela torcida. Lembrando que o mascote é um símbolo do clube, logo a torcida quer mostrar toda a sua força através dos seus símbolos e é comum encontrarmos imagens como essa:


                Dessa forma os torcedores tentam “impor” a força e superioridade do seu clube em relação aos outros times. Chega a ser ridícula a “brutalização” que colocam no vovô, mas muitas vezes torna-se mais comum do que o símbolo original.

HINO:



                O hino do Ceará, composto por José Jatahy, exalta o passado do clube, a bandeira e coloca o time em uma posição de lutador tentando, talvez, mostrar que alcança a “glória” depois de muita luta.
                E nesse contexto de luta sempre evocando a importância da sua torcida, que foi essencial para fortalecer a ideia de profissionalização do futebol cearense, porque foi justamente quando o clube se abriu para jogadores negros e do subúrbio que a torcida alvinegra se expandiu, tornando-se a maior do estado até hoje.

domingo, 1 de junho de 2014

100 anos de glória e amor alvinegro

“... numa terça-feira, 2 de junho daquele distante 1914, dois jovens caminhavam descontraidamente pelo Centro de Fortaleza. Eram Luís Esteves Júnior e Pedro Freire a conversar sobre assuntos vários, destacadamente política internacional. Lá para as tantas, após Pedro Freire chutar uma pedrinha no meio do caminho, o assunto passou a girar em torno do football. Surgiu, então a ideia de formar um team para a prática daquela saudável, divertida e moderna modalidade esportiva.” (Trecho retirado do livro Ceará – Uma história de paixão e glória do prof. Aírton de Farias, publicado pelo Armazém da Cultura)

                Assim nascia o Rio Branco, time que no próximo ano passaria a se chamar Ceará, e nascia a alegria, emoção, raiva e gritos de toda uma nação. Surgiu ainda em um contexto onde o esporte era praticado, em sua maioria, pelos “bons moços” da sociedade, mas o Vovô seria um dos primeiros times a abraçar a profissionalização do esporte e permitir a participação de negros e pessoas de classe sociais menores, se assim posso dizer.
                Graças a isso rapidamente o Ceará caiu nas graças do povão e tornou-se a maior torcida do estado, título que carrega até hoje. Desculpem-me torcedores do Fortaleza, mas é um fato incontestável!
                E é essa torcida que o Vovô de Porangabussu faz ir ao delírio toda vida que está próximo de um jogo complicado. Alguns chamam, pejorativamente, de torcedores modinha, mas vou lhes dar outra explicação. O Ceará possui muitos torcedores, mas por seus motivos nem todos podem acompanhar todos os jogos do time, isso é normal, todos possuem compromissos e outras prioridades, mas tudo muda perto de algum jogo ou situação decisiva, é algo que não tem como explicar direito, está o sangue.
Imagem retirada da internet

                Um chamado... talvez possamos definir essa sensação como um chamado, uma convocação. Toda a torcida alvinegra é convocada para ajudar o clube naquela decisão. A nação alvinegra se reuni e prepara-se para defender o Vozão que mostra resposta diante da paixão de sua torcida.
                Ainda me lembro, com lágrimas nos olhos, de um dos maiores torcedores que esse time já possuiu, o meu avô. Seu entusiasmo pelo clube tornou “torcer pelo Ceará” quase um pré-requisito para a família Monte, logo ele que bem no início da sua vida não acompanhava futebol, nem interesse tinha pelo esporte, mas o destino fez dele um dos maiores torcedores alvinegros.
                Ele não era um daqueles torcedores que ia todos os jogos para o estádio, mas era aquele que não largava o radinho do pé do ouvido e diminuía o volume toda vida que seu neto curioso perguntava alguma coisa sobre o jogo, eu nem conseguia acompanhar o ritmo da narração no rádio, mas entendia a expressão que ele fazia e que era afirmada pela expressão que meu pai também vazia.
                Talvez a mesma expressão de muitos torcedores... expressões que iam desde alegria até tristeza, mas que nos últimos anos só são boas expressões, em sua maioria.
                Pode até parecer que estou fugindo totalmente da ideia do blog, mas não, muito pelo contrário. Vejam a influência que um time de futebol pode fazer em toda uma sociedade, as influências desse clube dentro de uma família. É capaz de unir um grupo de pessoas e fazer com que essas passem horas debatendo e até apostando nos resultados dos jogos e muitas vezes esses debates se elavam. Engana-se quem pensa que em um debate sobre futebol fica apenas no futebol, muitas vezes ao falar de futebol temos que falar de política, economia, exercitamos nossa matemática, porque pense na estatística que roda nossa cabeça para tentar prever o resultado de um jogo.
                E o Ceará causou muitos debates, afinal em cem anos de história dá para se debater muita coisa. São cem anos, o primeiro time cearense, o que tem mais títulos, o maior do estado...
                ... que tal conversarmos um pouco essa semana sobre toda essa história? Ah como eu queria meu avô nesse momento para me ajudar nisso, mas não tem problema, tenho sua história comigo.



 Gol do Tetra de 78: