quarta-feira, 18 de junho de 2014

Escola Paulino Rocha, a vizinha do grande Castelão

"A bola não rola do outro lado da avenida do Castelão, palco do segundo jogo do Brasil na Copa, nesta terça-feira, diante do México. A gorduchinha quica entre pedras e estilhaços de tijolos, em trecho desnivelado do terreno improvisado como quadra da Escola Estadual Deputado Paulino Rocha.

– O racha aqui rachar o pé – sintetiza Herlon Chagas, estudante de 17 anos, ao citar o termo correspondente à pelada, disputada com os colegas entre as aulas em uma superfície com materiais cortantes.
A "quadra" da escola (Foto: Caio Carrieri)
A inexistência de espaço próprio para as aulas de educação física é só um dos problemas enfrentados pelos 812 alunos da instituição de ensino, cujo portão de entrada fica de frente para o estádio reformado para o Mundial com R$ 518 milhões do Governo do Ceará.

– O ar condicionado pega fogo nas salas, porque o sistema elétrico é muito antigo. A iluminação da sala é tão ruim que dá vontade de dormir. As luzes queimam enquanto escrevemos –queixa-se Francisca Carneiro, companheira de Herlon no último ano do ensino médio.

Insatisfeitos com a estrutura sucateada do local de estudo, sem refeitório e com salas de aula degradadas, os alunos se mobilizaram e pintaram os muros do colégio no último dia 7 com protestos contra o governador Cid Gomes (Pros), no cargo desde 2006 e reeleito em 2010.

– Vieram quatro viaturas do Cotam (Comando Tático Motorizado) com fuzis gigantes para falar com os alunos. Impressionante! – relata Révia Nepomuceno, integrante do movimento e que sonha ser jornalista.

A Secretaria de Educação do Ceará (Seduc) agiu rápido e, para evitar exposição das mazelas para os turistas e para a imprensa na Copa, apagou com tinta branca as mensagens de reivindicação, na última sexta, véspera de Uruguai 1x3 Costa Rica.

– Já estou tentando mobilizar meus amigos para pintarmos o muro de novo até o jogo do Brasil – responde Herlon, que não se interessou pelos jogos do Mundial porque não tem condições de comprar o ingresso e não quer “dar dinheiro para a Fifa”.


A grana também é curta para a diretora Juraciara Soares, que não quis se pronunciar, providenciar merenda para os estudantes. Com 812 cadastrados, a verba para o lanche é repassada pelo Governo Federal – R$ 40 mil anuais, o que, em 200 dias letivos, representa R$ 0,24 por aluno."




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