segunda-feira, 19 de março de 2018

Diário de um suburbano - Fortaleza 16 de março de 2018


Essa semana bateu uma bad, uma bad quase do tamanho dos meus 25 de vida. Ora, o assassinato covarde de Marielle, vereadora, mulher negra de luta, não foi um por acaso.

2018 começa com várias notícias violentas, mortes, agressões e tudo que você puder imaginar. Hoje eu vejo bem as coisas que eu posto nas redes sociais, até mesmo a blusa que eu ando, porque se for uma blusa vermelha isso pode acarretar uma agressão no meio da rua por achar que sou socialista (e sou mesmo) ou essa da mesma cor pode significar um símbolo de uma facção criminosa.

Esses dias eu estava pensando, o que eu to fazendo? E na boa, eu não sei o que to fazendo. As lutas, os movimentos, as reivindicações, eu não sei pra onde vai dar, porque além de você se preocupar com isso tudo, você tem que ficar ligado nas balas perdidas que não são perdidas, porque essas sempre tem um alvo, basta olhar para você mesmo, pode ser eu, ou você.

Nesse sentido de sentimento de impotência você ou eu, ficamos receosos até para tomar uma cerveja na praça, ir na praia e tomar um bronze, ir no forró e dançar, ficamos receosos até para dar para se posicionar politicamente.

Com um cenário de golpe desde 2016, não sabemos do futuro, a Educação que tem que “transformar, emocionar e revolucionar “ (H.G.L) não sei se estamos fazendo essas três coisas com essa reforma do ensino médio e retiradas de disciplinas que fazem professor (a) e estudante refletir, perceber e intervir na realidade em que cada um está inserido.


Além de todas essas bads, e extremas bads ainda temos que nos preocupar com a nossa própria situação de vida. Temos que estudar (alguns (as)) trabalhar (todos (as)) e aguentar as pressões que sempre acontecem seja da família, dos amigos (as), da vida, e até de você mesmo.

É triste você ver “pessoas” comemorando a morte de Marielle, ver comentários machistas e racistas nas redes anti-sociais. “Bem feito”, “comunista tem que morrer mesmo”, “ uma neguinha a menos “.

Eu no ônibus vejo 3 caras e 1 mulher, todos subiram em pontos diferentes, a mulher sem grana pulou a passagem, os outros 3 homens pularam também. Quase todos vendendo seus bombons e salgadinhos trabalhadores, esse que sobrou não tinha nada e sentou no meu lado e falou mais ou menos assim:

“Jovem eu não sou ladrão, sei que todos que estão aqui tem medo de mim. Ora! Nego ta sujo descalço, querendo só ir pra casa, meus pais tão lá em cima, mal posso esperar pra ver eles.”

Fiquei sem palavras sem reação. Parece que o tempo parou e me veio a mente tudo que já aconteceu comigo, coisas boas, ruins, sorrisos e choros. Depois de uns segundos falei:

“Cara a gente pode ter nossas realidades distintas, e tudo. Mas uma coisa tem que nos unir. Ta vendo essas outra pessoa que também pularam a catraca e nós dois temos em comum? Nós quatro pulamos a catraca e somos negros.”

E lhe dei um abraço.

Acho que esse foi um dos abraços mais sinceros que eu já recebi nessa vida. Eu para retribuir o abraço dei minha merenda simples: um pão para ambos ficarem de boas. Ele pegou e falou.

“Não cara, fique alguém tem que sobreviver e lutar pela gente”

E ele desceu.

Não sei se vou ver esse mano novamente, não sei como ele vai dormir, nem sei se ele está Vivo nesse momento. Mas foi impressionante como eu precisava dessa conversa. Por um momento um breve momento me sentir vivo.

Em épocas de crise, e fim de trajetórias e mudanças de planos algo sempre vem pra mostrar que você tá e tem que lutar por aquilo que você acredita.


Hasta lá victoria siempre!

Diego Costa Lima



Foto: Bruna Freitas