quarta-feira, 15 de junho de 2016

Memórias


As vezes vem umas lembranças do meu ensino fundamental 2002, piadas, risos e apelidos que eu recebia na nessa época, ainda estão na minha mente, mas né o que se espera de uma sala de aula embranquecida com menos de sua metade ser feita de negros.

O que me entristecia era os manos fazendo a mesma prática. Uma tarde a professora de português chamou dois alunos pra irem na biblioteca pegar uns livros pra aula, já que naquela época não se tinha livros pra todo as turmas de 5º serie, trouxe cerca de 10 livros perto da sala, meu amigo também trouxe mais 10. No fim da aula a professora pede pra nós irmos deixar os livros novamente. O sinal do recreio toca, os meus livros caem no chão, ouço risos e cochichos, lembro como se fosse hoje das frases: “tão magro que nem pode com os livros”, “negro é osso”. Na fila da merenda mais frases: "deixa ele passar o neguinho ai precisa ficar forte” e mais risos, eu até tentava levar na esportiva, mas a quem eu quero enganar. O recreio naquele dia foi um tormento, 20 minutos que pareciam 20 anos. No dia seguinte pensava que tudo ia ficar de boas, mas não! Vinha mais e com apelidos (desculpem, mas não vou dizer).

 E o que dizer da questão da aparência então? Quase todo dia a galera falava uma coisa, falavam outra e a semana que seguia, sempre martelando as mesmas coisas: “ah nunca vai arrumar ninguém’’, “ negro, feio e pobre, já sabe teu futuro né”. Resultado disto tudo? Passei dois meses sem ir a Escola, meus pais não sabiam, nem meus professores, ninguém, somente eu. Por sorte não fui reprovado, tive que voltar a escola como se nada tivesse acontecido, voltei conversei com a professora de Português junto com meus pais, me perguntaram o que aconteceu.. meus pais incrédulos sem saber o tava acontecendo... “Diego o que houve você faltou 2 meses”.
Dei uma pausa...(...)...
Inventei uma historia.
Fiquei nessa escola até o final no ensino fundamental, hoje 9º, sai da escola Raimundo Moura Mattos.

No médio as coisas foram um pouco diferentes. Mudei de escola, foi pra bem longe, fui pro Adauto Bezerra, por algum motivo essas coisas não me afetavam mais, e quem diria consegui até namorar (kkkkkk), mas não era um mar de rosas, sempre tinha as piadinhas racistas e preconceituosas pelos corredores, e eu? Bem, eu aguentava tudo sozinho sem demonstrar fraqueza. Sabe quando parou? Foi quando eu entrei em um grupo de estudos chamado G.E.M.A., lá vi a pluralidade de pessoas iguais a mim, a você, a todos, pretas, brancas, amarelas, vermelhas, um arco iris de pessoas, homens e mulheres que lutam até hoje (quero acreditar que são todos) contra o racismo, machismo, homofobia e outras mazelas que existem.

Hoje eu to na Universidade Estadual do Ceará – UECE, cursando Geografia Licenciatura, faço parte de grupos dentro desse espaço, centro acadêmico e o Levante. Sei que estamos muito longe de acabar com essas mazelas, mas não vou me esconder.
Pra muitos podem parecer uma coisa normal, “ah Diego supera isso é coisa de escola mesmo”.  

Época de escola que eu levo pra toda vida.
Por Diego


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