Esse
ano de 2016 entra na lista dos anos mais conturbados e movimentados que já
vivi. Se tivesse que resumir em duas palavras escolheria “ocupação” e “leitura”.
Entre coisas boas e ruins, fica o julgamento dessas coisas ao individual, quem
viveu com intensidade esse ano teve que utilizar de bastante ocupação e muita
leitura.
De 2015 até
hoje podemos acompanhar no país os movimentos de ocupações por secundaristas e
discentes universitários que transformaram suas escolas, colégios, faculdades e
universidades em novos espaços para formação. Em luta contra reorganização das
escolas em São Paulo, reformulação do Ensino Médio, PEC 241/55 (PEC do teto de
gastos públicos), Governo (fora) Temer e outras pautas pertinentes as
necessidades de cada local, os diversos grupos de ocupações mostraram sua força
e iniciaram perturbações que trarão transformações nos próximos anos.
Para quem se
prende em competição e acredita que tudo não passa de ganhar ou perder, vai
dizer que quem lutou esse ano perdeu, contudo ignora a capacidade
transformadora de interações em grupo. Interações que aconteceram em grupo e
foram construídas em grupo, ou seja, sem ler teorias sobre trabalho em grupo ou
cooperação esses grupos colocaram em prática o que é defendido e orientado por
diversas pessoas da área da educação e formação, em especial a Aprendizagem
Cooperativa.
Isso só foi possível,
porque as pessoas começaram a fazer leitura sobre os contextos que estavam
cercando e nessas leituras faziam ponderações sobre cenários que estavam por
vir. Em outras palavras, não foi uma leitura direta de livros, mas uma leitura
de palavras que estavam aí espalhadas e conectadas ao redor. Claro que muita
gente fez leitura de livros, artigos e, não podia faltar, a leitura dos
projetos de lei que estávamos questionando. Entretanto saber ler as entrelinhas
das situações é um exercício que muitas vezes deixamos de lado por estarmos
imersos em rotinas densas e exaustivas, mas que as ocupações trouxeram como
prioridade.
Eu também
participei de ocupações, atos e fiz minhas leituras, contudo gostaria de falar
de uma outra perspectiva. Partindo de uma fala mais pontual/local/individual
ocupei outros espaços nesse ano e fiz outras leituras: ocupei as ruas e li a
cidade.
Tive como
objetivo pedalar doze rotas diferentes pela cidade de Fortaleza e nessa ideia
acabei conhecendo pontos que antes passavam despercebidos. Quanto mais eu
pedalava, mais eu conhecia Fortaleza, era como se a cidade estivesse se abrindo
para mim naquele momento e eu pudesse imergir um pouco em seu caos.
Fazendo um
exercício visual, coloquei as doze rotas em um mapa com o traçado da cidade e
coloquei ao lado do mapa com estações do Bicicletar, que é um projeto de
bicicletas compartilhadas da Prefeitura de Fortaleza, na gestão de Roberto
Claudio. Um projeto interessante para mobilidade urbana, contudo sua concentração
de estações nas áreas “nobres” de Fortaleza retira o potencial do projeto e
mostra quais são as prioridades da gestão, que foi reeleita.
Eu pedalei
mais do que essas doze rotas mostradas (bem mais), mas é evidente que possui
uma concentração em regiões que tenho maior vivência, contudo já saí da zona de
conforto para conhecer outros cantos da cidade em cima da bicicleta. Essa
experiência não teria sido possível por meio da prefeitura, que nem preciso
comentar muito sobe a concentração das estações, ou seja, nesse sentido sou um
tanto privilegiado, por ter uma bicicleta própria para conhecer a cidade e uma
história de vida que permite-me buscar isso.
Notam como o
tempo todo precisamos ocupar espaços e fazermos leituras? Até quando tentamos
partir de um ponto mais individual culminamos em um todo ao expandirmos a fala.
Esse ano não acaba na virada do ano. A passagem de ano, em essência, é mais um
dia e não colocarmos uma pedra no que se passou para começarmos do zero, porque
na prática precisaremos retomar as leituras e ocupações levando em consideração
o que vivemos e estamos vivendo.
Contudo, se
entregando a “magia” da virada de ano, que possamos buscar a proximidade que
faltou esse ano; que possamos deixarmos de ser personagens e fazermos falas e
ações que são nossas em todas as instâncias; que possamos valorizar as
construções diárias e não nos perdermos em competições, porque essa competição
vem criando a insustentabilidade desse meio que vivemos...
#ForaTemer
#OcupaTudo
Por Lucas
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