domingo, 3 de agosto de 2014

No meio do lixo


                Lixo... LIXO... MUITO LIXO... eita palavra bonita: lixo. Pelo menos eu acho legal de pronunciar essa palavra, porque seu som é um pouco diferente, mas não sei explicar (se tiver alguém dessa área que possa explicar, ficaríamos gratos). Porém é uma palavrinha que gera tanto debate e justamente porque geramos muito lixo.

                As vezes até mesmo os próprios debates sobre o lixo são um lixo... talvez até meus textos sejam um lixo as vezes, mas podemos reaproveita-lo. Sem enrolar mais do que já estou enrolando, é disso que iremos conversar um pouco.
                E por que foquei tanto em “enrolar” falando sobre lixo? Porque vivemos no meio dele e talvez nem mesmo sejamos capazes de enxergar isso, porque aos poucos vamos perdendo a habilidade de olhar para o chão e ver o rastro que deixamos e não estou exagerando.
                Poderei ser questionado com o fato de sempre meus textos estarem ligados, ou grande parte deles, com as questões ambientais e isso me faz ver o problema com olhos diferentes e não vou tirar a razão de quem questionar isso, porque sim temos que ver o problema com outros olhos.

                Contudo isso é necessário para enxergarmos a complexidade de algo que as vezes parece tão simples como o lixo que está diretamente ligado com problemas ambientais, socioeconômicos, políticos e culturais. Lixo não, resíduos sólidos... aquilo que não queremos mais e jogamos fora, porque não tem mais valor algum para nós e todo dia fazemos isso, cada um de nós, cada fortalezense e juntos produzimos 5.876,69 toneladas/dia de resíduos sólidos só em Fortaleza.
                Somos o munícipio que mais produz resíduos sólidos no Ceará e mandamos nossos resíduos para o Aterro Sanitário da Caucaia. Mais de 5 mil toneladas por dia e boa parte desse material perde quase todo o seu valor econômico, porque não teve um cuidado adequado durante o seu manejo e/ou, principalmente, seu descarte.
                Isso acontece, principalmente, porque não temos leis fortes que sejam capazes de administrar esses resíduos, porém em 2010 o, na época, presidente Lula aprovou a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) onde seu principal objetivo era acabar com os lixões, organizar a forma como tratamos os resíduos sólidos e procurar a cooperação entre os diversos setores, tanto público como privados, sempre visando a prevenção e precaução, visão sistêmica que considere as variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública e reconhecer o resíduo sólido como um bem econômico. A lei também dá um prazo de quatro anos para os municípios efetivaram a lei.

                Infelizmente nesse mês chegamos no fim do prazo e estamos longe de atingirmos o nosso objetivo, porque ainda temos 280 lixões no estado do Ceará. Só para termos uma noção melhor em números, mais ou menos, em 2010 cada fortalezense produzia em média quase um quilo de resíduos por dia, porém, hoje, produzimos em média pouco mais de 2 kg por dia, então isso motiva algumas perguntas, como por exemplo: o que levou o fortalezense a produzir mais resíduos sólidos?
                E querendo ou não temos que perguntar o que de fato está sendo feito com relação aos resíduos sólidos na nossa cidade, porque o prazo está acabando e não estamos conseguindo ver nenhum projeto que realmente traga uma solução de acordo com o que é proposto na Política Nacional de Resíduos Sólidos.
                Não temos educação ambiental de verdade e as poucas instituições que ainda lutam para desenvolver uma educação ambiental possuem diversas limitações e a educação ambiental causaria grande mudança em como descartamos os resíduos. É válido lembrar que essa educação ambiental não tem que ser dada apenas pelas instituições de ensino, porque elas precisam ser acessíveis a todos da população o que de fato não ocorre.
                Outro ponto da PNRS que poderia ser trabalhado em peso é o incentivo a cooperativa de catadores de lixo, que desculpem-me o que vou falar, fazem um serviço, em sua grande maioria, bem melhor do que os caminhões coletores, porque esses caminhões pegam todo os resíduos e misturam, então peço uma coisa a você, caro leitor e é algo que vou pedir para mim também, que quando separarmos o lixo da nossa residência darmos preferência a um catador de lixo.
                Sim... aquele cara que passa com um carrinho onde muitos de nós preferimos virar a cara do olhar para eles ou que alguns usam como exemplo de fracasso para o seu filho... aquele carinha sustenta a família dele com aquilo que você diz não ter valor, então pelo menos vamos tentar ter um pouco de bom senso e ajuda-los nesse serviço desgastante, vamos separar o lixo, porque parece que pedir para que nós reduzamos o nosso descarte ainda é algo “utópico”,  por mais que eu acredito muito que é possível.
                A todos nós fica um pedido: vamos pensar melhor naquilo que descartamos, vamos rever a nossa forma de descarte e vamos cobrar um manejo mais adequado dos resíduos.
Cavalo de Lata / Abralatas
                Aos nossos representantes fica um recado: está na hora de começarem a procurar projetos eficientes de educação ambiental e gestão de resíduos sólidos. Ainda deixo um aviso, invistam nos catadores de lixo. Um tempo atrás a Funasa estava investindo em Cooperativa Populares de Catadores e também tem o projeto Cavalo de lata que é muito interessante e que poderíamos pensar em ter por aqui.











Nenhum comentário:

Postar um comentário